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Tudo pela noção, nada contra a noção

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05.11.2025

André Ventura disse, e repetiu, que eram necessários três Salazares para meter o país na ordem. Muita gente, à esquerda e na direita moderada, ficou chocada e indignada como se o líder do Chega tivesse ultrapassado um novo limite intolerável. Mas, na verdade, não é novidade. Ventura já tinha recuperado, em 2021, o slogan do Estado Novo “Deus, Pátria e Família”, acrescentando um quarto braço: o Trabalho. E foi sempre, propositadamente, equívoco quando confrontado com saudosismos do Estado Novo.

As provocações de Ventura são recorrentes e pretendem, acima de tudo, agitar as águas e ganhar palco mediático e mais uns minutinhos de antena. O que neste caso foi um objetivo atingido com sucesso. Isso não significa, porém, que o líder do Chega seja inimputável como se fosse um tolo e que não possa ser criticado e avaliado com os mesmos critérios de qualquer outro líder partidário. Manuel Ferreira Leite, por exemplo, foi altamente criticada quando disse, com alguma ironia à mistura, “não sei se não seria bom haver seis meses sem democracia, mete-se tudo na ordem e depois venha a democracia”.

Ventura é hoje o líder da segunda maior bancada do Parlamento, do terceiro maior partido em votos, tem eleitos por todo o país e o partido lidera três autarquias. Tem, por isso, de ser escrutinado como qualquer líder partidário. Inclusive, nos disparates que diz. E o que disse sobre Salazar foi, efetivamente, um disparate.

O líder do Chega tem dito que “não é defensor” de Salazar e, antes de invocar o nome do ditador, chegou a dizer “eu sou um democrata”. Daqui depreende-se duas coisas: Ventura não defende o salazarismo e entende que Salazar era anti-democrata. Não resistiu, no entanto, a defender o Estado Novo quando disse, na CNN no último sábado, que a “literacia de 1926 a 1950, passou 20 e tal por cento para 50%”. Um novo disparate, por omissão.

Seja comparando com 1968, quando Salazar caiu da cadeira, seja com 1974, quando o regime caiu, os dados mostram claramente que até ao 25 de Abril Portugal era dos países mais atrasados e com as maiores taxas de analfabetização........

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