Nunca um Governo acabado de ser eleito entrou em estado de desgraça em tão pouco tempo.

Depois de ganhar as eleições com a promessa de uma redução de 1500 milhões de euros no IRS, ficámos todos a saber que essa promessa não é para ser cumprida.

Os 1500 milhões, dizem-nos agora, incluem o corte de 1330 milhões aprovados pelo Governo de António Costa (com o voto contra do PSD), que já se encontra em vigor desde janeiro.

Confrontado com o embuste, o Governo não assumiu qualquer responsabilidade. Em vez disso, as suas principais figuras passaram à ofensiva e trataram de acusar todos os outros - partidos, jornalistas e todos os portugueses - de terem interpretado mal.

Paulo Rangel (número dois do Governo), Miranda Sarmento (número três), António Leitão Amaro (número quatro) e Hugo Soares (líder parlamentar) tentam convencer o país de que estamos todos errados e que o PSD sempre foi absolutamente claro nesta matéria. E o Governo foi ao ponto de emitir um duro comunicado, que é um manual de cinismo político. No fundo, responsabilizam os outros por terem caído na patranha.

Notemos bem: como se não bastasse terem-nos enganado a todos, agora culpam os portugueses por se terem deixado enganar. Não é bonito fazer das pessoas idiotas.

Como é evidente, não se tratou de “um equívoco” ou de “uma ambiguidade”, como reconheceu o ministro da Coesão, Castro Almeida. Foi mesmo um ato deliberado de ilusionismo, com os quais PSD e CDS enganaram os portugueses para ganhar as eleições.

A verdade é que resultou e, por apenas 50 mil votos, PSD e CDS ficaram à frente dos destinos do país. Qual seria o resultado eleitoral se tivessem dito a verdade?

Na campanha, Luís Montenegro apostou em descolar da imagem do líder parlamentar que tinha aprovado todas as medidas de austeridade do último Governo PSD/CDS e convenceu os portugueses de que os seus impostos iriam baixar.

Afinal, como agora ficou exposto, a prioridade da AD foi sempre outra. O “choque fiscal” no IRS ficou reduzido a uma maquilhagem. De substancial, apenas a redução do IRC. Se tivermos presente que 45% do IRC é pago por 0,2% das empresas (as grandes) e que dois terços é pago por 2%, vemos quem realmente beneficia das medidas fiscais deste Governo.

Os portugueses sentem-se enganados e com razão. Com um início assim, será difícil voltarem a confiar em Luís Montenegro e no seu Governo.

Acresce que o PSD é reincidente nestes enganos - e nem me estou a referir aos cortes de salários e pensões que Passos Coelho há anos negou em campanha, para depois aplicar implacavelmente.

Durante a campanha eleitoral, o atual primeiro-ministro tinha tentado uma manobra parecida: propôs um aumento significativo das pensões como se fosse para todos, para logo no dia seguinte se perceber que afinal era para uma pequena minoria.

No caso das pensões, a máscara caiu em 24 horas; no caso do IRS, o embuste será sentido no recibo de vencimento durante toda a legislatura.

Estes enganos não são coincidência, são um padrão.

Do ativismo político à obra literária, o seu legado merece todo o nosso reconhecimento. Foi isso que aconteceu esta segunda-feira, na Fundação Calouste Gulbenkian, onde apresentou o livro Memórias Minhas e foi condecorado com a Grã-Cruz da Ordem de Camões. É uma das grandes figuras da Cultura e do Portugal democrático.

QOSHE - Um padrão - Pedro Marques
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18.04.2024

Nunca um Governo acabado de ser eleito entrou em estado de desgraça em tão pouco tempo.

Depois de ganhar as eleições com a promessa de uma redução de 1500 milhões de euros no IRS, ficámos todos a saber que essa promessa não é para ser cumprida.

Os 1500 milhões, dizem-nos agora, incluem o corte de 1330 milhões aprovados pelo Governo de António Costa (com o voto contra do PSD), que já se encontra em vigor desde janeiro.

Confrontado com o embuste, o Governo não assumiu qualquer responsabilidade. Em vez disso, as suas principais figuras passaram à ofensiva e trataram de acusar todos os outros - partidos, jornalistas e todos os portugueses - de terem interpretado mal.

Paulo Rangel (número dois do Governo), Miranda Sarmento (número três), António Leitão Amaro (número quatro) e Hugo Soares (líder parlamentar) tentam........

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