As mulheres europeias perdem quase um terço (29%) dos seus rendimentos após terem filhos. Pelo contrário, os homens geralmente veem os salários aumentar após constituírem família. Este dado, apurado num estudo que cruzou políticas e entrevistas em 32 países da Europa, evidencia a grave penalização das mulheres que trabalham, por via da maternidade, em pleno inverno demográfico do cada vez mais Velho Continente. E preocupa ainda mais num dos países onde a natalidade tem sido consistentemente baixa (mesmo que em 2023 tenham nascido mais 2300 bebés do que no ano anterior).

O projeto MERIT - MothER Income InequaliTy, que em Portugal foi conduzido pelo Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP), revela que, no caso dos homens, o impacto na carreira, quando existe, é globalmente positivo: a carga laboral até cresce, mas geralmente são promovidos a cargos mais bem remunerados. Já as mulheres por vezes são forçadas a reduzir as jornadas de trabalho para conseguirem cuidar dos filhos e da casa - funções não pagas e pouco valorizadas socialmente. A tudo isto soma-se o fosso salarial entre mulheres e homens, que em 2023 voltou a aumentar 13 euros para 179 euros.

Com a população de Portugal a crescer apenas por conta da imigração e o saldo natural teimosamente negativo, a baixa natalidade é dos maiores desafios que o país enfrenta - embora ausente dos holofotes da campanha eleitoral. Na hora de votar, no domingo, importa olhar para lá da espuma das polémicas estéreis, das promessas vazias e dos sound bites panfletários. E tentar analisar quem apresenta propostas concretas para tornar o país mais atrativo para os jovens se autonomizarem e ficarem em Portugal e criar políticas que sejam efetivamente amigas das famílias. A começar por habitação acessível, mas também salários dignos, carga fiscal mais justa, transportes públicos que sirvam as necessidades da população, creches gratuitas e a funcionar em horários compatíveis com os dos pais, aposta no SNS, e ainda apoios sociais para os mais velhos, porque é mesmo preciso uma aldeia para educar (bem) uma criança.

QOSHE - Mães e mal pagas - Helena Norte
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Mães e mal pagas

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05.03.2024

As mulheres europeias perdem quase um terço (29%) dos seus rendimentos após terem filhos. Pelo contrário, os homens geralmente veem os salários aumentar após constituírem família. Este dado, apurado num estudo que cruzou políticas e entrevistas em 32 países da Europa, evidencia a grave penalização das mulheres que trabalham, por via da maternidade, em pleno inverno demográfico do cada vez mais Velho Continente. E preocupa ainda mais num dos países onde a natalidade tem sido consistentemente baixa (mesmo que em 2023........

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