Num tempo em que se assiste no mundo a cada vez mais perigosos focos de «incêndio», como numa Ucrânia, Palestina ou Mar Vermelho, o desvio do transporte marítimo deste mar, com tudo quanto ele, em particular, representa para a Europa, já se traduz num aumento de 400% no seu preço, se prevê para a UE no corrente ano um crescimento, apenas, de 0,8%, se, acaso, crescer ou nos EUA, com uma dívida recorde de 34 trilhões de dólares, a disputa presidencial se faz entre um charlatão e um outro que já terá dificuldade em encontrar a porta da casa de banho quando a ela precisa de ir, nada como olhar, reconfortantemente, para a nossa idílica pátria, qual ilha, salvaguardada de tudo aquilo que de mau fora dela possa ocorrer.

É assim que, alegremente, nos podemos dar ao luxo de ter um governo em mera gestão corrente, sem se vislumbrar, exatamente, quando o poderemos ter em gestão normal, um Ministério Público transformado em «saco de boxe» de toda a gente, partidos e alianças deles em festiva campanha eleitoral, prometendo tudo e mais alguma coisa, que faltando água, dinheiro, contudo, há de chover, sondagens a dar a vitória a uns num dia, para no outro logo os pôr a perder, revelador do que será o saudável estado mental do eleitorado, ou, como tal, se presumindo, e, até, com a devida cobertura noticiosa, pelo seu natural elevado interesse público, um cantor de seu nome Abrunhosa a processar, por violação de direitos de autor, um partido, o BE, que terá ousado exibir um cartaz com a frase «Fazer o que nunca não foi feito», quando o dito cantor já tinha composto uma transcendental cançoneta com o título «Fazer o que ainda não foi feito», melosamente dizendo:

Sei que me vês

Quando os teus olhos me ignoram

Quando por dentro eu sei que choram

Sabes de mim

Eu sou aquele que se esconde

Sabe de ti, sem saber onde

Vamos fazer o que ainda não foi feito

Ainda que um «fazer o que ainda não foi feito» só se possa entender como fazer-se um abrunhoso «bebé», para contrariar o envelhecimento do país, e um «fazer o que nunca foi feito», por seu lado, só se poder ler como respeitando a um qualquer Aeroporto do Montijo, Alcochete, Vendas Novas, Santarém, Ota, etecetera e tal ou a um qualquer Hospital Central do Algarve, não se vislumbrando, consequentemente, que identidade possa haver entre o «nunca» e o «ainda», para se poder dizer que se está perante uma violação de direitos de autor.

Nada, pois, como uma ilha paradisíaca assim!

Notas marginais:

- PS e AD, preocupados com a formação/educação cívica dos «Tugas», propõem-se, nos respetivos programas eleitorais, combater a desinformação, as fake news, o que não se poderá deixar de aplaudir, ou não houvesse quem lhes tivesse andado a vender, por exemplo, que uma Rússia seria um país atrasado, com soldados mal calçados e a ter de andar a retirar chips de máquinas de lavar roupa para incorporar no seu velho material bélico, para, pimba, agora se vir a saber que, afinal, até possuirá uma «perturbadora» capacidade de fabricar armas antissatélite, conforme alerta lançado pela Casa Branca!

- Vencedor antecipado das próximas eleições legislativas: o CDS, que, tendo como «muleta» o PSD, já terá garantido o regresso ao parlamento! Nada como uma épica conquista assim, digna de ser cantada, em plena república, por um fadista monárquico Câmara Pereira, enquanto os candidatos do PSD que sacrificaram os seus lugares nas listas em prol dos do CDS, chorarão, comovidamente, ao ouvir cantar assim!

- Se, no caso «Madeira», tendo havido recurso da decisão do juiz de instrução para instância superior, esta, hipoteticamente, vier a reconhecer que, afinal, indícios de crimes sempre haverá, fica-se na expetativa quanto à reação dos que no MP tanto têm vindo a bater! Se calhar, vão reagir, dizendo, com ar grave e solene, que todo o arguido se deve presumir inocente enquanto não houver uma condenação sua com trânsito em julgado!

- Quando se vê o Soltenberg, secretário-geral da NATO, sempre que fala e mesmo quando está calado, balançando os braços para cima, para baixo, para um lado e para o outro, não pode deixar de nos fazer lembrar – sem ofensa! os divertidos robertos, movidos por cordéis manipulado por alguém escondido atrás de um lençol, que se costumavam ver em feiras e mercados!

Pena, entretanto, que Soltenberg esteja a terminar o seu mandato e, eventualmente, não se recandidate ao mesmo, mas, neste caso, sempre se poderia sugerir para o substituir o nosso MNE Cravinho, pois seria, pelo seu rico currículo, quer no domínio militar, quer diplomático, um digno sucessor dele e a pátria com ele em tal cargo honrada ficaria!

Para ler o artigo anterior do autor, clique aqui.

* Jurista

QOSHE - A Ilha - Luís Ganhão
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A Ilha

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19.02.2024

Num tempo em que se assiste no mundo a cada vez mais perigosos focos de «incêndio», como numa Ucrânia, Palestina ou Mar Vermelho, o desvio do transporte marítimo deste mar, com tudo quanto ele, em particular, representa para a Europa, já se traduz num aumento de 400% no seu preço, se prevê para a UE no corrente ano um crescimento, apenas, de 0,8%, se, acaso, crescer ou nos EUA, com uma dívida recorde de 34 trilhões de dólares, a disputa presidencial se faz entre um charlatão e um outro que já terá dificuldade em encontrar a porta da casa de banho quando a ela precisa de ir, nada como olhar, reconfortantemente, para a nossa idílica pátria, qual ilha, salvaguardada de tudo aquilo que de mau fora dela possa ocorrer.

É assim que, alegremente, nos podemos dar ao luxo de ter um governo em mera gestão corrente, sem se vislumbrar, exatamente, quando o poderemos ter em gestão normal, um Ministério Público transformado em «saco de boxe» de toda a gente, partidos e alianças deles em festiva campanha eleitoral, prometendo tudo e mais alguma coisa, que faltando água, dinheiro, contudo, há de chover, sondagens a dar a vitória a uns num dia, para no outro logo os pôr a perder, revelador do que será o saudável........

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