Ser um vereador independente no Brasil, onde os Parlamentos tradicionalmente acabam atuando como extensões das prefeituras, e não como entidades de fiscalização e representação, sempre foi um desafio para mim. Se eu achava isso uma peleja, impressionante foi ver a reação quando meu colega Gilson Guimarães anunciou em plenário que tinha tomado a decisão de tomar as próprias decisões. “Cansei de estar no pacote que me colocaram”, ele bradou, num grito de independência próprio, em 1° de setembro de 2023.

Numa democracia robusta, a independência política dos legisladores é fundamental. Por que, então, um vereador negro, morador do aglomerado da Serra, surpreende tanto quando resolve atuar de forma independente? Gilson Guimarães é um vereador independente e não deve ser negociado em pacotes. Atua como líder comunitário há mais de dez anos na vila Fátima, parte do aglomerado da Serra, na região Centro-Sul de Belo Horizonte. Comigo, compartilha do gosto pela música. É um cantor dedicado. Vale pesquisar as canções que já gravou. E, acima de tudo, ele enfatiza a necessidade de representatividade e de atenção às demandas das comunidades, especialmente do aglomerado da Serra.

Ele se propôs a trabalhar em questões como a melhoria da qualidade de vida nas comunidades, focando aprimoramentos nos postos de saúde, no transporte, na coleta de lixo e no desenvolvimento de áreas esportivas. É um vereador que vive nas comunidades e que protesta contra quem aparece na favela só na época de eleição.

No Brasil, entretanto, os vereadores frequentemente enfrentam um cenário no qual a autonomia é mais teórica do que prática. Vereadores independentes, como Gilson Guimarães em Belo Horizonte, navegam nesse ambiente complexo, tentando equilibrar a representação dos interesses populares e as pressões políticas. Esse desafio reflete uma questão mais ampla sobre a necessidade de fortalecer a independência dos legislativos municipais. Somente assim, políticas públicas mais alinhadas com as reais necessidades da população podem ser efetivamente implementadas.

A autonomia política dos vereadores é crucial para garantir que as decisões tomadas no âmbito municipal reflitam genuinamente os desejos e as necessidades da comunidade, em vez de servir apenas aos interesses do Poder Executivo. Portanto, é essencial que se fomente uma cultura política que valorize e preserve a independência dos vereadores, garantindo assim uma democracia mais participativa e representativa no nível mais próximo dos cidadãos.

Apesar de fazer parte da base governista na Câmara Municipal de Belo Horizonte, Gilson Guimarães manifestou sua oposição ao processo de cassação do meu mandato. E serei eternamente grato. Sem sua posição, eu talvez não estaria mais aqui escrevendo como vereador. Ele teve a coragem que faltou a outros. Como resultado, mencionou sentir-se excluído de discussões importantes na prefeitura, enfatizando que não foi consultado sobre decisões críticas, apesar de seu apoio contínuo aos projetos do governo.

Para o prefeito Fuad Noman, não basta apenas ser base. É preciso apoiar os devaneios autocráticos de Marcelo Aro para controlar a Câmara Municipal e a prefeitura, calando a oposição. É pedir demais.

A parceria com Gilson Guimarães já está dando frutos. O esforço que tivemos para conquistar a tarifa zero nas linhas de ônibus que circulam em vilas e favelas pode ser confirmado toda vez que o meu colega me leva aos aglomerados da cidade. As reclamações sobre um serviço que não precisa apenas ser barato, mas ser de qualidade, também chegam a mim por meio dele. Quem mora nas comunidades precisa de acesso à cidade formal. A cidade só cresce quando todos crescem juntos.

Entrando neste fim de semana, chegamos ao Natal. Enquanto muitos políticos visitam comunidades apenas em períodos eleitorais, o vereador Gilson Guimarães, de Belo Horizonte, destaca-se pela sua presença constante e significativa onde mora. Nos últimos dias, foi inspirador acompanhar seu esforço para organizar ações no aglomerado da Serra para iluminar um pouco a vida de quem passa por tantos problemas.

Não é só um esforço cosmético. É a consciência de que o líder político deve estar próximo de suas bases o ano inteiro e que o morador de vilas, favelas e aglomerados merece dignidade mesmo fora do período eleitoral. Por meio do meu colega Gilson Guimarães, renascido na sua vida política, desejo um feliz Natal a todos que fazem dos ensinamentos de Jesus Cristo um meio de vida, e não apenas uma bandeira de fachada. Que Deus abençoe a todos.

QOSHE - Um artigo dedicado ao vereador Gilson Guimarães - Gabriel Azevedo
menu_open
Columnists Actual . Favourites . Archive
We use cookies to provide some features and experiences in QOSHE

More information  .  Close
Aa Aa Aa
- A +

Um artigo dedicado ao vereador Gilson Guimarães

7 0
22.12.2023

Ser um vereador independente no Brasil, onde os Parlamentos tradicionalmente acabam atuando como extensões das prefeituras, e não como entidades de fiscalização e representação, sempre foi um desafio para mim. Se eu achava isso uma peleja, impressionante foi ver a reação quando meu colega Gilson Guimarães anunciou em plenário que tinha tomado a decisão de tomar as próprias decisões. “Cansei de estar no pacote que me colocaram”, ele bradou, num grito de independência próprio, em 1° de setembro de 2023.

Numa democracia robusta, a independência política dos legisladores é fundamental. Por que, então, um vereador negro, morador do aglomerado da Serra, surpreende tanto quando resolve atuar de forma independente? Gilson Guimarães é um vereador independente e não deve ser negociado em pacotes. Atua como líder comunitário há mais de dez anos na vila Fátima, parte do aglomerado da Serra, na região Centro-Sul de Belo Horizonte. Comigo, compartilha do gosto pela música. É um cantor dedicado. Vale pesquisar as canções que já gravou. E, acima de tudo, ele enfatiza a necessidade de representatividade e de atenção às demandas das........

© O Tempo


Get it on Google Play