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“Mundo mundo vasto mundo, se eu me chamasse Raimundo seria uma rima, não seria uma solução. Mundo mundo vasto mundo, mais vasto é meu coração. Eu não devia te dizer mas essa lua mas esse conhaque botam a gente comovido como o diabo.” (Poema de sete faces – Carlos Drummond de Andrade)

Não cito o bardo à toa, Drummond falava da inadequação do verso moderno, numa batalha entre rimas e versos brancos, de desconstruções e manifestos, diante de um processo de perda do elemento humano na literatura, que ao fim e ao cabo não é uma torre de cristal diante de um mundo que agoniza. Assim também a teoria, como em Asas do desejo, de Win Wenders, nós, reles anjos caídos, devemos ter a dimensão humano, o desejo, a delícia e a angústia de nossa dimensão efêmera e mortal.

Pode parecer um nariz de cera este introito, e também o é, mas no mundo em que parte do discurso político também virou um nariz de cera performático de lives portentosas na web, pelo menos me permitam um que seja poético e literário, sem pileques homéricos de revoluções imaginárias, que descambam para um fantástico mundo de Bob onde falta só um detalhe: o mundo real.

Nunca dantes na história deste país, e talvez e com certeza, pelas potencialidades narcisistas que a web dá, a esquerda brasileira foi tão triunfalista. Assusta o ar de certezas sobre tudo no mundo que os neo-especialistas da web, que podem falar de astrologia a gulags, das medidas do Haddad as nuanças do Afeganistão, com a mesma certeza e ar triunfal de especialistas que Rodrigo Hilbert nos anunciaria em uma receita de lagosta pescada por ele mesmo e feita num fogo a lenha que ele acabou de acender em largados e pelados.

Estamos na antessala do fascismo, enfrentando uma ameaça permanente e real, e, ao ouvir alguns queridos camaradas nossos na web, penso mesmo que é apenas falta de vontade, ou e a má vontade dos conciliadores Lula e Haddad, que não marchamos ao meio dia de Brasília, num sol de 40 graus do cerrado, em grossos de casacos russos da Sibéria, para tomar o Palácio de Inverno, agora sito no Palácio do Planalto, cantando Bella Ciao, comandados pelas reencarnações de Lênin, Trotsky e Stálin que nos mostram o verdadeiro caminho pelo qual a classe operária (última chamada) vá ao paraíso.

Mas, infelizmente, missivi, o buraco é bem mais embaixo nesta casa Noca que é nosso Pindorama.

Chamo de socialismo mágico, ou socialismo Peter Pan esta confusa mitologia de permanente programa máximo que parte da esquerda brasileira propõe, o tempo todo, para qualquer conjuntura. Assim, Lula é apenas e tão somente um conciliador barato que está propenso a fazer todo e qualquer tipo de acordo com a nossa elite ou nossa burguesia para evitar a revolução, que sairá de alguma reunião do DCE da UFF em que possam discutir aos brados os mais extremistas ideólogos do PSTU, do PCB ou da ultra-esquerda psolista.

A revolução é um ato mágico volitivo, questão de vontade e de direção e a realidade brasileira é apenas um detalha constrangedor que devemos evitar.

Assim, nos últimos meses (sem falar nas manadas de julho de 2013, da oposição histérica e sistemática aos 4 governos do PT, ao “fora todos”, que pariu Mateus, quer dizer Bolsonaro, e descambou no impeachment de Dilma) tenho escutado ser retomada a velha cantilena de que saímos do forno para cair na frigideira, que se era para conciliar tanto, talvez melhor fosse perder a eleição, ou mesmo a baboseira de que não há diferença entre Bolsonaro e Lula ou entre Paulo Guedes e Haddad e que, ao fim e ao cabo, Lula seria apenas um administrador melhor do capitalismo do que Bolsonaro.

