Não será simples ao próximo Governo devolver aos professores 6 anos, 6 meses e 23 dias de tempo de serviço, dado o impacto orçamental que isso provoca. Os líderes do PS e do PSD já avançaram promessas nesse sentido e isso comporta grandes responsabilidades. Depois de um extenso período pandémico que prejudicou enormemente as aprendizagens, a escola, sobretudo a pública, continua em crise. E isso compromete, de modo irreversível, as gerações mais novas.

Os alunos vivem tempos instáveis, marcados pelos canais digitais, que ora ajudam ora dispersam; pela luta dos professores; e pela clássica tensão entre as mudanças da sociedade e as respostas da escola. Todavia, continuam a encontrar no professor o ponto nevrálgico da sala de aula, uma referência que nunca é neutra. Por isso, é fundamental que a classe docente esteja motivada a envolver-se ativamente com as turmas e com a escola. Não é isso que tem acontecido.

Depois de um longo período pandémico em que houve grandes atrasos na aprendizagem em determinadas escolas, seguiu-se um tempo de grande instabilidade resultado de sucessivas greves dos professores que continuam a reivindicar a reposição do tempo de serviço perdido. Quem está hoje no último ano do Ensino Secundário, percorreu todo esse nível em que as notas são ponderadas para escolha de um curso universitário sob uma permanente turbulência. O mesmo se passa com quem está, por exemplo, no último ano do segundo ciclo. Esses alunos encontravam-se no 2.o ano, ou seja, a aprender os fundamentos das disciplinas nucleares, quando a pandemia suspendeu as aulas presenciais. Desde ali, nunca mais encontraram a escola pública a funcionar normalmente.

O caderno de encargos para 2024, em matéria de educação, reclama uma ação responsável, precisa e generosa das duas classes de atores que relevam: governantes e professores. Dos primeiros, incluindo os novos ministros da Educação e das Finanças, espera-se um plano progressivo e sustentável de valorização dos professores, sem, contudo, abrir uma caixa de Pandora que, se alargada a toda a Função Pública, faria implodir o sistema. De um lado existem as reivindicações legítimas e do outro o espetro de possibilidades orçamentais. É nesse espaço de concertação racional que estará o ponto de equilíbrio, não nas posições extremas e rígidas.

Dos professores, espera-se um regresso aos quartéis, isto é, às salas de aula, reservando as suas energias para a nobre função da profissão que abraçaram. A notória degradação das aprendizagens tem de ser travada e, para isso, é preciso devolver à escola a tranquilidade, sob pena de estarmos a condenar toda uma geração.

Um excelente ano!

QOSHE - A escola reclama normalidade - Felisbela Lopes
menu_open
Columnists Actual . Favourites . Archive
We use cookies to provide some features and experiences in QOSHE

More information  .  Close
Aa Aa Aa
- A +

A escola reclama normalidade

6 1
29.12.2023

Não será simples ao próximo Governo devolver aos professores 6 anos, 6 meses e 23 dias de tempo de serviço, dado o impacto orçamental que isso provoca. Os líderes do PS e do PSD já avançaram promessas nesse sentido e isso comporta grandes responsabilidades. Depois de um extenso período pandémico que prejudicou enormemente as aprendizagens, a escola, sobretudo a pública, continua em crise. E isso compromete, de modo irreversível, as gerações mais novas.

Os alunos vivem tempos instáveis, marcados pelos canais digitais, que ora ajudam ora dispersam; pela luta dos professores; e pela clássica tensão entre as mudanças da sociedade e as respostas da escola.........

© Jornal de Notícias


Get it on Google Play