Uma maldição acompanha e atormenta os portugueses há muitos anos, com consequências nefastas na nossa qualidade de vida: a arreigada cultura antiempresa que, associada a uma quase demonização do lucro, nos persegue e abafa.

Sim, de facto, o empresário, na dúvida, é criatura pouco recomendável e só após a devida e persistente prova pode ambicionar a passar à qualidade de pessoa de bem. Tome-se como comparador o benevolente crédito que concedemos, sem pestanejar, a quem vem da esfera pública ou das eufemisticamente designadas entidades com fins não lucrativos.

É também interessante reparar que esta realidade se vai aparentemente dissipando com o aumento da dimensão das empresas, até ao ponto em que a situação se inverte e passa a uma certa reverência, como se verifica, em regra, com as grandes multinacionais. Ilusão, conseguida pela boa gestão da imagem destas corporações, porque, desde o cidadão comum até ao decisor político, o ódio, mais ou menos disfarçado, está latente e a consequência é a nossa baixa densidade empresarial, em particular de grandes unidades.

Por outro lado, e num aparente paradoxo, entrou na moda a valorização das PME (pequenas e médias empresas) e do empreendedorismo, ainda que num enquadramento mais folclórico do que associado ao desenvolvimento e à criação de valor.

Não deixa de ser mais uma das consequências da referida maldição e que nos obriga a ficar pelo campeonato dos pequenitos e a jogar na segunda divisão. Temos de ser capazes de romper este ciclo anacrónico porque, no final do dia, não tenho qualquer dúvida, para darmos o ambicionado salto para patamares mais elevados de bem-estar, são necessárias mais empresas de grande dimensão.

A saúde não é exceção e, sem pôr em causa o papel estruturante de um SNS público, o desempenho global de todo o sistema depende, e dependerá cada vez mais, da dinâmica da rede empresarial que lhe dá suporte e assegura, com exigentes critérios regulamentares e de boas práticas, uma eficiente prestação em contexto competitivo.

Esta rede vai desde a prestação de serviços de limpeza até ao desenvolvimento e produção dos fármacos mais inovadores ou das mais disruptivas soluções suportadas em inteligência artificial, passando por uma miríade de atividades onde se incluem a realização de meios auxiliares de diagnóstico ou a prestação de cuidados.

O desempenho e a sobrevivência dos sistemas de saúde, tal como hoje os conhecemos, está cada vez mais dependente da eficácia deste ecossistema empresarial, uma vez que, como em muitas geografias já foi - com custos enormes para as populações - mais do que provado, a abordagem estatizante e pública conduz a resultados catastróficos, ao nível do esforço orçamental necessário ou, pior, no que se refere ao bem-estar dos cidadãos.

E aqui chegados não há como fugir: a medida do sucesso não pode deixar de ser o lucro, enquanto remuneração do capital investido, do risco, do desempenho e, acima de tudo, da satisfação do cliente/doente/cidadão.

Sei que pode parecer heresia, e a maldição que referi a abrir este texto é disso grande responsável, mas, se quiserem ponderar bem, e sem se deixarem limitar por estereótipos mofentos, chegarão certamente a uma conclusão similar.

QOSHE - Também na saúde, o lucro é a medida do bom desempenho empresarial - Joaquim Cunha
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Também na saúde, o lucro é a medida do bom desempenho empresarial

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16.04.2024

Uma maldição acompanha e atormenta os portugueses há muitos anos, com consequências nefastas na nossa qualidade de vida: a arreigada cultura antiempresa que, associada a uma quase demonização do lucro, nos persegue e abafa.

Sim, de facto, o empresário, na dúvida, é criatura pouco recomendável e só após a devida e persistente prova pode ambicionar a passar à qualidade de pessoa de bem. Tome-se como comparador o benevolente crédito que concedemos, sem pestanejar, a quem vem da esfera pública ou das eufemisticamente designadas entidades com fins não lucrativos.

É também interessante reparar que esta realidade se vai aparentemente dissipando com o aumento da dimensão das empresas, até ao ponto em que a situação se inverte e passa a uma certa reverência, como se verifica, em regra, com as grandes........

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