O Ganês, como a maioria dos Africanos, tem uma forma diferente de lidar com a morte. Bem sei que é uma generalização, talvez um bocadinho primária, mas a frase anterior baseia-se apenas na minha experiência pessoal.
Já vivenciei diversos episódios relacionados com a morte em África. Refiro-me a mortes por causas não naturais, sejam elas consequência de falta de cuidados médicos próximos ou de acidentes de viação ou pelas já mais que conhecidas doenças tropicais, malária, cólera, febre amarela, etc. Normalmente, as pessoas diretamente afetadas por essas mortes, fossem elas de familiares ou de amigos, aceitam, resignadas, essa fatalidade. Como se estivesse escrito no destino ou se fosse a vontade do seu Deus. Por norma, os Africanos encaram a morte de uma forma muito natural. Talvez porque seja familiar. É um acontecimento demasiado presente na vida dos Africanos. Morre-se demais em Africa. Este facto faz com que se viva com mais consciência da nossa própria mortalidade, e de quão efémera é a vida. Viver numa sociedade em que essa consciência é tao presente é viver numa sociedade mais alegre, por mais paradoxal que possa parecer. A incerteza de que um infortúnio nos possa levar deste mundo a qualquer instante é o motor para se celebrar a vida como se fosse (quase) o último dia.
Quando alguém é promovido no seu trabalho, organiza uma festa para celebrar. As festas de aniversário e as reuniões familiares são constantes e prolongam-se bastante. Nunca falta a música. Sempre com o volume bastante alto e onde se dança muito e se fala pouco.
Quando comparada com as sociedades do primeiro mundo, em África, há mais alegria, mais música, mais dança , mais celebração, enfim, mais festa, quando deveria ser precisamente o contrário porque no primeiro mundo tem-se tudo. Ou quase tudo. Mas alguma coisa falta, porque na Europa há mais má disposição e vêem-se mais semblantes carregados do que aqui em África.

QOSHE - A Morte e a Alegria entraram num Continente - Opinião De João Quaresma
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A Morte e a Alegria entraram num Continente

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27.09.2022

O Ganês, como a maioria dos Africanos, tem uma forma diferente de lidar com a morte. Bem sei que é uma generalização, talvez um bocadinho primária, mas a frase anterior baseia-se apenas na minha experiência pessoal.
Já vivenciei diversos episódios relacionados com a morte em África. Refiro-me a mortes por causas não naturais, sejam elas consequência de falta de cuidados médicos próximos ou de acidentes de viação ou pelas já mais que conhecidas doenças........

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