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Darwin Não Mora Aqui, S.A. — Crónica Negra de Uma Empresa

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Darwin não morava mesmo ali. E não era por falta de estacionamento. Era por pura autopreservação: qualquer observador minimamente racional fugiria à primeira reunião de alinhamento estratégico daquela empresa.

Mas vamos começar pelo princípio. Darwin Não Mora Aqui, S.A. era uma daquelas organizações orgulhosamente medíocres, convencida de que sobrevivia graças ao seu “ADN empresarial” — como se o mercado funcionasse com sentimentalismos.

Era, de facto, uma espécie rara: não porque evoluía, mas porque teimava em não evoluir. Se fosse um animal, seria um panda sedentário com PowerPoints. Se fosse uma planta, seria uma samambaia que se recusa a apanhar sol. Mas, felizmente, era apenas uma empresa — e as empresas podem morrer sem causar danos ecológicos.

A rececionista saúda os visitantes com um sorriso treinado: “Aqui trabalhamos com excelência.” Foi a primeira mentira da manhã e eram 9h03. Darwin, que tinha observado tartarugas gigantes, aves mutantes e iguanas com capacidade de adaptação impressionante, ficaria verdadeiramente espantado. Nunca tinha visto uma espécie que confundisse sobrevivência com arrogância. Uma espécie que acreditava que existia porque sim, e que iria continuar a existir porque sempre existiu. Era cientificamente fascinante — mas também tragicómica.

Seguiu para o 3.º piso, onde o destino........

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