O Partido Socialista, por várias vezes, proclamou-se como o partido da “paz social”. António Costa chegou a dizer que o País só conseguiria ter paz social se fosse o PS a governar.

Trago aqui o excerto de um “artigo” publicado na área de “notícias” do site do PS (07/07/2016), que demonstra essa arrogância.

Depois de garantir que o Governo que lidera tem cumprido com o compromisso de ultrapassar o “permanente sobressalto em que o nosso país vivia”, construindo um “clima de paz social e de normalidade institucional”, António Costa foi mais longe e garantiu que Portugal é hoje um país em que, ao contrário do que sucedeu ao longo dos quatro anos e meio em que a direita governou, os órgãos de soberania “passaram a cooperar na defesa do interesse nacional”, um país, acrescentou, onde hoje é possível “construir compromissos entre o Governo, o Presidente da República e a Assembleia da República”.

Sendo hoje inegável que não existe em Portugal a paz social que o PS afirmava haver em 2016, nem a normalidade institucional que uma maioria absoluta preveria, cumpre ao primeiro-ministro reconhecer que o seu castelo de cartas descambou.

Manifestações, greves ou protestos internos de polícias, professores, médicos, ferroviários, funcionários judiciais e tantos outros trabalhadores do Estado. E quase sempre por mais do que salários. Sim, os salários importam, mas também pesa na qualidade de vida e no bem-estar profissional daqueles que nos servem o miserável estado em que os serviços públicos ficaram com este governo socialista – e aparentemente apenas para dizer que não são só os governos PSD/CDS que respeitam as contas públicas. Sim, esses governos respeitam as contas públicas, mas não à custa dos serviços públicos.

E quanto aos compromissos que Costa afirmava, em 2016, que se podiam “construir” entre o Governo, a AR e o Presidente da República? Onde vão esses tempos?

Portanto, todo o citado parágrafo da “notícia” de 07/07/2016 do site do Partido Socialista parece presentemente uma anedota. Se em 2016 a “paz social” de que Costa se arrogava parecia falsa, hoje o combate social é bem verdadeiro. A disputa e a fragmentação são uma constante que já ultrapassa a relação entre o Governo e os funcionários públicos.

Há mesmo indícios de uma polarização social, promovida pelo novo socialismo. Pelo socialismo vermelho e wokista, tão caraterístico das vanguardas do amanhã, percursoras de um futuro revolucionário que pouco ou nada deu de bom ao mundo.

Há muito tempo que o País não estava tão crispado, com uma fricção perigosa em muitas das áreas mais relevantes: saúde, habitação, educação. Seria útil até à democracia portuguesa o regresso de uma esquerda política orientada para as verdadeiras questões de classe.

Eventualmente não se deixaria há nova Aliança Democrática – a única força política capaz de uma visão reformista – a questão que deveria mobilizar os vários quadrantes políticos: quem é que sofre com a destruição do Estado Social? Quem não tem dinheiro para um seguro privado de saúde, para pagar o ensino privado para os matricular no privado. Cá está a mais grave das polarizações: a que o dinheiro estabelece e que o Estado não equilibra.

Para além dessa polarização, estamos a caminhar para um país efetivamente dividido pela agenda woke. Quando os serviços de obstetrícia são uma verdadeira roleta russa, pode parecer uma ninharia falarmos de casas de banho partilhadas por meninas e por rapazes que se dizem identificar como meninas. Mas é o género de polarização ideológica que pode levar ao ativismo extremista. Que ninguém quer, para que todos alertam, mas que os socialistas e bloquistas usam por motivos estratégicos.

Os mais violentos ativistas do clima, da identidade, da ocupação na habitação querem normalizar em Portugal o tipo de violência que vemos nas universidades americanas. O Costismo e o Pedronunismo (porque a estratégia é a mesma) nunca quiseram pôr termo à polarização que existe entre os moderados e os extremistas. Antes, dão-lhe força, achando que com isso seguram os votos do centro.

A 28/09/2017, na mesma área de “notícias” do site do Partido Socialista, lia-se o seguinte:

A Secretária-geral adjunta do PS, Ana Catarina Mendes, sustentou que o Partido Socialista é hoje a referência de estabilidade política e da paz social que o país vive, demostrando que era possível prosseguir uma política diferente, depois de uma governação de direita que “falhou” com as pessoas.

Visto que, como aqui exponho, a estabilidade política e a paz social é inexistente, então quem falhou foi o PS.

É a vez de a AD estabilizar Portugal, pondo os serviços públicos a funcionar, a igualdade de oportunidades a regressar e a retornar a sensatez na relação entre todos. Como sempre fez.

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Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a VISÃO nem espelham o seu posicionamento editorial.

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Costismo e Pedronunismo: da falsa paz ao verdadeiro combate

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12.01.2024

O Partido Socialista, por várias vezes, proclamou-se como o partido da “paz social”. António Costa chegou a dizer que o País só conseguiria ter paz social se fosse o PS a governar.

Trago aqui o excerto de um “artigo” publicado na área de “notícias” do site do PS (07/07/2016), que demonstra essa arrogância.

Depois de garantir que o Governo que lidera tem cumprido com o compromisso de ultrapassar o “permanente sobressalto em que o nosso país vivia”, construindo um “clima de paz social e de normalidade institucional”, António Costa foi mais longe e garantiu que Portugal é hoje um país em que, ao contrário do que sucedeu ao longo dos quatro anos e meio em que a direita governou, os órgãos de soberania “passaram a cooperar na defesa do interesse nacional”, um país, acrescentou, onde hoje é possível “construir compromissos entre o Governo, o Presidente da República e a Assembleia da República”.

Sendo hoje inegável que não existe em Portugal a paz social que o PS afirmava haver em 2016, nem a normalidade institucional que uma maioria absoluta preveria, cumpre ao primeiro-ministro reconhecer que o seu castelo de cartas descambou.

Manifestações, greves ou protestos internos de polícias, professores, médicos, ferroviários, funcionários judiciais e tantos outros........

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