Neste mês de novembro, em que São Martinho é também honrado pelos vinhateiros, Santo que é mais conhecido pela caridade e vida num mosteiro, devendo por obediência ser Bispo numa zona por evangelizar, recordei também o profeta Isaías a quem Deus confiou uma missão muito difícil, e se tornou célebre pelo “Canto da vinha”.

Foi, provavelmente, por ocasião de uma das vindimas na terra de Israel que o profeta proclamou o magnífico e célebre apólogo o “Canto da Vinha” (Is.5,1-4). “Vou cantar para o meu amado o cântico do meu amigo para a sua vinha...”

Em Israel, um tempo muito amado e esperado, pelo povo era o da colheita mais rica e preciosa das uvas, em que os agricultores realizavam uma festa ruidosa, em que até o profeta, de família nobre e os ricos, se misturavam com o povo em festa. Penso que, qualquer coisa semelhante entre nós, é a festa que os madeirenses realizam com os turistas no Estreito de Câmara de Lobos. Recordo-me também, quando era menino e moço, da apanha das uvas e do pisar no lagar, ser um dos grandes momentos de festa na casa dos meus familiares, no alto da freguesia de Santo António, tradição que, hoje, desapareceu por completo.

Retornando ao grande profeta, Isaías levanta-se no meio dos populares para declamar, ou talvez cantar, um poema da sua autoria que, no princípio diverte, mas ao terminar faz tremer e até fugir. Isaías mostra ao povo escolhido de Israel a deceção de Deus e a sua decisão de abandonar o Reino de Jerusalém à mais triste e horrível sorte. O Profeta apresenta-se como amigo de Deus, que o escolheu e enviou para velar pelos seus interesses e de os defender.

“O meu amigo tinha uma vinha numa fértil e soalheira encosta; arroteou a terra, limpou-a de pedras e plantou do melhor moscatel, construiu uma torre no centro para a guardar e defender, cercou-a duma grande sebe e construiu um lagar. Esperava, por isso, grande colheita e um vinho generoso e forte, mas não teve mais que um vinho verdasco e azedo. Habitantes de Jerusalém, e homens de todo o reino, julgai vós mesmo! Que mais poderia eu fazer pela minha vinha? Eu tinha todo o direito, de esperar um vinho ótimo. Porque me deu, então, um verdasco intragável?

Pois então, vou dizer-vos o que farei à minha vinha. Vou arrancar a sebe para que os animais lhe venham roer as vides, para que os transeuntes atravessem e a calquem com os pés, para ser devastada e se torne um campo inculto invadido pelas silvas.

É isto, sim, o que ela merece, mas ainda mais, vou proibir às nuvens que nela não deixem cair uma gota de água.” Terminou a narração do canto da vinha.

Qual é a lição desta parábola da vinha? A vinha do Senhor é o povo de Israel, os habitantes deste Reino são as cepas de boa casta escolhidas. O Senhor Altíssimo esperava do seu povo retidão, e, pelo contrário, abunda o crime, a injustiça, a ingratidão, a idolatria, o culto a Baal, e, por todos os lados, se ouvem os gritos lancinante dos pobres, dos infelizes, dos imigrantes.

Isaías, conhecia muito bem a anarquia que reinava na casa real, a corrução vergonhosa que esmagava o povo da terra, as forças de desagregação e, também, as intenções do rei de Babilónia, Nabucodonosor, a quem Deus tinha entregue o povo de Israel. O profeta Jeremias será a voz de Deus a proclamar que a Cidade Santa e o Templo de Jerusalém serão destruídos, que se tornarão uma ruína como Silo, e que confiar no Templo, nos sacrifícios de carneiros, bois e dos outros animais não servirão como remédio.

Com o aparecimento do novo rei Acaz, um rapazinho apenas com vinte anos, os poderosos, os influentes oprimiam o povo, a anarquia reinava na cidade. Os que governavam a nação conduziam-na à sua ruína. Isaías escreve: “Dar-lhe-ei adolescentes por príncipes, meninos governarão sobre eles, no seio do povo haverá choques violentos de indivíduo contra individuo, de vizinho contra vizinho, o adolescente desafiará o ancião e o homem simples ao nobre”. (Is.3,4-5).

O tema da vinha aparece também no Novo Testamento, Jesus apresenta a parábola dos “Vinhateiros Homicidas,” referindo-se ao povo de Deus, sempre surdo aos ensinamentos dos profetas, chegando até a matar alguns deles (Mt. 21,33). Esta situação levará a uma rejeição definitiva, com a denúncia das alianças, a vinha passa para outras mãos e outros povos, chegou também até nós. Jesus compara-se a uma cepa e os que acreditam nele são os sarmentos que darão fruto. O vinho que faltou nas Bodas de Caná foi o motivo do primeiro milagre, após a mediação de Sua Mãe, Maria. O momento mais significativo e solene em que Jesus utiliza o vinho para assegurar a sua presença, é a Eucaristia, entre os homens.

QOSHE - O canto da vinha de Isaías - D. Teodoro De Faria
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O canto da vinha de Isaías

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19.11.2023

Neste mês de novembro, em que São Martinho é também honrado pelos vinhateiros, Santo que é mais conhecido pela caridade e vida num mosteiro, devendo por obediência ser Bispo numa zona por evangelizar, recordei também o profeta Isaías a quem Deus confiou uma missão muito difícil, e se tornou célebre pelo “Canto da vinha”.

Foi, provavelmente, por ocasião de uma das vindimas na terra de Israel que o profeta proclamou o magnífico e célebre apólogo o “Canto da Vinha” (Is.5,1-4). “Vou cantar para o meu amado o cântico do meu amigo para a sua vinha...”

Em Israel, um tempo muito amado e esperado, pelo povo era o da colheita mais rica e preciosa das uvas, em que os agricultores realizavam uma festa ruidosa, em que até o profeta, de família nobre e os ricos, se misturavam com o povo em festa. Penso que, qualquer coisa semelhante entre nós, é a festa que os madeirenses realizam com os turistas no Estreito de Câmara de Lobos. Recordo-me também, quando era menino e moço, da apanha das uvas e do pisar no lagar, ser um dos grandes momentos de festa na casa dos meus familiares, no alto da freguesia de Santo António, tradição que, hoje, desapareceu por........

© JM Madeira


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