Esta triste e lamentável situação, suspirou Jaime.

Tive que ser operada. Tenho aqui duas chapas, disse Maria Clara, apontando a cara.

Ele só estava a defender o que era dele, assim como eu defendi o que era meu, resumiu Maria O.

Ao que chegam os pais com as brincadeiras das crianças. Violências infantis crescem e chegam à idade adulta, à selvajaria em bruto. Jaime pegou em dois capacetes de mota e rebentou a cabeça de duas mães de dois colegas do seu filhinho de seis anos, na escola primária! É o que diz a acusação. Maria O. - Ortopedia cervical, dores, estado ansioso, angústia, insónia, oito dias de doença. Maria C. - Hematoma na cara, fractura do complexo malar, zigomático direito. 149 dias de doença, 45 dos quais sem capacidade para o trabalho. No julgamento, Maria O. diz que foi levada pelas intrigas de Maria C. contra uma terceira mulher:


- Eu não tenho nada a ver com a referida questão. Só que esta senhora, que aqui estava ao meu lado, todos os dias me dizia ‘ai, esta senhora disse-me isto, esta senhora fez-me aquilo, olha, aquela senhora diz que quer bater no teu filho’.
Como começou a guerra?
- Coisas de miúdos, um que disse... outro que fez... Foi a única razão que me levou lá. Mas quero pagar o que fiz, pedir desculpa.
Porque Maria O. deu estaladas na mulher de Jaime, dias antes, é verdade.
- Uns dias depois apareceu este senhor.
- Mas a senhora não foi agredida?
- Sim. Mas acho que ele foi só defender aquilo que era dele. Assim como eu fui defender aquilo que era meu. Bati, sim senhora. Foi aquela frase de que a outra ia bater no meu filho. Porque esta senhora [Maria C.] põe a boca nos outros e depois põe-se ao lado, já é costume. No dia 13, fui levar o lanche ao meu filho. Quando lá cheguei, vi-a já cheia de sangue e o senhor com o capacete...
- Levou murros e pontapés na cabeça, tronco e membros?
- Não desminto, não desminto, cof, corrff (sofre ataque de asma, usa a bomba, ploc, psss, psss) Ai... Ele também se atirou a mim com o capacete, mas só estava a defender o que era dele... deu-me com o capacete e fiquei desmaiada no chão. Mas disso não quero falar.
Maria C. entra na sala e viaja às origens do caso:
- Levei um estalo dela à frente do meu filho, que me deitou logo ao chão. E ele também me espancou à frente do meu filho. O meu filho chumbou o ano porque não quis ir mais à escola. Tive de o meter num colégio particular. Com seis anos começou a gritar. E veio o senhor desnorteado e deu-me três murros e esmigalhou-me o maxilar superior. O filho dela tinha feito rasteiras três dias seguidos ao meu filho, disseram as contínuas.
Um dia, continua Maria C., disseram-lhe que a mãe do Ricardo estava lá em cima e queria falar consigo. O que lhe veio à cabeça é que ele fazia anos e queria convidar o seu filho... e afinal, não! Maria C. leva o dedo à cara, só falta bater para fazer eco no metal.
- Tive que ser operada. Tenho aqui duas chapas.
Entrou finalmente Jaime, o homem do brinco. Ele achava-se muito diferente das mulheres que o acusavam. Ele é que foi atacado, mais a mulher, por uma multidão na escola:
- Esta triste e lamentável situação... Por duas vezes eu avisei a direcção da escola, o meu filho não podia ser ameaçado, incluindo apertando-lhe o pescoço. Tivemos que mudar de casa, isto custou-me o meu divórcio, o meu filho continua a ser assistido em psiquiatria. Eu nem sei sequer o nome, quem são as senhoras.
- Bateu com os capacetes?
- Eu tinha dois capacetes, mas não. Deliberadamente, não agredi ninguém. Foi uma situação de pânico absoluto!
Uma história de terror. Dá vontade de fugir de uma escola tão primária.

(O autor escreve segundo a antiga ortografia)

QOSHE - Só o que é meu - Rui Cardoso Martins
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Só o que é meu

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11.02.2024

Esta triste e lamentável situação, suspirou Jaime.

Tive que ser operada. Tenho aqui duas chapas, disse Maria Clara, apontando a cara.

Ele só estava a defender o que era dele, assim como eu defendi o que era meu, resumiu Maria O.

Ao que chegam os pais com as brincadeiras das crianças. Violências infantis crescem e chegam à idade adulta, à selvajaria em bruto. Jaime pegou em dois capacetes de mota e rebentou a cabeça de duas mães de dois colegas do seu filhinho de seis anos, na escola primária! É o que diz a acusação. Maria O. - Ortopedia cervical, dores, estado ansioso, angústia, insónia, oito dias de doença. Maria C. - Hematoma na cara, fractura do complexo malar, zigomático direito. 149 dias de doença, 45 dos quais sem capacidade para o trabalho. No julgamento, Maria O. diz que foi levada pelas intrigas de Maria C. contra uma terceira mulher:


- Eu não tenho nada a ver com a referida questão.........

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