Um Primeiro-Ministro, dispondo de uma maioria parlamentar, a pedir a demissão a meio do respetivo mandato, não por ter sido, judicialmente, acusado do que quer que fosse, nem, sequer, arguido constituído se visse, mas, apenas, com base num simples parágrafo dum comunicado judicial apontando-o como suspeito não se sabe bem do quê num negócio qualquer, pedido de demissão pretextado por, apesar de evocar a limpidez da sua consciência, não se sentir com as condições necessárias para, em tais circunstâncias, Primeiro-Ministro continuar a ser.

Um líder da oposição sentindo, ao invés, condições ter para continuar a sê-lo, apesar de, igualmente, sob suspeita judicial por irregularidades na construção ou reconstrução duma casa sua e que a Primeiro-Ministro consegue chegar, ainda que com menos de 30% dos votos dos portugueses, não se contando com as abstenções, em que tal percentagem no conjunto deles seria muito menor).

Um partido que consegue, não só, o feito «histórico», conforme o respetivo líder, de chegar à Assembleia da República, não pelo próprio pé, mas às costas dum outro, como, ainda, é premiado com uma das principais pastas ministeriais, a da Defesa.

Um Presidente da Assembleia da República, tido como Segunda figura do Estado, que, como se não bastasse só ter conseguido obter o lugar à quarta tentativa dum «circense» processo eleitoral, onde não faltaram entre deputados e partidos acusações de «acordos traídos» ou de «miúdos birrentos», presidente que, apenas, o será durante meio mandato, já que o outro meio a um novo presidente estará destinado.

Todo este «circo», como se já não bastasse, a ter lugar num tempo em que já se terá estado mais longe de uma terceira e, porventura, última guerra mundial. Não por se ter chegado, finalmente, ao «Fim da História», como diria o outro, mas por a Humanidade ter tido o mesmo destino dos Dinossauros.

Se este país não parece esquizofrénico, não se sabe o que parecerá!

Para ler o artigo anterior do autor, clique aqui.

* Jurista

QOSHE - País esquizofrenico - Luís Ganhão
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País esquizofrenico

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29.03.2024

Um Primeiro-Ministro, dispondo de uma maioria parlamentar, a pedir a demissão a meio do respetivo mandato, não por ter sido, judicialmente, acusado do que quer que fosse, nem, sequer, arguido constituído se visse, mas, apenas, com base num simples parágrafo dum comunicado judicial apontando-o como suspeito não se sabe bem do quê num negócio qualquer, pedido de demissão pretextado por, apesar de evocar a limpidez da sua consciência, não se sentir com as condições necessárias para, em tais circunstâncias,........

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