E se a China se tornasse a maior referência na Cimeira do Clima que decorre por estes dias no Dubai? Embora pareça, à primeira vista, algo inverosímil, o facto é que um dos maiores poluidores do Mundo é hoje um dos mais potentes motores da revolução verde. E se desta COP28 saírem metas ambiciosas de redução de emissões, isso será sempre uma boa notícia para a economia chinesa.

Sabíamos já que são chinesas muitas das maiores empresas do Mundo nos setores tradicionais, como a construção ou ferrovia. O mesmo se passa em setores de ponta tecnológica, como o fabrico de equipamentos eletrónicos. Agora, estamos a constatar que a mesma China se está a transformar paulatinamente na líder global da chamada economia verde ou limpa, tomando posição dominante em áreas tão críticas como as energias eólica, solar e hídrica, as baterias de lítio e os carros elétricos. A revista “The Spectator” escrevia ontem que, dentro de uma década, o gigante asiático deverá possuir metade de todas as fábricas de baterias de iões de lítio na Europa. E se não quisermos fazer essa projeção no tempo, basta referir que atualmente um terço dos veículos elétricos vendidos na Grã-Bretanha são fabricados na China: um número que deverá aumentar rapidamente à medida que marcas como MG, BYD e Nio se tornam mais populares. O artigo que faz capa na revista britânica é demolidor para aqueles que defendem que a Europa poderá ter algum protagonismo na economia verde. Os exemplos acumulam-se: dos 15 maiores fabricantes mundiais de turbinas eólicas, nenhum é britânico, enquanto dez são chineses; e se no Ocidente as políticas verdes andam para a frente e para trás, no país do sol nascente tudo segue uma estratégia bem concertada.

Numa entrevista à revista “L’Express”, o diretor da Agência Internacional de Energia também exprime grande preocupação em relação a esta crescente, e irreversível, influência da China. Fatih Birol defende que a Europa precisa de um novo plano para a indústria, assente nos princípios do Green Deal da União Europeia.

Do lado dos Estados Unidos, o IRA (Inflation Reduction Act), que tinha como mote a redução da inflação, foi aproveitado para injetar nas empresas americanas volumes de ajudas massivos para a transição energética. Uma boa notícia para o ocidente, que, contudo, poderá ser ameaçada pela possibilidade de uma personagem como Donald Trump voltar à presidência e trazer com ele o seu negacionismo sobre as alterações climáticas.

QOSHE - Uma China confortável na COP28 - Felisbela Lopes
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Uma China confortável na COP28

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01.12.2023

E se a China se tornasse a maior referência na Cimeira do Clima que decorre por estes dias no Dubai? Embora pareça, à primeira vista, algo inverosímil, o facto é que um dos maiores poluidores do Mundo é hoje um dos mais potentes motores da revolução verde. E se desta COP28 saírem metas ambiciosas de redução de emissões, isso será sempre uma boa notícia para a economia chinesa.

Sabíamos já que são chinesas muitas das maiores empresas do Mundo nos setores tradicionais, como a construção ou ferrovia. O mesmo se passa em setores de ponta tecnológica, como o fabrico de equipamentos eletrónicos. Agora, estamos........

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