"O peixe ou a cana" e os políticos do atraso

"O peixe ou a cana" e os políticos do atraso

Eduardo Baptista Correia 27/02/2024 09:40

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Portugal não poderá desenvolver-se, nunca, sem uma alteração profunda desta cultura de dependência de algo que vem de fora ou que, como é o caso de muitas das promessas feitas pelos “políticos do atraso”, nunca virá.

As causas do atraso português não são, certamente, diferentes das causas do atraso de qualquer outra sociedade, instituição ou individuo.

Diz o nosso povo “não dê o peixe, ensine a pescar”. No fundo, significa que ao darmos o peixe, damos alimentação por um dia. Se ensinarmos a pescar damos conhecimento e capacidade alimentar para toda a vida. Este princípio funciona em múltiplas situações. Na forma como educamos os nossos filhos ao modo como acredito devermos olhar para a gestão do país – matéria onde, em minha opinião, falhamos faz demasiado tempo.

O livro do Professor Nuno Palma “As causas do atraso português”, cruzado com a leitura do livro “Porque falham as nações” dos Professores Daron Acemoglu e James Robinson, subscreve em grande medida a tese popular à volta do peixe e da cana como instrumento de aprendizagem para pescar. A história portuguesa está carregada de exemplos, ao longo dos séculos, onde a ausência de desígnio e o conforto temporário de benesses, apoios, remessas e transferências de riqueza e liquidez constitui fonte de adiamento de reformas profundas que possibilitem ao país encontrar um rumo estratégico onde os diferentes recursos se possam alinhar.

Na fase de campanha eleitoral que atualmente se vive em Portugal é perfeitamente visível que o rateio dos diferentes candidatos se faz à volta do tipo e quantidade de “peixe” que cada um promete distribuir. Considero essa a maior demonstração da incapacidade que, faz décadas, aponto à classe política oriunda de um sistema que assenta na critica ao adversário, e na distribuição de lugares aos membros do partido ao invés da promoção de uma economia de trabalho com estratégia, com desígnio. Os políticos oriundos desse sistema, dão voz ao atraso por via da incapacidade de colocar o país “a usar a cana de pesca”.

Em Portugal apenas metade das empresas nacionais apresentam resultados positivos e pagam IRC. 90% do IRC arrecadado é proveniente de 20% das empresas em actividade, e 90% do IRS é pago por 23% dos contribuintes. Há um conjunto reduzido de “formigas” que usam a “cana de pesca” e contribuem para que os “políticos do atraso” possam prometer oferecer quantidades variadas e exorbitantes de peixe.

Portugal não poderá desenvolver-se, nunca, sem uma alteração profunda desta cultura de dependência de algo que vem de fora ou que, como é o caso de muitas das promessas feitas pelos “políticos do atraso”, nunca virá. O país necessita das reformas há décadas adiadas; o país precisa de um desígnio, de um posicionamento e de uma estratégia. O país necessita de liderança forte, respeitada e com provas dadas. Essa opção não está disponível a 10 de março, pelo que não haverá nada para Portugal, nesse dia, festejar. Os políticos vencedores, esses sim irão festejar, não percebendo que os eleitores se decidiram por quem, na sua apreciação, constitui o mal menor, enquanto os perdedores darão lugar a outros igualmente formados na escola da política do atraso. Sem opções credíveis continuaremos a assistir, mesmo dentro de uma europa em crise, ao mais que demonstrado atraso em que Portugal se encontra. A 10 de março nada se resolve tudo se adiará.

Professor de Gestão no ISCTE e CEO do Taguspark
Subscritor do “Manifesto: Por Uma Democracia de Qualidade”

As causas do atraso português não são, certamente, diferentes das causas do atraso de qualquer outra sociedade, instituição ou individuo.

Diz o nosso povo “não dê o peixe, ensine a pescar”. No fundo, significa que ao darmos o peixe, damos alimentação por um dia. Se ensinarmos a pescar damos conhecimento e capacidade alimentar para toda a vida. Este princípio funciona em múltiplas situações. Na forma como educamos os nossos filhos ao modo como acredito devermos olhar para a gestão do país – matéria onde, em minha opinião, falhamos faz demasiado tempo.

