Todos temos vindo a ouvir falar, cada vez mais, no potencial dos dados em saúde. E que dados são esses?

São, sobretudo, os dados, em suporte digital, que caracterizam, de forma mais ou menos exaustiva, o nosso estado de saúde, obtidos através de exames efetuados por médicos e outros profissionais qualificados, com ou sem o auxílio de equipamentos de medição.

Quando conseguimos que os dados relativos a um dado cidadão bem como o relato de todas as intervenções de que este foi alvo, desde que nasceu até à atualidade, estejam disponíveis para consulta por parte deste e, principalmente, com sua autorização, por parte de um profissional de saúde, temos o Registo de Saúde Eletrónica (RSE). É o nosso processo clínico, completo, à distância de um clique.

A existência de um RSE da população de uma região ou de um país é, como será bom de ver, uma ferramenta poderosa para a atividade clínica, para a gestão da saúde pública e para suporte às atividades de investigação.

Apesar de importantes avanços, esta realidade ainda só cobre partes da população, relativa a partes da sua vida e integrando algumas partes da sua história clínica.

Para este quadro, que com intensidades diversas é generalizado em termos europeus, contribuem muitas razões, mas sempre direi que não é a tecnologia a força de bloqueio. Esta, ou estas, são sobretudo do foro ético e da paralisante incapacidade de decisão sobre o tema por parte dos governantes, por motivos certamente muito atendíveis onde emerge, qual elefante no meio da sala, o tema da confidencialidade e da privacidade.

Acresce, no plano nacional, os efeitos negativos da ausência de uma visão estratégica combinada com o bloqueio míope da atividade empresarial nesta área.

Vale a pena, no entanto, questionarmo-nos sobre o que estamos coletiva e individualmente a perder com este adiamento crónico e fazermos o balanço entre o que, eventualmente, cedemos em termos de privacidade e o que podemos ganhar em termos de saúde e bem-estar.

A situação é ainda mais desafiante se quisermos ir mais longe. Uma boa imagem para descrever essa ambição é pensarmos num grande recipiente virtual onde despejamos todos os dados dos RSE de toda uma população, depois de devidamente anonimizados. Teríamos então o que se vem chamando de lago de dados (Data Lake).

O potencial deste conjunto ordenado de informação qualificada sobre a saúde de uma população é algo que ainda temos alguma dificuldade em dimensionar, sendo claro que seria um recurso precioso para conseguirmos avanços significativos no domínio da investigação e desenvolvimento nas ciências da vida, na gestão da saúde pública e, de uma forma geral, na resposta aos enormes desafios que nestas áreas temos pela frente.

Esta pode ser a oportunidade de ouro para fazermos a nossa diferenciação e afirmação em termos globais, enquanto atores de referência na nova saúde, na smart health. A coligação negativa entre os velhos do Restelo e os poderes de paróquia está a fazer o seu melhor para que nada aconteça. Resta às forças do bem não ceder e ir destemidamente em frente.

QOSHE - A magia dos dados em saúde - Joaquim Cunha
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A magia dos dados em saúde

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12.12.2023

Todos temos vindo a ouvir falar, cada vez mais, no potencial dos dados em saúde. E que dados são esses?

São, sobretudo, os dados, em suporte digital, que caracterizam, de forma mais ou menos exaustiva, o nosso estado de saúde, obtidos através de exames efetuados por médicos e outros profissionais qualificados, com ou sem o auxílio de equipamentos de medição.

Quando conseguimos que os dados relativos a um dado cidadão bem como o relato de todas as intervenções de que este foi alvo, desde que nasceu até à atualidade, estejam disponíveis para consulta por parte deste e, principalmente, com sua autorização, por parte de um profissional de saúde, temos o Registo de Saúde Eletrónica (RSE). É o nosso processo clínico, completo, à distância de um clique.

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