O antigo primeiro-ministro, Pedro Santana Lopes, disse esta semana que “em descaramento ninguém ganha aos socialistas”. Eu não posso estar mais de acordo.

É notável a forma como os socialista se têm apresentado a estas eleições legislativas: até parece que não governaram o País durante os últimos oito anos; que o atual primeiro-ministro não se demitiu; que não estão vários setores profissionais em evidente tumulto exigindo aumento de salários; que ao longo dos últimos dois anos, o atual governo com uma maioria absoluta teve 13 demissões (incluindo a do próprio Pedro Nuno Santos); e que após a demissão de António Costa foram apresentados vários nomes socialistas ao Presidente da República para evitar eleições, e que o nome de Pedro Nuno Santos nem sequer foi apresentado como possibilidade.

Este fim de semana, António Costa apareceu revigorado na campanha socialista, no Porto, para deixar vários recados ao País, à direita e ao novo secretário-geral do PS.

Com uma entrada apoteótica e muito aclamada pelos socialistas, António Costa fez um discurso de balanço dos seus mandatos nos últimos anos, onde se esforçou por enaltecer o pouco que fez e apresentou outras tantas desculpas para justificar aquilo que não fez.

Ao longo de mais de 45 minutos de discurso, ignorou os problemas na saúde, na educação, na justiça, na habitação, na segurança, e também se escusou a comentar os 850.000 jovens que abandonaram o País. E muito menos referiu os aumentos salariais exigidos pelas forças de segurança, professores, médicos, enfermeiros, guardas prisionais, militares ou bombeiros. É para mim evidente que, no dia 11 de março, o novo primeiro-ministro vai ser confrontado com um país – desmotivado e indignado – saindo às ruas para exigir aumentos salariais que, em muitos casos, são justos, mas sem que haja forma de pagar tal aumento de despesa.

Porém, o momento alto do seu discurso foi quando o ainda primeiro-ministro quis deixar claro ao País, a Pedro Nuno Santos e ao mais provável vencedor da noite eleitoral no próximo dia 10 de março, Luís Montenegro, que “vão ter muita obra para inaugurar” que foi decidida e projetada por ele, António Costa.

Até a mais recente proposta de Pedro Nuno Santos de querer introduzir a valência da medicina dentária no SNS, até isso, António Costa disse que deixava o dossiê pronto e pago com o dinheiro do PRR, para que o seu sucessor possa “inaugurar 124 novos centros de saúde, 374 grandes remodelações nos centros de saúde e todos já equipados com o gabinete de medicina dentária”. A grande novidade proposta uns dias antes por Pedro Nuno Santos ficou esvaziada no Porto pelo demissionário secretário-geral socialista.

Este fim de semana, no Porto, António Costa apareceu com um ar bem-disposto e deixou claro que ainda “não irá meter os papeis para a reforma”. Mais, ficou visível para todos que anda a pensar em outros voos. Assim pudessem os portugueses ter essa boa disposição e alternativa.

QOSHE - A “manha” otimista de António Costa - João Gonçalves Pereira
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A “manha” otimista de António Costa

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05.03.2024

O antigo primeiro-ministro, Pedro Santana Lopes, disse esta semana que “em descaramento ninguém ganha aos socialistas”. Eu não posso estar mais de acordo.

É notável a forma como os socialista se têm apresentado a estas eleições legislativas: até parece que não governaram o País durante os últimos oito anos; que o atual primeiro-ministro não se demitiu; que não estão vários setores profissionais em evidente tumulto exigindo aumento de salários; que ao longo dos últimos dois anos, o atual governo com uma maioria absoluta teve 13 demissões (incluindo a do próprio Pedro Nuno Santos); e que após a demissão de António Costa foram apresentados vários nomes socialistas ao Presidente da República para evitar eleições, e que o nome de........

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