O congresso do PSD, em Almada, foi como se esperava um momento de mobilização interna para lançar a campanha eleitoral para as legislativas antecipadas de 10 de Março. Houve fome de poder, apelos à necessidade do PSD ganhar as eleições, nas intervenções de dirigentes. Houve apelos à união interna, expressos, por exemplo, por Salvador Malheiro, ex-vice-presidente de Rui Rio.

Assistiu-se aos discursos de ex-governantes do PSD, como Nuno Morais Sarmento, José Luís Arnaut e José Pedro Aguiar Branco. Além, claro, de Carlos Moedas, o “herói” da conquista da Câmara de Lisboa. No encerramento, compareceu Leonor Beleza. E até a ex-líder Manuela Ferreira Leite esteve presente e foi fortemente ovacionada. Tendo os delegados atingido o clímax quando entrou na sala o ex-líder Aníbal Cavaco Silva.

O congresso foi um comício de arranque de campanha mais forte do que se esperava. Mas, neste aspecto, houve uma novidade. Luís Montenegro estreou uma nova estratégia discursiva de campanha eleitoral: insistir em que o PSD é o partido da “moderação”, em comparação com o PS que tratou de caracterizar como radical. Uma estratégia que comporta um dos dois riscos que Luís Montenegro corre.

Usando a referência de 25 de Novembro, Luís Montenegro tratou de fazer a comparação do primeiro governo de António Costa com o gonçalvismo e de considerar Pedro Nuno Santos como um novo “camarada Vasco”. Uma comparação exagerada e até absurda, pela diferença entre os tempos históricos e o perfil de país entre 1975 e hoje.

Há, nesta escolha de estratégia discursiva, um risco. Faltam quinze dias para as eleições directas no PS, que elegerão o novo secretário-geral que substituirá António Costa e que será candidato dos socialistas a primeiro-ministro. Luís Montenegro fechou-se num ataque violento dirigido a Pedro Nuno Santos. E se o PS eleger como líder José Luís Carneiro? Que fará Luís Montenegro com esta colagem forçada do PS ao gonçalvismo? Mais, mesmo que se confirme a anunciada vitória de Pedro Nuno Santos, não é suficiente para o PSD ganhar um discurso básico, exagerado e absurdo de ataque aos socialistas.

Luís Montenegro não deixou de estar certo quando frisou a ideia de que o PSD precisa de dar às pessoas argumentos para que “confiem” e decidam votar neste partido. Mas não basta garantir “moderação” contra o “radicalismo” que dizem existir no PS. Nem mesmo fazer um apelo aos votantes do PS, ao caracterizar “este PSD” como “uma casa segura para os não socialistas” e para os que acreditam na causa socialista”, mas “não se revêm neste gonçalvista transvestido de geringonça”. É preciso apresentar um projecto para o país no programa eleitoral.

Além de poder vir a errar no líder que o PS irá eleger a 15 e 16 de Dezembro, Luís Montenegro corre um segundo risco, o de ter de se demitir se perder eleições. Isto porque, mais uma vez, garantiu. “Só serei primeiro-ministro se ganhar as eleições.” Está obrigado a ganhar.

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PSD: uma estratégia com riscos

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26.11.2023

O congresso do PSD, em Almada, foi como se esperava um momento de mobilização interna para lançar a campanha eleitoral para as legislativas antecipadas de 10 de Março. Houve fome de poder, apelos à necessidade do PSD ganhar as eleições, nas intervenções de dirigentes. Houve apelos à união interna, expressos, por exemplo, por Salvador Malheiro, ex-vice-presidente de Rui Rio.

Assistiu-se aos discursos de ex-governantes do PSD, como Nuno Morais Sarmento, José Luís Arnaut e José Pedro Aguiar Branco. Além, claro, de Carlos Moedas, o “herói” da conquista da Câmara de Lisboa. No encerramento, compareceu Leonor Beleza. E até a ex-líder Manuela Ferreira Leite esteve presente e foi fortemente ovacionada. Tendo os delegados atingido o clímax........

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