É possível que não passe de ruído de campanha. Aquele tipo de polémica que dura um, dois dias, para ser enterrado pelo episódio seguinte. Mas, quando se intui que a diferença entre ganhar ou perder as legislativas, no que ao PS e à AD diz respeito, podem ser um ou dois pontos percentuais, até o ruído de campanha pode ajudar a fazer a diferença. Curiosamente, estes pequenos episódios têm tido como protagonista a Aliança Democrática.

A semana começou com a aparição de Pedro Passos Coelho na campanha da AD. O ex-primeiro-ministro fez uma intervenção dura e doutrinária, mas o que acabou por sobressair para o espaço mediático, quase abafando o resto, foi o que tinha maior potencial para causar ruído: a ligação entre o aumento da imigração e o sentimento de insegurança. Não foi obra do acaso. Passos foi usar o seu peso, neste como noutros temas, junto do eleitorado que hesita entre o Chega e a AD. E abriu a porta à acusação de cedência aos mitos da direita radical. Terá somado uns quantos votos, e talvez perdido outros tantos.

Outro episódio, de novo com a AD no centro. Depois de uma série de especialistas, num encontro técnico sobre o aborto, terem defendido que o prazo deve ser alargado das 10 para as 12 semanas, um dos veteranos do CDS, Paulo Núncio, resolveu fazer prova de vida: o que é preciso é reverter a lei atual, através de um referendo, voltando à idade das trevas. Até André Ventura conseguiu fazer figura de progressista. E Montenegro lá teve de dar o ralhete ao parceiro de coligação: ruído desnecessário. Aqui só há votos a perder.

Último episódio, desta vez literalmente com Luís Montenegro como protagonista: foi pintado de verde por ativistas do clima. Se é patético atirar sopa contra obras de arte, ou pichar cartazes (e além de patético, um crime), usar a violência física, por inócua que pareça, contra um líder político em campanha é inaceitável. Montenegro reagiu, no entanto, com bonomia: “se a ideia era transmitir-me a preocupação que todos devemos ter com as alterações climáticas, era mais fácil termos conversado sobre isso”. Também será ruído de pouca duração. Mas, se para algo serviu, também pela reação suave, foi para ganhar mais alguns votos.

QOSHE - Ruído de campanha - Rafael Barbosa
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Ruído de campanha

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29.02.2024

É possível que não passe de ruído de campanha. Aquele tipo de polémica que dura um, dois dias, para ser enterrado pelo episódio seguinte. Mas, quando se intui que a diferença entre ganhar ou perder as legislativas, no que ao PS e à AD diz respeito, podem ser um ou dois pontos percentuais, até o ruído de campanha pode ajudar a fazer a diferença. Curiosamente, estes pequenos episódios têm tido como protagonista a Aliança Democrática.

A semana começou com a aparição de Pedro Passos Coelho na campanha da AD. O ex-primeiro-ministro fez uma........

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