Pedofilia: quando o guardião é o agressor
Há momentos em que a realidade, saturada de ironia trágica, se impõe com tal força que dispensa metáforas. O caso do adjunto de uma ex-ministra da Justiça, entretanto detido por crimes de abuso sexual de crianças, é um desses momentos. Não porque seja um episódio isolado — a história ensina-nos, com persistência quase pedagógica, que não o é — mas porque encerra, num só acontecimento, um conjunto de paradoxos que deveriam inquietar qualquer consciência cívica minimamente desperta.
O escândalo não reside apenas na natureza hedionda dos crimes imputados, nem sequer no perfil público do arguido. Reside, sobretudo, na colisão simbólica entre função e conduta, entre o lugar institucional ocupado e a violação absoluta dos valores que esse lugar supostamente tutela. Quando até o adjunto da ministra da Justiça — esse espaço intermédio entre o poder político e a engrenagem técnico-administrativa do Estado — surge associado ao mais grave dos atentados contra a dignidade humana, não estamos apenas perante um crime. Estamos perante um sintoma.
A justiça portuguesa, tantas vezes celebrada no discurso oficial como pilar do Estado de direito democrático, revela aqui uma fragilidade estrutural que não pode ser ignorada. Fragilidade que não se esgota na incapacidade de prever ou impedir o comportamento criminoso de um indivíduo, mas que se estende ao modo como seleciona, escrutina e legitima aqueles que ascendem aos seus órgãos e esferas de influência. A pergunta impõe-se, ainda que incomode: que mecanismos de controlo — éticos, institucionais, culturais — falharam para que alguém com........





















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