O trauma produzido pelo realinhamento político da centro-direita em torno da liderança extremista de Jair Bolsonaro hoje induz mais de um analista a encarar os resultados das sondagens, quaisquer que forem, pelas embaçadas lentes da polarização política.

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Segundo esse enfoque, tanto a amplíssima coalizão que sustenta o governo Lula quanto a oposição bolsonarista, tidas como radicais em igual medida, aprisionaram os brasileiros em dois polos irredutíveis. A tese fraqueja diante de um governo moderado a ponto de ter José Mucio Monteiro Filho (PRD-PE) e André Fufuca (PP-MA) entre seus ministros e Rodrigo Pacheco (PSD-MG) entre seus aliados.

Eis por que a ideia da polarização serve antes para confundir do que para esclarecer. Basta ler as interpretações das primeiras enquetes sobre a competição pelas prefeituras.

Na primeira pesquisa Datafolha, há pouco divulgada, em São Paulo Guilherme Boulos (PSOL) e Ricardo Nunes (MDB) aparecem praticamente empatados, com cerca de 30% das preferências. O resultado atestaria a permanência da suposta polarização nacional, fruto do empenho do presidente Lula e do antecessor Bolsonaro em medir forças no território paulistano.

Levantamentos de opinião mostram a preferência revelada por este ou aquele candidato. Como os próprios números das urnas, não dão a conhecer as razões da escolha feita pelos eleitores, um a um —se votou comparando o desempenho dos candidatos; se foi influenciado pelo líder político em quem confia; pelos colegas de trabalho; pela família; pelo pastor da igreja que frequenta.

O Datafolha mostra de fato uma opção precoce pelos dois contendores. No passado, isso ocorria mais perto do dia do voto. Agora, o resultado pode se dever tanto à influência dos seus padrinhos nacionais ou, mais provavelmente, à circunstância de serem mais conhecidos do público, levado a decidir entre Nunes e Boulos já em 2022.

De fato, a permanecerem eles favoritos, terá se confirmado o enraizado padrão de competição municipal que desde 1985 opõe centro-esquerda a alguma expressão da direita. A partir de 1988, o PT ocupou aquele nicho, enquanto seus opositores eram conservadores de diferentes estirpes. Jânio Quadros, em 1985, e Paulo Maluf, de 1988 a 2000, deram clara feição populista à direita. A partir de então, o espaço do antipetismo foi ocupado por candidatos de centro-direita do PSDB ou MDB que herdaram os eleitores malufistas ao tempo em que incorporavam temas caros ao populismo reacionário.

Talvez esta seja só mais uma encenação de peça de há muito em cartaz na metrópole paulista.

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Nem tudo é polarização

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14.03.2024

O trauma produzido pelo realinhamento político da centro-direita em torno da liderança extremista de Jair Bolsonaro hoje induz mais de um analista a encarar os resultados das sondagens, quaisquer que forem, pelas embaçadas lentes da polarização política.

Discussões, notícias e reflexões pensadas para mulheres

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Segundo esse enfoque, tanto a amplíssima coalizão que sustenta o governo Lula quanto a oposição bolsonarista, tidas como radicais em igual medida, aprisionaram os brasileiros em dois polos irredutíveis. A tese fraqueja diante de um governo moderado a ponto de ter José Mucio Monteiro Filho (PRD-PE) e André Fufuca (PP-MA) entre seus ministros e Rodrigo Pacheco (PSD-MG) entre seus aliados.

Eis por que a ideia da polarização serve antes para confundir do que para esclarecer. Basta ler as interpretações das primeiras enquetes sobre a competição pelas prefeituras.

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