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O que deixaremos aos nossos filhos e netos? Não estou pensando em heranças como casas, terras ou qualquer tipo de propriedade ou valor econômico.

Estou pensando em outras dimensões, como liberdade, meio ambiente, Saúde, Segurança, e qualidade de vida. Enfim, que mundo legaremos a eles.

Nossa capacidade de criar tecnologia é fantástica. E de incorporá-la ao nosso dia a dia também. Graças a ela nossa expectativa média de vidas ente 1940 e 2020 (80 anos) cresceu 30 anos! Os conhecimentos da medicina evoluem rapidamente e trazem como efeito a melhoria da qualidade de vida.

Quando ingressei no ensino técnico profissionalizante no final dos anos 70, estávamos em plena transição da régua de cálculo para a calculadora cientifica. Era maravilhoso tocar numa tecla para saber o x2 ou o 1/x , hoje os alunos usam notebooks, com inteligência artificial. A capacidade computacional de um telefone celular é maior do que toda a utilizada na Apolo 11, que levou o homem à lua.

Nesses pontos o legado é muito positivo. Mas em Meio Ambiente é desastroso. Estamos perdendo a batalha contra o aquecimento global, as temperaturas no planeta estão mais intensas. Nosso legado será de um mundo muito mais difícil de ser habitado.

Nossa capacidade de intervir individualmente sobre estes aspectos é muito limitada. Conta mais a articulação coletiva, através de partidos políticos. E nesse ponto houve avanços, mas há muito a fazer (https://www.idea.int/publications/catalogue/global-state-democracy-2023-new-checks-and-balances). Ainda estamos longe de ter os níveis de democracia que desejamos, mas avançamos alguns passos. O Brasil, ao resistir a tentativa de golpe de Estado de Jan/2022, exemplifica esse quadro.

Mas existe um item perturbador: A Segurança Pública. Vários países enfrentam situações complexas, adotando opções muito mais baseadas em crenças do que em fatos. Mas os resultados do Brasil estão entre os piores. Somos herdeiros de um passado racista e escravocrata e vivemos numa luta constante contra as drogas e a corrupção em todos os níveis.

Os índices de mortes aqui são maiores e mais persistentes do que várias regiões em guerra.

É esse o legado mais evidente, a violência que fingimos não ver?

Sou da geração que viu as radiopatrulhas (baratinhas) se transformarem nas viaturas (c-14 veraneio), que passou a trancar janelas e portas à noite. Num dia qualquer trocamos o muro da rua por uma muralha E não tanto tempo depois, aprendi a ativar o alarme. Isso foi quando mudamos para o condomínio fechado. Depois tivemos carros blindados, cercas elétricas e o famigerado reconhecimento facial.

Tudo isso não lhes trouxe a sensação de segurança que buscavam, e alguns decidiram mudar de país. Mas foram rejeitados estão voltando raivosos. Seu dinheiro não comprou a segurança.

O que a próxima geração terá que fazer para fingir estar segura? Ou, o que posso fazer para que meu legado não seja esse campo de batalha?

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