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A da lista de clientes é um disparate

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Descobriu-se, entretanto, que para se ser candidato em democracia já não basta ter ideias, percurso ou coragem política. É agora aconselhável ( quase obrigatório) apresentar uma lista comentada de clientes, preferencialmente com notas de rodapé, declaração de intenções e, se possível, fotografias de grupo. Transparência, dizem. Higiene democrática, insistem. Chama-se a isto progresso.

A política, que durante décadas tolerou carreiras inteiras feitas de nada, resolveu de súbito tornar-se hiperexigente com quem trabalhou. O cidadão que ousou ter uma profissão antes de pensar em candidatar-se passa a ser um suspeito por definição. Advogados, consultores, gestores, médicos: todos convocados para um ritual de purificação pública, como se o simples contacto com o mundo real fosse uma forma de corrupção em estado latente.

Confunde-se deliberadamente transparência com confissão geral. Não se pedem conflitos de interesses concretos, atuais e verificáveis – isso seria demasiado sério e demasiado simples. Exige-se, em vez disso, a arqueologia moral de uma vida profissional inteira, à procura de um cliente inconveniente, de uma coincidência embaraçosa, de um pretexto para a indignação.

O mais curioso é que esta pulsão moralizadora raramente se aplica a quem nunca teve clientes, nunca prestou serviços, nunca........

© Observador