Por ocasião da Cimeira da Cooperação Económica Ásia-Pacífico (APEC) em São Francisco, o Presidente Joe Biden reuniu-se com o Presidente Xi Jinping da China na semana passada durante mais de quatro horas, num esforço mútuo para melhorar o tom das relações que se tornaram cada vez mais acrimoniosas desde a sua última reunião há um ano em Bali. Ambos declararam que a reunião foi produtiva, tendo Biden assinalado vários resultados com satisfação.

Talvez o resultado concreto mais importante tenha sido o restabelecimento de contactos regulares entre as forças armadas de ambos os países - interrompidos pelos chineses após a visita de Nancy Pelosi a Taiwan no ano passado - um passo essencial que os EUA pretendiam dar, para minimizar o risco de que um incidente militar acidental possa conduzir a uma rápida escalada. A China também concordou, em princípio, em restringir a exportação para os EUA de produtos químicos utilizados para fabricar fentanil, uma droga que matou mais de 73.000 americanos em 2022, e os dois líderes concordaram que os seus especialistas se reuniriam para discutir os riscos associados à IA.

Aparentemente, Xi parece ter tirado menos proveito da reunião do que Biden apesar de o governo dos EUA ter concordado em retirar um Instituto Forense de Segurança Pública Chinês da lista de sanções comerciais do Departamento de Comércio, contudo o líder chinês parecia estar satisfeito por ter sido tratado com o respeito total de um parceiro igual e por ter sido recebido calorosamente por mais de 300 líderes empresariais americanos de topo, a quem disse que a China estava disposta a ser "um parceiro e um amigo" dos EUA.

Ambos os líderes precisavam de melhorar as relações.

Biden não quer outra crise, já está suficientemente ocupado com as guerras na Ucrânia e em Israel, e tem uma campanha eleitoral tensa no próximo ano. Uma explosão com a China daria ao seu provável adversário Donald Trump a oportunidade de o atacar e acusar de incompetente na gestão dos problemas mundiais. Nos últimos meses, Biden enviou nada menos do que cinco funcionários superiores à China com vista a suavizar as relações internacionais que ambos os países reconhecem ser da maior importância.

Xi tem os seus próprios problemas a nível interno, lida com um período de fragilidade económica, uma crise no mercado imobiliário, o aumento do desemprego entre os jovens e um enfraquecimento da confiança das empresas. Neste momento delicado, Xi quer mostrar aos chineses que é absolutamente capaz de gerir a relação económica e política mais importante do seu país. É de realçar o tom positivo da cobertura na imprensa chinesa, controlada pelo Estado, do encontro com Biden que contrasta com as virulentas mensagens anti-americanas típicas dos últimos anos.

A China e os Estados Unidos precisam um do outro, os dois países ainda estão indissociavelmente dependentes economicamente e profundamente interligados politicamente, e Biden e Xi têm de mostrar que podem manter um diálogo construtivo. Nem o estilo amigável da reunião de São Francisco conseguiu ocultar a realidade subjacente, os EUA e a China enfrentam uma rivalidade ativa e perigosa, uma competição que coloca dois sistemas diferentes um contra o outro, com muitas questões aparentemente intratáveis que os levam ao confronto, com cada lado a ver o outro como uma ameaça séria.

A Estratégia de Segurança Nacional de Biden, um documento formal exigido pelo Congresso, afirma que a China é "o único concorrente com a intenção de remodelar a ordem internacional e, cada vez mais, com o poder económico, diplomático, militar e tecnológico para o fazer". Cerca de 60% dos americanos vêem a China de forma hostil, e aproximadamente o mesmo número preocupa-se com o facto de a China ser uma "ameaça crítica", com mais de 70% dos Republicanos a adotar esta linha dura. Será que o tom positivo da reunião de São Francisco se vai manter?

Será posto à prova durante um ano de eleições presidenciais nos EUA, em que Biden será forçado pela política eleitoral a voltar à retórica agressiva da campanha, mostrando que é "duro" em relação à China. Já acenou com a cabeça perante a exigência e poucas horas depois de se encontrar com Xi, Biden confirmou que considera Xi Jinping um ditador. O Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês limitou-se a criticar seriamente a declaração.

Trump, o adversário praticamente certo de Biden em novembro de 2024, não perderá uma oportunidade de atacar Biden pelo seu diálogo com a China, tendo já afirmado que Biden é "propriedade da China... um candidato da Manchúria".

Nesta perspetiva, podemos encarar positivamente, mas com cautela a importante reunião de São Francisco. O mundo precisa que o diálogo continue. Esperemos que, apesar das preocupações políticas internas, os dois líderes demonstrem sabedoria suficiente para manter, pelo menos, a aparência de um diálogo razoável e aberto.

QOSHE - Biden e Xi finalmente encontram-se - Patrick Siegler-Lathrop
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Biden e Xi finalmente encontram-se

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26.11.2023

Por ocasião da Cimeira da Cooperação Económica Ásia-Pacífico (APEC) em São Francisco, o Presidente Joe Biden reuniu-se com o Presidente Xi Jinping da China na semana passada durante mais de quatro horas, num esforço mútuo para melhorar o tom das relações que se tornaram cada vez mais acrimoniosas desde a sua última reunião há um ano em Bali. Ambos declararam que a reunião foi produtiva, tendo Biden assinalado vários resultados com satisfação.

Talvez o resultado concreto mais importante tenha sido o restabelecimento de contactos regulares entre as forças armadas de ambos os países - interrompidos pelos chineses após a visita de Nancy Pelosi a Taiwan no ano passado - um passo essencial que os EUA pretendiam dar, para minimizar o risco de que um incidente militar acidental possa conduzir a uma rápida escalada. A China também concordou, em princípio, em restringir a exportação para os EUA de produtos químicos utilizados para fabricar fentanil, uma droga que matou mais de 73.000 americanos em 2022, e os dois líderes concordaram que os seus especialistas se reuniriam para discutir os riscos associados à IA.

Aparentemente, Xi parece ter tirado menos proveito da reunião do que Biden apesar de o governo dos EUA ter........

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