Os meios de Comunicação Social sempre foram importantes em contextos eleitorais. Desta vez, para além de marcarem a agenda e ampliarem as candidaturas, estão a criar quadros de perceção que podem condicionar as escolhas de 10 de março. Isto acontece porque os painéis de comentadores alargaram-se e neles se integraram abundantemente jornalistas e académicos a cujo trabalho reconhecemos distanciamento crítico.

Para agilizar tempos de programação e a atenção dos eleitores, os debates encurtaram-se. Em contrapartida, o espaço de comentário aumentou desmesuradamente. Fazem-se incontáveis antevisões dos duelos e, depois desses frente a frente de registo bélico, avalia-se durante longas horas o desempenho de cada candidato. Nestes novos formatos de análise, os partidos perderam protagonismo. Os média preferem ceder esse lugar a outros atores sociais. E isso comporta riscos.

Treinados no rigor do relato e na profundidade da investigação, jornalistas e académicos têm procurado evidenciar algum distanciamento quando são interpelados a comentar um debate. No entanto, tendo em conta a extensão dessa análise e o envolvimento com outros convidados nas mesmas funções, é impossível evitar sucessivos juízos de valor e é, através deles, que cada um dos comentadores vai fazendo sobressair as suas preferências. Esta tendência acentuou-se agora com as classificações atribuídas a cada candidato nos sucessivos debates.

Tendo na imparcialidade um valor estruturante do seu trabalho, jornalistas e académicos têm ido além daquilo que eventualmente seria a sua vontade. Todavia, temos de reconhecer que um ou outro vão aproveitado esta ambiência para extravasar o que lhes é pedido. Num dos debates, encontrei uma jornalista chocada com aquilo que ouvia de um colega seu. Esse envolvimento não assumido com determinado candidato por parte destes profissionais é perigoso, porque é feito sob um discurso que se apresenta como rigoroso, neutral e isento. E, por vezes, nada disso está presente naquilo que vai sendo dito por alguns desses comentadores que vão ao ponto de proferir frases que não seriam pronunciadas em público pelos próprios elementos de determinada candidatura.

Estamos, pois, num outro patamar da mediatização da campanha eleitoral. Não são apenas as redes sociais que introduzem novidades. Este ano, há um conjunto alargado de comentadores que se posiciona implicitamente ao lado de determinado candidato. Não o diz implicitamente, mas os argumentos não são inócuos. E essa influência pode ser determinante, sobretudo em eleitores mais indecisos.

QOSHE - A influência dos comentadores - Felisbela Lopes
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A influência dos comentadores

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23.02.2024

Os meios de Comunicação Social sempre foram importantes em contextos eleitorais. Desta vez, para além de marcarem a agenda e ampliarem as candidaturas, estão a criar quadros de perceção que podem condicionar as escolhas de 10 de março. Isto acontece porque os painéis de comentadores alargaram-se e neles se integraram abundantemente jornalistas e académicos a cujo trabalho reconhecemos distanciamento crítico.

Para agilizar tempos de programação e a atenção dos eleitores, os debates encurtaram-se. Em contrapartida, o espaço de comentário aumentou desmesuradamente. Fazem-se incontáveis antevisões dos duelos e, depois desses frente a........

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