A fábula da cigarra e da formiga aplica-se, na perfeição, ao modo como uma parte significativa da sociedade portuguesa aborda o complicado tema da transformação do país. A indispensável e difícil tarefa de criação de riqueza.
Considero que a estruturação de desígnios, políticas, estratégias e implementações tem sido gradualmente substituída por comunicação vazia, criadora de falsas expectativas, ou por disputas zaragateiras e piadéticas. Focam-se e debatem o acessório idiota, sub-rogando a complexidade do estrategicamente central. Pensar e fazer dá trabalho e o debate é maioritariamente protagonizado por falsos competentes.

Quando, numa fase tão critica da política nacional, a maior curiosidade e debate se preocupa com as eventuais alianças pós-eleitorais entre os diferentes partidos, na vez das visões e medidas (que não apresentam) para a salvação da economia nacional, a cigarra ganha.

A cigarra ganha porque fala e convence. A cigarra promete distribuir o trabalho da formiga. A cigarra tem destruído a formiga que se encontra em avançado estado de extinção num território que lhe é muito hostil.

Ao realizarem-se logo após 30 minutos de debate entre 2 quaisquer líderes partidários várias horas de comentários de análise exaustiva desse mesmo debate, é a cigarra que sai vitoriosa.

A existência de julgamentos públicos e consequente destruição de reputações, fruto do desprezo pelo segredo de justiça, entrega a vitória à cigarra. A cigarra adora dizer mal.

Porque os atuais candidatos a líder do próximo Governo (estou a referir-me a Pedro Nuno Santos, Luís Montenegro e André Ventura) apresentam currículos absolutamente banais, dependentes da vida nos partidos políticos, as cigarras ganham. As cigarras não se calam e adoravam ser pavões.

Quando se tolera que esses mesmos candidatos dissertem sobre a forma como propõem gastar e distribuir o orçamento do estado, em vez da explicação sobre o modo da nação criar mais riqueza e sobre o qual pouco sabem, a cigarra ganha e arrasa com as formigas.
Quando se condescende que em Lisboa se publicite e fale tantas e tantas vezes de uma fábrica de unicórnios que não existe, a cigarra, disfarçada de formiga, ganha com aplauso.

Por se negligenciar o que a marinha portuguesa enuncia sobre investimento em desenvolvimento científico e tecnológico na exploração e controlo do mar, a formiga não ganha e corre o risco de morrer afogada.
Por se descurar a promoção nacional do seu líder, e não se aprender com o êxito, único em Portugal, que Oeiras adquiriu em termos de políticas de desenvolvimento do território e criação de riqueza, a formiga não ganha e não se multiplica.

A formiga trabalha de forma organizada e em equipa. A formiga estuda, pensa, executa e obtém resultados. A formiga é silenciosa, trabalha muito e por isso consegue fazer bem feito.
Por cá esquecemo-nos das formigas e deixamos que as cigarras avancem e mandem.
Por cá estamos mais atrasados. Por cá ganham as cigarras.

QOSHE - Por cá ganham as Cigarras - Eduardo Baptista Correia
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Por cá ganham as Cigarras

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10.02.2024

A fábula da cigarra e da formiga aplica-se, na perfeição, ao modo como uma parte significativa da sociedade portuguesa aborda o complicado tema da transformação do país. A indispensável e difícil tarefa de criação de riqueza.
Considero que a estruturação de desígnios, políticas, estratégias e implementações tem sido gradualmente substituída por comunicação vazia, criadora de falsas expectativas, ou por disputas zaragateiras e piadéticas. Focam-se e debatem o acessório idiota, sub-rogando a complexidade do estrategicamente central. Pensar e fazer dá trabalho e o debate é maioritariamente protagonizado por falsos competentes.

Quando, numa fase tão critica da política nacional, a maior curiosidade e debate se preocupa com as eventuais........

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