É cada vez mais pujante e abundante o ecossistema português de inovação em saúde, sobretudo nas áreas associadas ao que poderemos chamar de smart health, com a proliferação, à volta dos centros de saber polarizados pelas universidades e seus institutos de I&D, designadamente em Braga, Porto, Aveiro, Coimbra, Covilhã ou Lisboa, de spin-offs e startups que procuram encontrar e afirmar o seu caminho em termos nacionais e globais.

A referida preponderância das áreas associadas à smart health ou eSaúde acontece porventura por uma aparente perceção de que por aí se chega mais rápido e talvez com maior facilidade ao produto final, quando a comparação é feita com as áreas relativas à bioquímica ou à biotecnologia, sem prejuízo de que estas experimentem também uma dinâmica relevante e em crescendo.

Na dimensão atual - caracterizada por fortes expectativas de manutenção de elevadas taxas de crescimento - esta é uma realidade da última década e é, sobretudo, um excelente sinal do futuro que neste domínio podemos vir a conhecer a breve prazo.

Julgo que não exagero se disser que se sente um ímpeto fazedor e concretizador a espalhar-se pela academia e pela sua envolvente e que este vírus está espalhado, ainda que com intensidades diferentes em função da idade, dos percursos e vivências, do perfil formativo ou até de outras felizes circunstâncias, pelos docentes e investigadores e cada vez mais pelos alunos e ex-alunos dos diferentes graus.

Perante este quadro de quase “brave new world”, a pergunta que não pode deixar de surgir prende-se com os resultados e as taxas de conversão destas boas ideias e desta energia positiva em novos produtos e serviços que se afirmem no mercado - que não pode deixar de ser o global -, respondendo de forma competitiva às necessidades dos cidadãos e dos doentes. Infelizmente, a resposta não pode deixar de ser a de que, com muito poucas e honrosas exceções, ainda não estamos lá. Lá chegaremos, mais cedo do que tarde, disso não tenho qualquer dúvida, mas ainda precisamos de percorrer e ultrapassar algumas etapas fundamentais.

E destas destacaria a de transformarmos o vírus acima referido de inventor para empreendedor. A de conseguirmos disseminar nesta tribo fantástica que, mais do que a solução científica ou tecnológica para um dado problema ou necessidade, o esforço, o principal centro das atenções tem que estar no modelo de negócio para levar o produto ou o serviço ao mercado. Perguntas como “quem paga?, como paga?, o que o diferencia face à atual oferta?” têm, logo desde os primeiros passos do projeto, que começar a encontrar respostas credíveis e consistentes.

Aquele posicionamento, mais inconsciente do que romântico, que infelizmente ainda está muito presente, de que o foco está na invenção, na tecnologia ou na ciência, e que esses aspetos mais prosaicos de como chegar ao mercado outros tratarão é, possivelmente, a maior causa de morte neste complexo e tão apaixonante Mundo.

QOSHE - Mais do que saber fazer é decisivo encontrar quem pague - Joaquim Cunha
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Mais do que saber fazer é decisivo encontrar quem pague

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23.01.2024

É cada vez mais pujante e abundante o ecossistema português de inovação em saúde, sobretudo nas áreas associadas ao que poderemos chamar de smart health, com a proliferação, à volta dos centros de saber polarizados pelas universidades e seus institutos de I&D, designadamente em Braga, Porto, Aveiro, Coimbra, Covilhã ou Lisboa, de spin-offs e startups que procuram encontrar e afirmar o seu caminho em termos nacionais e globais.

A referida preponderância das áreas associadas à smart health ou eSaúde acontece porventura por uma aparente perceção de que por aí se chega mais rápido e talvez com maior facilidade ao produto final, quando a comparação é feita com as áreas relativas à bioquímica ou à biotecnologia, sem prejuízo de que........

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