Quando toda a gente pensava que estas eleições iam ser decididas por um voto de impulso, de última hora, daqueles que até ao fim ainda ponderavam as propostas e as performances dos protagonistas, percebemos que uma larguíssima maioria tinha desde há meses decidido mudar e mudar com protesto.
Percebemos isso pela magnitude do salto de um partido que passa de 12 para 50 mandatos e pela distribuição geográfica deste voto.
Em Portugal continental, só no concelho do Porto o voto nesse partido não ultrapassou os 10%. É demasiada abrangência geográfica para decisões de última hora.
Por outro lado, em Faro, onde a votação chegou a quase 30% e o partido ganhou o distrito, as razões de protesto são profundas e muito antigas sendo compreensível a desistência no voto moderado, mas ineficaz.
Alguém dizia, em imagem poderosa, que no Algarve só quando as piscinas na Quinta do Lago estão vazias é que as autoridades acordam para o problema da endémica falta de água.
Estamos sempre a surpreendermo-nos com aquilo de que estávamos à espera, dizia o saudoso Professor Eduardo Lourenço, e o resultado destas eleições foi uma prova cabal disso mesmo.
Sabemos e sentimos que há um conjunto de problemas que têm de ser enfrentados e resolvidos de uma vez e sabemos que já esgotamos todos os prazos aceitáveis. Devíamos saber que a vida tem horror ao vazio e que o partido das soluções simples e rápidas havia de chegar. Para manifestar protesto e desencanto ninguém quer saber se as soluções que apresenta são também erradas ou mesmo inexequíveis.
Aqui Chegados seria importante perceber que este voto de protesto é, afinal, uma oportunidade.
Em Portugal este voto é sobretudo um voto pela qualidade da governação.
Não é, como em vários países da Europa, um voto contra a multiplicidade étnica ou confessional ou mesmo pela falta de segurança associada a estes fatores.
Portugal é o 7º país mais seguro do mundo, tem menos de 10% de não residentes sendo 40% destes Brasileiros, e o país confessa-se maioritariamente Cristão/Católico.
Repito, em Portugal este voto é sobretudo um voto pela qualidade da governação.
Vários fatores se alinham para que um governo que parte com tantas incertezas possa, afinal, congregar vontades e implementar mudanças.
Mas isso, fica para a próxima conversa…

QOSHE - Boletim de voto - Carla Fonseca
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Boletim de voto

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24.03.2024

Quando toda a gente pensava que estas eleições iam ser decididas por um voto de impulso, de última hora, daqueles que até ao fim ainda ponderavam as propostas e as performances dos protagonistas, percebemos que uma larguíssima maioria tinha desde há meses decidido mudar e mudar com protesto.
Percebemos isso pela magnitude do salto de um partido que passa de 12 para 50 mandatos e pela distribuição geográfica deste voto.
Em Portugal continental, só no concelho do Porto o voto nesse partido não ultrapassou os 10%. É demasiada abrangência geográfica para........

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