A aposta, de forma organizada e estruturada, na investigação e desenvolvimento (I&D), constitui hoje um amplo e bem-sucedido consenso nacional que nos permitiu, em algumas áreas do saber - como as ciências da vida e da saúde - um posicionamento competitivo à escala global.

Ainda que com altos e baixos e com uma degradação preocupante nos últimos anos, não deixa de ser um excelente exemplo de uma política pública que uniu, e ainda une, a coletividade em face de um desígnio comum, que a todos deve orgulhar.

Já no que toca à valorização do conhecimento que daí resulta, ou seja, o ciclo da inovação, o quadro é menos positivo.

Neste contexto, merece referência o que se designou por paradoxo europeu. Este interroga-se sobre a fraca capacidade da Europa, desde logo quando a comparação é efetuada com os EUA, para converter em produtos e serviços, e consequentemente em crescimento e melhor emprego, o seu desempenho científico, em regra, de liderança internacional.

Por cá, o tema tem sido também objeto de discussão e análise, mas o medo de alguns fantasmas, que desgraçadamente nos atormentam coletivamente no último meio século, não tem permitido uma abordagem pragmática e clara, prestando-se a muitos e frequentes equívocos que a ninguém aproveita.

Tomando a área da Saúde, onde a conversão em valor - através de produtos e serviços, globalmente competitivos, que vão ao encontro das necessidades do cidadão e do doente - da boa ciência que produzimos está muito aquém do seu potencial, urge definitivamente acelerar a transição para um posicionamento agressivo de resposta ao mercado.

Quero acalmar os espíritos conservadores inquietos afirmando que, sem qualquer margem para dúvida, tal não pode implicar o fim ou a menorização da investigação fundamental de qualidade. Esta nunca poderá estar em causa. Pelo contrário, teremos aí que apoiar, porventura mais e melhor, mas só os mesmo muito bons.

Usando uma palavra muito em voga nos tempos políticos que correm, julgo que temos mesmo de ativar algumas mudanças radicais nas políticas publicas associadas a este tema, passando a diferenciar positivamente e a apoiar essencialmente em função dos resultados, leia-se, para o doente e para o cidadão, no caso da Saúde.

Mas para isso é preciso aquilo que tantas vezes nos falta: capacidade de agir. Os diagnósticos estão todos feitos e, mais importante, é muito elevado o consenso entre os diferentes atores com responsabilidade no tema - empresas e suas associações, agências públicas, reguladores e regulados, profissionais de saúde e doentes - quanto ao caminho a seguir. A dinâmica conseguida no Grupo de Trabalho Mais Economia e Saúde (criado pelo Despacho Conjunto N.o 4613/2023, de 17 de abril) é disso um bom exemplo.

Para o Governo que vai resultar das eleições de 10 de março, esta podia ser uma boa bandeira a arvorar, desejavelmente, nos primeiros cem dias. Seria um sinal magnifico e poderoso. O nosso futuro coletivo beneficiaria muito.

QOSHE - Inovação em Saúde: mudança radical precisa-se! - Joaquim Cunha
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Inovação em Saúde: mudança radical precisa-se!

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09.01.2024

A aposta, de forma organizada e estruturada, na investigação e desenvolvimento (I&D), constitui hoje um amplo e bem-sucedido consenso nacional que nos permitiu, em algumas áreas do saber - como as ciências da vida e da saúde - um posicionamento competitivo à escala global.

Ainda que com altos e baixos e com uma degradação preocupante nos últimos anos, não deixa de ser um excelente exemplo de uma política pública que uniu, e ainda une, a coletividade em face de um desígnio comum, que a todos deve orgulhar.

Já no que toca à valorização do conhecimento que daí resulta, ou seja, o ciclo da inovação, o quadro é menos positivo.

Neste contexto, merece referência o que se designou por paradoxo europeu. Este interroga-se sobre a........

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