Gosto do Natal, é mesmo a época que prefiro em todo o ano. Porque voltamos todos, de certa forma, a ser crianças, a preservar memórias e tradições, a acreditar que os sonhos, mesmo os milagres, são possíveis. No meu caso, os Natais passados trazem-me de volta a missa do Galo, quase à meia noite, recheada de cânticos tradicionais, e o grande madeiro perto da Igreja, a aquecer as noites bem frias da Beira Interior. O tempo mitifica estas memórias, por entre o riso das crianças e o cheiro das filhoses...
2023 foi mais um ano estranho, numa já longa série, depois da crise financeira global de 2008-09, da pandemia no início da década seguinte, da guerra na Ucrânia desde 2022, do tremendo conflito em Israel e Gaza. E mesmo agora, os ataques no Mar Vermelho conduzidos por um grupo rebelde do Iemen em solidariedade com a Palestina, numa das rotas comerciais mais importantes do mundo. Por lá passam 12% do comércio global de petróleo e cerca de 8% do gás natural liquefeito, mais de 15.000 grandes navios que anualmente se dirigem pelo Canal do Suez para o Mediterrâneo, e que servem de ligação entre o Ocidente eo Oriente. Diversas companhias já declararam que deixarão de seguir essa rota, o que se estima que venha a ter como consequência atrasos de 11 dias e um encarecimento significativo dos produtos.
As notícias que nos chegam da Europa não são famosas. A economia alemã deverá cair cerca de 0,3% em 2023, e o risco da recessão rodeia também o Reino Unido. A zona Euro fica marcada por uma recuperação muito modesta depois da expansão pós-pandémica em 2021 e 2022. A política monetária lá foi fazendo o seu percurso, com o aumento dos juros para controlar a inflação de 6.5% em 2023, mas o comércio mundial deu pouco suporte. Os responsáveis do Banco Central Europeu defendem que embora a taxa de inflação tenha tido claramente uma evolução favorável, a subida dos custos salariais num período em que a produtividade se tem mantido, contribui para uma pressão inflacionista que ainda não permite a diminuição nas taxas de juro. Já a economia chinesa cresceu ainda de forma significativa, mas as previsões para 2024 e 2025 indiciam um abrandamento, segundo dados do Banco Mundial.
Em Portugal, de acordo com a Comissão Europeia, as taxas de atividade e o emprego mantiveram-se elevadas em 2023. Prevê-se que a taxa de crescimento do PIB seja de 2,2% , bem acima dos 0,6% previstos para a União Europeia ou para a zona Euro, apesar da contração da procura mundial. Ainda que marcado por algum abrandamento, o emprego no turismo, na construção e nos serviços administrativos aumentou face ao ano anterior, a inflação seguiu uma tendência decrescente ainda que os salários tenham aumentado. A preocupação com o controlo da dívida pública, num contexto de subida das taxas de juro, permitiu uma forte contestação salarial por parte de alguns setores de atividade, que conjugada com a pressão política e erosão institucional conduziu à queda do governo. Sobre a economia, sobrevoa um ambiente envolvente em que as ameaças de práticas corruptivas se defrontam no contexto justicialista de um Ministério Público sem prestação pública de contas.
Fala-se por agora muito de unicórnios, animais mitológicos, que no caso de empresas atingem uma valorização de 1.000 milhões de dólares, sem ter presença na bolsa. Enfim, o sonho de todos os empreendedores, quase sempre na área das tecnologias. É o caso do Facebook, da Uber ou da Airbnb por exemplo. São, em geral, empresas que desenvolvem estratégias comerciais que colocam o cliente no centro, que têm como grandes aliados as redes sociais e têm uma mentalidade de crescimento global e acelerado. 48% são americanas e 26% chinesas, mas em Portugal (2022) são conhecidas sete, todas elas nascidas por cá mas com sedes oficiais por onde circula o dinheiro. A Farfetch está em crise , com ações suspensas na Bolsa de Nova Iorque. Aparentemente terá evitado a insolvência através de uma operação de venda à Coupang, uma empresa sul coreana, a saída da bolsa e perdas para todos os investidores.
Esperemos que nada disto indicie qualquer coisa para 2024. Que o Natal possa ser o mais feliz possível para todos, sob o manto da memória e do otimismo.

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“Unicórnios e Natal 2023”

8 0
22.12.2023

Gosto do Natal, é mesmo a época que prefiro em todo o ano. Porque voltamos todos, de certa forma, a ser crianças, a preservar memórias e tradições, a acreditar que os sonhos, mesmo os milagres, são possíveis. No meu caso, os Natais passados trazem-me de volta a missa do Galo, quase à meia noite, recheada de cânticos tradicionais, e o grande madeiro perto da Igreja, a aquecer as noites bem frias da Beira Interior. O tempo mitifica estas memórias, por entre o riso das crianças e o cheiro das filhoses...
2023 foi mais um ano estranho, numa já longa série, depois da crise financeira global de 2008-09, da pandemia no início da década seguinte, da guerra na Ucrânia desde 2022, do tremendo conflito em Israel e Gaza. E mesmo agora, os ataques no Mar Vermelho conduzidos por um grupo rebelde do Iemen em solidariedade com a Palestina, numa das rotas comerciais mais importantes do mundo. Por lá passam 12% do comércio global de petróleo e cerca de 8% do gás natural liquefeito, mais de 15.000 grandes navios que anualmente se dirigem pelo Canal do Suez para o Mediterrâneo, e que servem de ligação entre o Ocidente eo Oriente.........

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