O cardápio de suspeitas é avassalador. Terá havido concursos públicos feitos à medida para favorecer determinados empresários, somando centenas de milhões de euros. Aponta-se para crimes como corrupção, abuso de poder ou tráfico de influências. Há três detidos, incluindo o presidente da maior empresa de construção civil da Madeira e o presidente da Câmara do Funchal e antigo número dois do Governo Regional. E, finalmente, houve buscas na casa do líder político da região, Miguel Albuquerque. É certo que vai ser preciso esclarecer melhor quem é suspeito de quê. E que é cedo para julgar os méritos da investigação. Mas já se percebeu que a Polícia Judiciária investiu meios pouco habituais nesta operação, que incluiu enviar, em aviões da Força Aérea, mais de duas centenas de inspetores a partir de Lisboa. Sabe-se, ainda, que a PJ não foi capaz (ou não quis) manter o segredo e que houve jornalistas que receberam o aviso a tempo de comprar um bilhete de avião e embarcar para o Funchal. O que, a juntar ao calendário escolhido, a pouco mais de um mês das eleições legislativas, levantará, de novo, a questão da interferência do poder judicial sobre o poder político.

O caso da Madeira será um ponto marcante deste período de campanha, em particular para o PSD. Luís Montenegro não tem qualquer ligação a estas suspeitas, mas já está a apanhar com os estilhaços, por culpa alheia e própria. Primeiro, porque Albuquerque, pelos vistos, não percebe que, para além do processo criminal, há uma responsabilidade política para assumir. Chegou ao ponto de dizer que não se demitia, mesmo que fosse constituído arguido (o que se confirmou), uma vez que “nunca roubou nada a ninguém”. Um ditador não diria nem melhor, nem diferente. Depois, porque Montenegro alinhou no discurso da desvalorização do escândalo, argumentando que, “do ponto de vista político, nada se alterou”. Importa-se de repetir? Se há certeza sobre alguma coisa neste processo é que, se algo se alterou foi, precisamente, “do ponto de vista político”. Não sabemos ainda qual será o preço a pagar pelo PSD. Mas já sabemos que o líder do Chega, André Ventura, essa espécie de purificador de ar, foi o primeiro a entrar no bailinho da Madeira e tentar apresentar a fatura.

QOSHE - O bailinho da Madeira - Rafael Barbosa
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O bailinho da Madeira

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25.01.2024

O cardápio de suspeitas é avassalador. Terá havido concursos públicos feitos à medida para favorecer determinados empresários, somando centenas de milhões de euros. Aponta-se para crimes como corrupção, abuso de poder ou tráfico de influências. Há três detidos, incluindo o presidente da maior empresa de construção civil da Madeira e o presidente da Câmara do Funchal e antigo número dois do Governo Regional. E, finalmente, houve buscas na casa do líder político da região, Miguel Albuquerque. É certo que vai ser preciso esclarecer melhor quem é suspeito de........

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