Em diferentes geografias, as políticas do clima estão hoje no centro de uma guerra ideológica. Reino Unido, Suécia e Países Baixos acumulam (maus) exemplos. No final do mês, a 28. Conferência das Nações Unidas sobre mudanças climáticas, que se realiza no Dubai, intensificará o agendamento do tema. E da controvérsia.

Sultan Ahmed Al Jaber: eis o nome escolhido para presidir à COP28 que tem suscitado grande atenção mediática, não só por presidir a uma das mais importantes reuniões mundiais, mas também porque dirige a Companhia Nacional de Petróleo de Abu Dhabi, uma das maiores empresas de combustíveis fósseis do Mundo, a qual, de acordo com a revista “Time”, está a investir mais de 150 mil milhões de dólares em projetos de crescimento, incluindo a expansão da produção de petróleo bruto para cinco milhões de barris por dia até 2030. À partida, este CV impõe-nos reservas, mas Al Jaber tem tornado clara a sua posição, defendendo que “o processo político precisa de ser bem complementado com capital privado e uma mentalidade empresarial”, na medida em que o Mundo não está pronto para abandonar completamente o gás e o petróleo.

Por enquanto, avançou-se no compromisso em triplicar a capacidade da energia renovável, mas pouco se fez para um acordo de redução dos combustíveis fósseis. Al Jaber tem promovido várias reuniões, mas, nesta sua cruzada, tem encontrado muitos céticos em relação a si. Mais de cem membros do Parlamento Europeu e do Congresso dos EUA já pediram que renunciasse ao cargo e muitos são aqueles que o criticam no espaço público (mediático). Em grande destaque na revista “Time”, o líder da COP28 parece, no entanto, ter conquistado Justin Worland, o jornalista americano que viajou para o Dubai para perceber quem é esta figura: “Apesar de toda a estranheza da sua posição, considero-o consistente”, escreve no final do extenso texto.

Nestes dias prévios à COP28, assistimos a várias contradições no que diz respeito à ação climática. Teoricamente preocupamo-nos com o clima, mas não queremos mudar o nosso estilo de vida e isso vai contaminando as políticas governamentais. No Reino Unido, o PM britânico apresenta-se agora como um fervoroso defensor dos automobilistas e das explorações petrolíferas no mar do Norte; na Suécia, país modelo na energia eólica, há um movimento massivo contra a produção dessa forma de energia; nos Países Baixos, o Movimento dos Cidadãos Agricultores, que tem na oposição às políticas verdes um dos seus eixos de ação, foi um dos grandes vencedores das eleições regionais; e dos EUA teme-se o pior nos programas eleitorais em 2024... Para além de incompreensível, esta hostilidade à descarbonização do planeta suscita riscos de escala imprevisível.

QOSHE - As contradições no combate às alterações climáticas - Felisbela Lopes
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As contradições no combate às alterações climáticas

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17.11.2023

Em diferentes geografias, as políticas do clima estão hoje no centro de uma guerra ideológica. Reino Unido, Suécia e Países Baixos acumulam (maus) exemplos. No final do mês, a 28. Conferência das Nações Unidas sobre mudanças climáticas, que se realiza no Dubai, intensificará o agendamento do tema. E da controvérsia.

Sultan Ahmed Al Jaber: eis o nome escolhido para presidir à COP28 que tem suscitado grande atenção mediática, não só por presidir a uma das mais importantes reuniões mundiais, mas também porque dirige a Companhia Nacional de Petróleo de Abu Dhabi, uma das maiores empresas de combustíveis fósseis do Mundo, a qual, de acordo com a revista “Time”, está a........

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