O livro do Professor Nuno Palma “As causas do atraso português”, cruzado com a leitura do livro “Porque falham as nações” dos Professores Daron Acemoglu e James Robinson, subscreve em grande medida a tese popular à volta do peixe e da cana como instrumento de aprendizagem para pescar. A história portuguesa está carregada de exemplos, ao longo dos séculos, onde a ausência de desígnio e o conforto temporário de benesses, apoios, remessas e transferências de riqueza e liquidez constitui fonte de adiamento de reformas profundas que possibilitem ao país encontrar um rumo estratégico onde os diferentes recursos se possam alinhar.

Na fase de campanha eleitoral que atualmente se vive em Portugal é perfeitamente visível que o rateio dos diferentes candidatos se faz à volta do tipo e quantidade de “peixe” que cada um promete distribuir. Considero essa a maior demonstração da incapacidade que, faz décadas, aponto à classe política oriunda de um sistema que assenta na critica ao adversário, e na distribuição de lugares aos membros do partido ao invés da promoção de uma economia de trabalho com estratégia, com desígnio. Os políticos oriundos desse sistema, dão voz ao atraso por via da incapacidade de colocar o país “a usar a cana de pesca”.

Em Portugal apenas metade das empresas nacionais apresentam resultados positivos e pagam IRC. 90% do IRC arrecadado é proveniente de 20% das empresas em actividade, e 90% do IRS é pago por 23% dos contribuintes. Há um conjunto reduzido de “formigas” que usam a “cana de pesca” e contribuem para que os “políticos do atraso” possam prometer oferecer quantidades variadas e exorbitantes de peixe.

Portugal não poderá desenvolver-se, nunca, sem uma alteração profunda desta cultura de dependência de algo que vem de fora ou que, como é o caso de muitas das promessas feitas pelos “políticos do atraso”, nunca virá. O país necessita das reformas há décadas adiadas; o país precisa de um desígnio, de um posicionamento e de uma estratégia. O país necessita de liderança forte, respeitada e com provas dadas. Essa opção não está disponível a 10 de março, pelo que não haverá nada para Portugal, nesse dia, festejar. Os políticos vencedores, esses sim irão festejar, não percebendo que os eleitores se decidiram por quem, na sua apreciação, constitui o mal menor, enquanto os perdedores darão lugar a outros igualmente formados na escola da política do atraso. Sem opções credíveis continuaremos a assistir, mesmo dentro de uma europa em crise, ao mais que demonstrado atraso em que Portugal se encontra. A 10 de março nada se resolve tudo se adiará.

Professor de Gestão no ISCTE e CEO do Taguspark
Subscritor do “Manifesto: Por Uma Democracia de Qualidade”

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27.02.2024

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Eduardo Baptista Correia 27/02/2024 09:40

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Portugal não poderá desenvolver-se, nunca, sem uma alteração profunda desta cultura de dependência de algo que vem de fora ou que, como é o caso de muitas das promessas feitas pelos “políticos do atraso”, nunca virá.

As causas do atraso português não são, certamente, diferentes das causas do atraso de qualquer outra sociedade, instituição ou individuo.

Diz o nosso povo “não dê o peixe, ensine a pescar”. No fundo, significa que ao darmos o peixe, damos alimentação por um dia. Se ensinarmos a pescar damos conhecimento e capacidade alimentar para toda a vida. Este princípio funciona em múltiplas situações. Na forma como educamos os nossos filhos ao modo como acredito devermos olhar para a gestão do país – matéria onde, em minha opinião, falhamos faz demasiado tempo.

O livro do Professor Nuno Palma “As causas do atraso português”, cruzado com a leitura do livro “Porque falham as nações” dos Professores Daron Acemoglu e James Robinson, subscreve em grande medida a tese popular à volta do peixe e da cana como instrumento de aprendizagem para pescar. A história portuguesa está carregada de exemplos, ao longo dos séculos, onde a ausência de desígnio e o conforto temporário de benesses, apoios, remessas e transferências de riqueza e liquidez constitui fonte de adiamento de reformas profundas que possibilitem ao país encontrar um rumo estratégico onde os diferentes recursos se possam alinhar.

Na fase de campanha eleitoral que atualmente........

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