O problema destas análises, o primeiro de todos, é uma antropomorfização dos sujeitos coletivos e um rebaixamento da análise política a uma análise maniqueísta, positivista e sem dialética e realidade.

O traço comum destas análises e que a dupla “classe operária” x “burguesia” (às vezes trocada por elite) é operada como um ser real, antropomorfizada, estático, como numa arena permanente de enfrentamento na qual só não chegamos a revolução pela traição permanente de líderes conciliadores que todo o tempo conspiram contra a revolução.

No socialismo mágico Peter Pan, no fundo, a revolução é um passe de mágica, um momento de transe no qual o caboclo Lênin baixará no terreiro, desde que cantemos o ponto de candomblé correto e não sejamos “conciliadores” ou “reformistas”. Categorias históricas que devem ser definidas concretamente no tempo, no espaço e na práxis real viram só xingamentos e apedrejamentos entre vários grupos.

Esta verborragia do programa máximo para toda e qualquer política (que, no fundo, esconde a falta de conhecimento da realidade e a falta de política real para toda e qualquer área) me faz lembrar a política do Partido Comunista Alemão às vésperas da subida de Hitler ao poder. A história se repete, a primeira vez como tragédia, mas, na farsa tupiniquim, a versão Bento Carneiro, vampiro brasileiro da falta de visão do KPD é uma ópera bufa escrita por Latino. Na Alemanha, às vésperas de tomada do poder pelos nazistas, o KPD considerava que o seu maior inimigo eram os social democratas, o SPD.

Com a retórica do “Social fascismo”, não concediam nenhuma diferença aos nazis e aos social democratas. Ressentidos (com razão) com a repressão violenta à tentativa de revolução em Munique, no qual foram assassinados, pelas “brigadas livres” (uma força paramilitar de ex soldados da primeira guerra, a soldo da república de Weimar, e que acabariam sendo a mão de obra tanto da SS quanto da SA nazista), os comunistas ficaram cegos à ascensão nazista. Votaram juntos com os nazistas pela dissolução do Reichstag e deram força a um novo sufrágio que deu 37% das cadeiras aos nazistas e abriu às portas da Alemanha para Hitler. Só às vésperas das noites das grandes tochas o KPD mudou de orientação e passou a clamar por uma frente antifascista. Era muito tarde, a falta análise real da conjuntura, a visão de similaridade entre social democratas e fascistas, na retórica esquizofrênica do real fascismo, a ideia tosca de que o fascismo seria um fenômeno passageiro de meses, levou tanto o KPD quanto o PSD para os campos de concentração e o extermínio em conjunto e, finalmente, de mãos dadas.

O detalhe é que não dá nem para comparar o KPD ou o SPD a nossa ultraesquerda. Juntos tinham mais de um terço do eleitorado alemão, ambos tinham forças paramilitares de enfrentamento armadas e treinadas, capazes (até antes de Hitler assumir o poder e Göring comandar a polícia e usá-la para apoiar a SS e a SA e reprimir comunistas e social democratas) de enfrentar e afugentar os camisas pardas.

As brigadas paramilitares comunistas e social democratas controlavam zonas operárias inteiras e tinham mais de 60% do voto da classe operária (aqui estamos falando de classe operária fabril mesmo).

Nossa esquerda Peter Pan se organiza melhor na Praça São Salvador e no DCE da UFF do que em qualquer favela e periferia, não tem 3% do voto da classe trabalhadora (e estou usando classe trabalhadora como o conjunto da classe em lugar de uma classe operária fabril), não arregimenta grandes massas, não tem armas, grupo militar ou paramilitar armado, tropa de enfrentamento, experiência em combates de rua, etc.

