Por estranho e paradoxal que possa parecer, julgo que esta fase da nossa vida coletiva que se está a iniciar, na sequência das recentes eleições, pode, pela conjugação de um conjunto de circunstâncias, converter-se numa boa oportunidade para fazermos algumas das reformas, tão necessárias como cronicamente adiadas, na nossa Saúde.

Estranho e paradoxal, porque vamos passar de uma situação em que um só partido detinha a maioria absoluta dos deputados e não encontrou condições para as fazer, para um quadro em que o partido que vai formar governo só dispõe de uma maioria relativa e, por isso, qualquer iniciativa legislativa terá de ser negociada, num parlamento mais pulverizado.

Esta nova realidade, julgo, vai obrigar a um esforço acrescido de todos, em particular do governo e dos partidos que o apoiam, em procurar responder ao essencial, ao que de facto pode responder às necessidades dos cidadãos.

E isto pode ser benéfico para o resultado final da governação, o qual, em última análise, é a ambicionada melhoria do nosso bem-estar. E porquê? Porque vai obrigar a que qualquer proposta tenha de ser mais trabalhada, com uma preocupação permanente em ir à raiz dos problemas e às suas causas, com argumentação à prova de bala quanto à sua oportunidade e benefícios, de modo a ganhar os cidadãos como aliados estratégicos e alguns dos demais partidos como parceiros táticos.

Sendo evidente para quem conhece a realidade da Saúde que as gentes com bom senso do PSD e do PS, felizmente, ainda maioritárias, estão mais alinhadas no essencial, leia-se na identificação das principais reformas, do que querem deixar transparecer, estamos perante uma oportunidade de ouro para a agir e confrontar os nossos novos dirigentes e também os que recentemente o foram, com três propostas inadiáveis.

A primeira, é um apelo a não voltarmos àquela atitude recorrente do passado, tão prejudicial, de começar tudo de novo! Por exemplo, a criação da Direção Executiva do SNS e a generalização da organização da oferta publica hospitalar em unidades locais de saúde (ULS) são reconhecidamente boas ideias que precisam de tempo para dar resultados. Se necessitam de afinamentos e ou de ajustes, pois que se façam, mas, por favor, não façam um reset.

A segunda, é a de não continuarmos a irresponsavelmente procrastinar a definição de uma estratégia nacional para a digitalização e para a utilização secundária dos dados em saúde, alinhada com o futuro e onde, público, privado e social se revejam. Este tem de ser um desígnio nacional, tenham juízo, por favor.

A terceira, passa por, definitivamente, assumirmos a Saúde como motor do desenvolvimento social e económico, e sermos consequentes na prática com políticas amigas das empresas.

Os diagnósticos, nestes como na generalidade dos temas que afetam a nossa Saúde, estão todos feitos e o como fazer também está muito pensado. Desde logo, os resultados do grupo de trabalho Mais Economia e Saúde (que juntou nos últimos quase dois anos os atores de referência deste setor) estão, para o efeito, disponíveis.

Vamos lá fazer bem desta vez!

QOSHE - Pode ser esta uma boa oportunidade para fazermos as reformas necessárias? - Joaquim Cunha
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Pode ser esta uma boa oportunidade para fazermos as reformas necessárias?

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19.03.2024

Por estranho e paradoxal que possa parecer, julgo que esta fase da nossa vida coletiva que se está a iniciar, na sequência das recentes eleições, pode, pela conjugação de um conjunto de circunstâncias, converter-se numa boa oportunidade para fazermos algumas das reformas, tão necessárias como cronicamente adiadas, na nossa Saúde.

Estranho e paradoxal, porque vamos passar de uma situação em que um só partido detinha a maioria absoluta dos deputados e não encontrou condições para as fazer, para um quadro em que o partido que vai formar governo só dispõe de uma maioria relativa e, por isso, qualquer iniciativa legislativa terá de ser negociada, num parlamento mais pulverizado.

Esta nova realidade, julgo, vai obrigar a um esforço acrescido de todos, em particular do........

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