O debate de ideias, pelo menos válidas, é hoje uma miragem. Sobressaem, acima de tudo, momentos de pura demagogia, da mais barata possível, moldada por laivos de exacerbado populismo adornado por imagens adequadas a cada circunstância.
O fato e gravata não dão votos? Troca-se por t-shirt e calças de ganga. É preciso lembrar os percalços do adversário, recupera-se as coisas que vemos e ouvimos com mais ou menos jeito. E se mesmo assim não funcionar, abre-se ainda mais a boca para dizer mal deste ou daquele.
Prometer tudo nunca passa de moda. E mais fácil se torna quando se sabe que não vai haver qualquer possibilidade (leia-se votos) de ser cobrado por isso. Portanto, acredita quem quer, aqueles que não acreditarem têm bom remédio: votam em quem lhes inspira mais confiança. Ou menos desconfiança, como entenderem.
Já dizia Francisco Sá Carneiro que a “política sem risco não vale a pena, é uma chatice, mas sem ética é uma vergonha”. E de facto, independentemente dos ideais de cada um, a falta de moral que verificamos, e com que nos habituamos, não deve ser aplaudida por ninguém.
Hoje, mais do que nunca, o que merece atenção, seja nas notícias ou nas redes sociais, é o engano, o tropeção, o confronto, a falta de comparência... As propostas para o País, essas, são uma chatice que passa ao lado até de alguns mais interessados. Porque, dizem, a mensagem é aborrecida e não cativa a maioria, que vive apressada com o ritmo endiabrado do quotidiano passado entre o trabalho e a casa. Importa, por isso, cumprir o apelo ao voto de forma rápida e empolada e não se esquecer de enaltecer que votar no adversário é pior.
Não estranhem, portanto, que, no meio de tudo isto, o voto responsável acaba por ser um exercício complicado.
Ainda assim, ficar em casa é que não. A abstenção não é, nem pode ser, uma forma de protesto. Será, porventura, a confirmação do desinteresse dos cidadãos em participar no futuro do País. Depois, claro, perdem direitos... até mesmo o direito ao queixume.
É verdade que Portugal não atravessa um bom momento. Os salários estão cada vez mais encolhidos, enquanto os custos esticam sem quebrar. É indesmentível que o País não aproveita os seus jovens valores, que as reformas não chegam para tudo, que a saúde dá nervos... As manifestações, que surpreendiam pela raridade, tornaram-se uma constante que reflete a elevada insatisfação de diferentes classes operárias. Tudo certo e está à vista desarmada. Mas também é correto pedir para que a resposta de todos seja democrática, comparecendo às urnas.
Num ano em que se celebra meio século do 25 de Abril, a democracia enfrenta uma espécie de crise de meia idade, apresentando-se depressiva e isolada em função de problemas constantes que acabaram por conduzir à queda de três governos.
Ultrapassar a crise democrática devia ser uma responsabilidade coletiva. Votar não custa. E se falhar na cruz é uma chatice que pode ser corrigida no próximo ato eleitoral, ficar em casa teria de ser encarado como uma vergonha.
O risco entre a chatice e a vergonha
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09.03.2024
O debate de ideias, pelo menos válidas, é hoje uma miragem. Sobressaem, acima de tudo, momentos de pura demagogia, da mais barata possível, moldada por laivos de exacerbado populismo adornado por imagens adequadas a cada circunstância.
O fato e gravata não dão votos? Troca-se por t-shirt e calças de ganga. É preciso lembrar os percalços do adversário, recupera-se as coisas que vemos e ouvimos com mais ou menos jeito. E se mesmo assim não funcionar, abre-se ainda mais a boca para dizer mal deste ou daquele.
Prometer tudo nunca passa de moda. E mais fácil se torna quando se sabe que não vai haver qualquer possibilidade (leia-se votos) de ser cobrado por isso. Portanto, acredita quem quer, aqueles que não acreditarem têm bom remédio: votam em quem........
© JM Madeira
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