Só não é uma mera formalidade porque os militantes socialistas ainda têm de votar. Mas ficou claro, esta semana, que Pedro Nuno Santos é o favorito para substituir António Costa na liderança do PS. Boa parte das elites políticas socialistas já o escolheram, é com ele que estão os autarcas, como é ele quem domina distritais e concelhias. Uma vitória do atual ministro da Administração Interna seria um milagre.

Do discurso inicial de Pedro Nuno Santos ressaltam duas preocupações e dois desafios que permitem perceber o que será a campanha eleitoral, caso seja ele o candidato do PS. Comecemos pelas preocupações. O ex-ministro destacou os seus “erros e cicatrizes”, reconhecendo que a humilhação no caso do novo aeroporto de Lisboa e depois a demissão por causa da indemnização da TAP (que disse desconhecer, para, mais tarde, reconhecer que autorizou) serão usadas pelos adversários. A segunda preocupação remete para as suspeitas que fizeram cair o Governo. Pedro Nuno Santos não quer passar os próximos meses a discutir um processo judicial, o que significa que já está à espera que essa seja outra arma de arremesso contra o PS.

Quanto aos dois desafios, têm a ver com entendimentos pós-eleitorais. No que diz respeito ao PS, o socialista quis afastar a ideia de que haja, na disputa interna, uma divisão entre moderados e radicais, ou seja, uma divisão entre os que preferem um PS mais ao centro e os que acolhem acordos à Esquerda. Mas deixou claro de que lado está: quando falou do legado de Costa, o primeiro elogio foi para o líder que “derrubou os muros à Esquerda”. No que diz respeito ao PSD, apontou uma das suas linhas de ataque à concorrência: apesar das promessas, o que Montenegro “se prepara para fazer” é uma coligação com o Chega.

Tendo em conta o ponto de partida para esta campanha eleitoral, e a probabilidade de não haver maioria absoluta, esta será uma das questões fundamentais: quem se coligará com quem, e a troco de quê, para assegurar o Poder.