Se há características que devem ser reconhecidas em Cavaco Silva são a sua persistência e determinação. O grande líder do PPD/PSD escreveu hoje mais um artigo de opinião.

Desta feita tenta convencer os portugueses de que as contas certas são irrelevantes, mesmo que ainda recentemente as agências internacionais tenham provado o contrário. Para Cavaco, as contas certas são uma "armadilha que o Governo socialista montou para (...) desviar a atenção (...) dos graves problemas do país".

Não vale a pena tecer aqui comentários anti tecnocratas. Em bom rigor, a tecnocracia caiu em desuso há décadas. Quando regressou mais tarde à esfera política, fê-lo pela mão dos políticos mas apenas para contar com o apoio essencial dos técnicos enquanto meio auxiliar na decisão política.

Voltando ao artigo de opinião do conceituado professor de economia, destaque-se a sua sugestão de implementação do orçamento base zero. A primeira questão é esta: será que o futuro Secretário-geral do PS estará nessa disposição?

Sim, do PS, porque se Cavaco entendesse que Luís Montenegro poderia vencer as eleições já Montenegro teria anunciado essa medida (como o bom aluno que tem sido). Portanto, até agora e em matéria de propostas apresentadas pelo PSD, incluindo no congresso do partido, o resultado é sofrível.

Já que se mencionou o Congresso do PSD, cujo lema foi UNIR PORTUGAL, a pouco mais se assistiu do que um saudosista regresso ao passado. UNIR PORTUGAL através de um abraço pomposo aos líderes de há 30 anos, Cavaco Silva e Manuela Ferreira Leite. Então e os novos líderes? E o futuro?

Como pretende o PSD de Montenegro unir Portugal se não consegue unir o próprio partido? Onde estiveram os ex-primeiros-ministros Durão Barroso, Santana Lopes e Passos Coelho? E as figuras que não chegaram a exercer o poder, como Fernando Nogueira, Marques Mendes, Luis Filipe Menezes ou Rui Rio? Como pode algum partido ambicionar unir seja o que for quando abafa 30 anos de história política?

Presentemente, o denominador comum no PSD é responsabilizar os outros pelo crescimento da extrema direita quando o próprio partido não consegue unir ou arrumar a casa. É no mínimo estranho e preocupante ouvir alguém a falar de futuro, de união ou de alternativa, quando se rodeia apenas do passado e apaga a sua própria história.

Diz o ditado popular: "Diz-me com quem andas, dir-te-ei quem és". Neste caso, basta ver com quem não anda Luís Montenegro para saber quem é, o que pode oferecer ao país e que não é desta que o PSD poderá ser uma alternativa ao PS.

O país e o mundo em que vivemos mudaram muito. De tal forma que louvar e querer perpetuar o que (respeitavelmente) se viveu em 1995 é obsoleto e demonstra uma enorme falta de visão contemporânea e de futuro. Portugal não esquece datas, nem a sua história, mas o que nos move verdadeiramente é o que ainda está para vir, não aquilo que já passou.

QOSHE - Poderá o epicentro da desunião unir Portugal? - Manuel Portugal Lage
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Poderá o epicentro da desunião unir Portugal?

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05.12.2023

Se há características que devem ser reconhecidas em Cavaco Silva são a sua persistência e determinação. O grande líder do PPD/PSD escreveu hoje mais um artigo de opinião.

Desta feita tenta convencer os portugueses de que as contas certas são irrelevantes, mesmo que ainda recentemente as agências internacionais tenham provado o contrário. Para Cavaco, as contas certas são uma "armadilha que o Governo socialista montou para (...) desviar a atenção (...) dos graves problemas do país".

Não vale a pena tecer aqui comentários anti tecnocratas. Em bom rigor, a tecnocracia caiu em desuso há décadas. Quando regressou mais tarde à esfera política, fê-lo pela mão dos políticos mas apenas para contar com o apoio........

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