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A voz de Lupicínio era macia, sedosa, levemente anasalada. Um estilo que vinha de Mário Reis e iria se estender por João Gilberto e Caetano Veloso. Para mim, essa foi a mais gostosa revelação desse documentário de estreia do professor e gestor Alfredo Manevy na direção. Outra boa descoberta foi o jeito despretensioso com que Lupi encarava a carreira e o sucesso, como se estivesse sempre à beira de uma mesa de bar na sua Porto Alegre natal.

Nem a indicação de Se Acaso Você Chegasse ao Oscar como parte da trilha de Dançarina Loura, em 1945, o tirou da singeleza. Mesmo porque só foi receber os direitos muitos anos depois.

Por meio de materiais de arquivo e algumas poucas filmagens recentes, Lupicínio Rodrigues: Confissões de um Sedutor traça o perfil do compositor que melhor personificou a tal dor de cotovelo (hoje em dia chamada de sofrença) na música brasileira. Ele mesmo, em depoimento ao Museu da Imagem e do Som e em programas de TV, conta a gênese de algumas letras, retiradas dos “precipícios da vida”, principalmente amorosos. Num tempo em que os homens pouco se importavam com a pecha de machistas, Lupi driblou amores, acumulou romances paralelos, levou rasteiras e cantou a traição, o abandono, a vingança e o perdão. Zuza Homem de Mello preferiu apontá-lo como menestrel da “cornitude”.

Da infância no “Bairro da Enchente” de Porto Alegre ao êxito no Rio e em São Paulo, lançado inicialmene por Ciro Monteiro, Manevy percorre o que mais interessa: a fase de vendedor de sambas no mercado negro (bem ilustrada por cenas de Grande Otelo em Rio Zona Norte), a vida amorosa agitada, o enfrentamento do racismo, o apreço de cantores como Elza Soares, João Gilberto, Caetano, Gil e Jamelão.

Que um compositor negro tenha chegado onde ele chegou no Rio Grande do Sul de meados do século XX não é pouca façanha. O documentário aborda lateralmente a situação dos negros naquela cidade, progressivamente removidos para longe do centro.

O roteiro nem sempre avança suavemente como a voz de Lupi. Os arquivos às vezes ocupam mais tempo de tela do que o recomendável, sem nexo forte com o que está sendo referido. Também a iluminação das entrevistas recentes parece pouco cuidada. A reunião da família Rodrigues no final tampouco rende o que se poderia esperar. Mas é a singularidade de Lupicínio como músico e como personagem o que mais aparece – e cativa.

>> Lupicínio Rodrigues: Confissões de um Sofredor está nos cinemas.

O trailer:

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QOSHE - Cinema: Lupicínio e os precipícios de uma vida - Carlos Alberto Mattos
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Cinema: Lupicínio e os precipícios de uma vida

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18.03.2024

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A voz de Lupicínio era macia, sedosa, levemente anasalada. Um estilo que vinha de Mário Reis e iria se estender por João Gilberto e Caetano Veloso. Para mim, essa foi a mais gostosa revelação desse documentário de estreia do professor e gestor Alfredo Manevy na direção. Outra boa descoberta foi o jeito despretensioso com que Lupi encarava a carreira e o sucesso, como se estivesse sempre à beira de uma mesa de bar na sua Porto Alegre natal.

Nem a indicação de Se Acaso Você Chegasse ao Oscar como parte da trilha de Dançarina Loura, em 1945, o tirou da singeleza. Mesmo porque só........

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