Com direito à primeira página do Expresso do passado dia 26 de janeiro, foi agora tornado público o que deve ser o maior negócio de valorização de conhecimento em saúde gerado no nosso país: a venda, pela start-up portuguesa CellmAbs à alemã BioNTech, por “centenas de milhões de euros, de patentes de uma terapia com potencial para revolucionar o tratamento do cancro”.

Entendi dar destaque ao assunto porque é algo de verdadeiramente notável e porque se trata de uma muito feliz e oportuna coincidência, uma vez que abordei o tema da valorização do conhecimento em saúde nos dois últimos textos nesta coluna do JN, publicados em 9 e 23 do passado mês de janeiro.

É, de facto, algo de verdadeiramente invulgar que constitui um marco na caminhada do nosso país na inovação em saúde. Julgo mesmo que o assunto não mereceu ainda a relevância e a divulgação que a sua importância justifica, o que espero possa acontecer nos próximos tempos. Em todo o caso, está aí, é uma realidade e os impactos positivos não tardarão, desde logo o tremendo efeito motivacional e mobilizador sobre todo um setor e sobre várias gerações.

Para que este sucesso ocorresse muita gente teve que se empenhar e fazer o seu melhor, num campeonato global, muito seletivo, onde só têm lugar os melhores. Felicito-os a todos nas pessoas de Paula Videira e Nuno Prego Ramos, da CellmAbs, protagonistas de toda esta história quase mágica.

Sem prejuízo do mérito inquestionável dos dois protagonistas referidos e de toda a vastíssima equipa que lhes está associada, dificilmente teria sido possível este desfecho sem a contribuição simultânea e sinergética de três grandes fatores: a) um ecossistema de inovação world class e com massa critica em termos de I&D, de capital de risco eficaz e atuante e de gente bem formada, com mundo e que sabe como e para onde quer ir; b) uma cultura empreendedora instalada; e, não menos importante, c) aquela pitada de sorte, que sempre ajuda.

Há ainda uma outra dimensão associada a esta operação que é a de validar e dar sentido à aposta coletiva e bem estruturada que há já algumas décadas tem vindo a ser feita no nosso país na investigação, desenvolvimento & inovação em ciências da saúde. Em boa verdade, contamos hoje com um conjunto já relevante de casos de sucesso, nomeadamente em start-ups que chegaram ao mercado com novos produtos e serviços, ou que foram adquiridas por operadores globais. Mas nenhum com esta dimensão e impacto. Estávamos todos à espera, já há alguns anos, e volta e meia surgia uma ameaça de que agora é que era mas …só mesmo agora é que foi. Brilhante, é a validação de um caminho difícil em que muitos acreditámos.

A expectativa, que é muito forte, é que outras histórias, de igual ou maior importância, surjam em breve e em quantidade, e para isso há uma grande sementeira pronta para dar frutos.

A grande lição a tirar, que espero possa ajudar a eliminar e a polir as últimas areias que impedem dar todo o vapor a uma aposta forte e determinada numa política de valorização do conhecimento na Saúde, é a de que neste domínio os resultados não se conseguem por ações desgarradas e individuais.

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Um marco notável na inovação em Saúde: parabéns!

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06.02.2024

Com direito à primeira página do Expresso do passado dia 26 de janeiro, foi agora tornado público o que deve ser o maior negócio de valorização de conhecimento em saúde gerado no nosso país: a venda, pela start-up portuguesa CellmAbs à alemã BioNTech, por “centenas de milhões de euros, de patentes de uma terapia com potencial para revolucionar o tratamento do cancro”.

Entendi dar destaque ao assunto porque é algo de verdadeiramente notável e porque se trata de uma muito feliz e oportuna coincidência, uma vez que abordei o tema da valorização do conhecimento em saúde nos dois últimos textos nesta coluna do JN, publicados em 9 e 23 do passado mês de janeiro.

É, de facto, algo de verdadeiramente invulgar que constitui um marco na caminhada do nosso país na inovação em........

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