A história dos sem-abrigo revela bem a visão soviética que alguns têm da sociedade portuguesa. Bem ou mal, as várias entidades envolvidas no problema tentam tirar as pessoas da rua, mas há quem insista que os mesmos continuem a viver em tendas, pois o espaço público é de todos, e, como tal, têm todo o direito a viver a céu aberto, fazendo as necessidades nas redondezas, a implicar com os outros transeuntes, e vice-versa. Estes coletivos, nome pomposo para esconder a sua ligação partidária, só contribuem para que se espalhe a discórdia e que os migrantes sejam mal vistos pela população em geral. Vejam o que disse o presidente da Junta de Freguesia do Beato, do PS, que alertou para o excesso de sem-abrigo na zona, que tem contribuído, e muito, para uma confrontação com os habitantes locais. Além dos problemas básicos, há ainda a convivência difícil com crianças. E isto foi-me dito por alguém da junta. Mas os coletivos, diz-se, até compram as tendas e tentam convencer os sem-abrigo a não deixarem a Igreja dos Anjos, a Praça de Espanha ou a Gare do Oriente. É só falar com quem está no terreno para se perceber isso. São estes trogloditas que fazem o Chega crescer, mas parece que ainda não aprenderam nada. A última novidade foi tentarem impedir uma jornalista de falar com migrantes que, por ironia do destino, se preparavam para ir para uma casa em Santa Apolónia, ‘arranjada’ por uma instituição envolvida no problema. Esta rapaziada não tem vergonha na cara.

Mudando de assunto, diga-se que as recentes aparições de Pedro Passos Coelho têm animado a rapaziada, quer à esquerda quer à direita. E nota-se que estão a vir ao de cimo guerras antigas, como a do ex-primeiro-ministro com Manuela Ferreira Leite, por exemplo. Passos Coelho, é certo, tem um longo historial de se meter com líderes do partido, foi assim com a já citada Manuela Ferreira Leite, foi assim com Cavaco Silva e tem sido agora com Luís Montenegro. Mas estará Passos Coelho proibido de dizer o que lhe vai na alma? Negativo, como diria um amigo meu.

Se olharmos para o passado do PS, por exemplo, os mais antigos lembrar-se-ão das guerras entre o grupo do sótão de casa de António Guterres e Mário Soares. Guterres, Constâncio e Jorge Sampaio, entre outros, conspiravam contra Soares e decidiram apoiar a candidatura de Ramalho Eanes, contra a vontade do líder do partido._Tanto assim foi que Mário Soares, numa atitude inédita, autossuspendeu-se de secretário-geral do PS, voltando depois das eleições.

Voltando a Passos, devo ser dos poucos jornalistas que tem simpatia pelo trabalho que desenvolveu._Nesta edição, uma pessoa completamente insuspeita, Fernando Teixeira dos Santos, explica que Passos cumpriu com tudo o que tinha sido combinado entre o PS e a troika e que, no fundo, fez um trabalho importante para o futuro do país. Não acredito que exista alguém que faça um povo sofrer por gosto. Quase nove anos passaram sobre a troika, mas Passos Coelho deve querer fazer um ajuste com a história e isso não será fácil. Passos dá a entender que tinha tudo preparado para avançar para a liderança do PSD caso o partido tivesse um mau resultado nas europeias. Mas o antigo primeiro-ministro não contava com a intervenção do Ministério Público que fez cair o Governo de Costa. Depois disso, libertou-se e tem dito tudo o que lhe apetece, falando até na necessidade de um acordo entre a AD e o Chega. Parece-me que aos inimigos de esquerda, Passos vai juntar os do seu partido.

QOSHE - Passos junta os inimigos de esquerda aos do PSD - Vítor Rainho
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Passos junta os inimigos de esquerda aos do PSD

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20.04.2024

A história dos sem-abrigo revela bem a visão soviética que alguns têm da sociedade portuguesa. Bem ou mal, as várias entidades envolvidas no problema tentam tirar as pessoas da rua, mas há quem insista que os mesmos continuem a viver em tendas, pois o espaço público é de todos, e, como tal, têm todo o direito a viver a céu aberto, fazendo as necessidades nas redondezas, a implicar com os outros transeuntes, e vice-versa. Estes coletivos, nome pomposo para esconder a sua ligação partidária, só contribuem para que se espalhe a discórdia e que os migrantes sejam mal vistos pela população em geral. Vejam o que disse o presidente da Junta de Freguesia do Beato, do PS, que alertou para o excesso de sem-abrigo na zona, que tem contribuído, e muito, para uma confrontação com os habitantes locais. Além dos problemas básicos, há ainda a convivência difícil com........

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