Congresso do PSD, abril de 2005. Santana Lopes (PSD) tinha perdido as eleições para José Sócrates (PS), depois de o então presidente da República (Jorge Sampaio) ter optado por demitir o primeiro-ministro, dissolver a Assembleia da República e antecipar as eleições legislativas, apesar da coligação entre o PSD e o CDS ter a maioria absoluta de deputados no Parlamento. No seu último discurso enquanto líder dos sociais-democratas (o sucessor foi Marques Mendes), ficou claro que Santana Lopes fora derrotado, mas que não se sentia vencido. E atirou a frase que ficou para a história da política nacional: “Não me despeço. Não vou estar por aqui, mas vou andar por aí.”

Apesar de algumas semelhanças (em ambos os casos, a degradação política começou no seio do próprio Governo), as crises políticas de 2005 e de 2023 são muito diferentes (desde logo porque ser publicamente anunciada uma investigação judicial a um primeiro-ministro é uma estreia absoluta). Como, apesar de algumas semelhanças (por exemplo a longevidade na vida política), são bastante diferentes as personalidades de Santana Lopes e António Costa. Mas, se o socialista não repetirá a frase do então social-democrata, também se tornou evidente, na entrevista que deu esta semana, que vai continuar por aí. Como também disse Santana, “feriram-me, mas não me mataram”.

E vai continuar por aí, desde logo, na longa campanha eleitoral até às eleições de 10 de março. Ao contrário de outros líderes políticos, que quase se tornaram ativos tóxicos para os seus partidos e foram obrigados a períodos de hibernação, António Costa continua a ser uma mais-valia para o PS. E será tanto mais, quanto melhor se perceba que a investigação em que foi envolvido tem pés de barro. Duas evidências de que continua a ser determinante: a primeira é que o PS ainda não tem novo líder, mas continua a liderar as sondagens, e em algumas até está em crescendo; a segunda, a situação inusitada de Luís Montenegro ter estado de prontidão para ser o primeiro a comentar a entrevista à TVI/CNN. Quase parecia que o principal adversário do PSD será o ainda primeiro-ministro. Se calhar até é. Para o bem e para o mal.

QOSHE - António Costa vai andar por aí - Rafael Barbosa
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António Costa vai andar por aí

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14.12.2023

Congresso do PSD, abril de 2005. Santana Lopes (PSD) tinha perdido as eleições para José Sócrates (PS), depois de o então presidente da República (Jorge Sampaio) ter optado por demitir o primeiro-ministro, dissolver a Assembleia da República e antecipar as eleições legislativas, apesar da coligação entre o PSD e o CDS ter a maioria absoluta de deputados no Parlamento. No seu último discurso enquanto líder dos sociais-democratas (o sucessor foi Marques Mendes), ficou claro que Santana Lopes fora derrotado, mas que não se sentia vencido. E........

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