Se a gente hoje, quase cem anos depois da ascensão de Hitler pode entender os equívocos do SPD e do KPD que levaram Hitler ao poder na Alemanha, não tem como comparar a organização e a força eleitoral dos social democratas e dos comunistas teutos com a insipiência em organização e voto da esquerda Peter Pan no Brasil. Se na Alemanha os comunistas falavam em revolução, é bom lembrar que a Alemanha fez uma revolução socialista de fato entre 1918 e 1919, e só não evoluiu para uma república bolchevique, com a expropriação dos meios de produção, porque o SPD preferiu proclamar uma república democrático burguesa e instituir a república de Weimar governando em conjunto com partidos da direita democrática, incluindo o Partido do Centro, católico. O SPD inclusive reprimiu a revolta espartacista e deixou as Brigadas Livres reprimirem e executaram as lideranças comunistas.

A possibilidade de revolução socialista na Alemanha eram reais, não eram só um conjunto de frases altissonantes tomadas de uma péssima leitura dos índices de Marx, Lênin ou Trotsky e Stálin, de partidos que tem zero penetração na classe operária.

O socialismo mágico opera retirando do marxismo a práxis. As palavras de ordem são revolucionárias, mas jogadas como uma sopa de letrinhas, ou um tabuleiro de palavras cruzadas, sobre um mundo imaginário. Os partidos da classe operária não falam para a classe operária, falam para uma pequena plateia de estudantes universitários e ou funcionários públicos radicalizados. São partidos da classe média culta politizada com uma retórica sectária e pseudo-avançada.

E porque digo isto? Primeiro porque se utilizam de categorias que eram reais na análise de Lênin, Trotsky, Gramsci, Rosa Luxemburgo: classe operária, proletariado, movimento social, sovietes, revolução; mas que para eles são apenas operações de antropomorfização de um discurso positivista não dialético que fetichizou a teoria.

Vejamos, para que classe operária falam nossos ultra-esquerdistas? A análise teórica paira sobre um modelo que supostamente seria leninista ou trotskysta, mas que se esboça sobre sujeitos coletivos do início do século XX e não do século XXI. A classe operária para a qual Marx construiu sua teoria simplesmente não existe mais. Marx escreveu uma teoria política para uma classe operária nascente e que se tornou hegemônica dentro do proletariado na França e na Inglaterra (mais ainda não na Alemanha), então ele operava com sujeitos coletivos reais, que se organizavam em grandes massas que afluíram para um Partido Comunista que sequer existia quando ele escreveu o manifesto.

Toda a teoria revolucionária marxista escrita no século XX foi para esta classe operária pujante, que chegou a ser mais de 30% da mão de obra no Brasil.

Hoje a classe operária no sentido fabril, no Brasil, não chega a 12% da mão de obra. Se antes se podia pensar na classe operária como exército de vanguarda do proletariado e como maioria inclusive numérica e ala combatente organizada deste proletariado, o novo e difuso mundo capitalista pós fordista, toyotistas, de desemprego estrutural e crônico e de um novo e precário mundo do trabalho desafia a teoria marxista.

Simplesmente uma boa maioria de marxistas brasileiros ainda opera o materialismo dialético como se ainda existisse o capitalismo fordistas e estivéssemos na Alemanha de 30 ou na Rússia de 1917.

Antes que alguém pense que sou contrarrevolucionário e defendo a tese estúpida e a-histórica de que o capitalismo se tornou um sistema atemporal e eterno e chegamos ao fim da história, estou operando apenas e tão somente dentro do marxismo.

Marx dizia que a humanidade não se coloca problemas para os quais, ainda que embrionariamente, as soluções não possam ser materializadas. A mudança de organização da força de trabalho do capitalismo leva a que necessariamente revejamos nossas estratégias e entendamos que precisamos de adaptar a teoria para um novo mundo capitalista. Sem teoria revolucionária não há movimento revolucionário, e sem movimento revolucionário não há revolução. Não é com control v + control c de O Estado e a revolução, de Lênin, que vamos enfrentar o capitalismo destrutivo do século XXI.

O que torna o marxismo pujante é que ele não tem ideias absolutas nem aprioris. Sim, a configuração do proletariado (que aumenta de tamanho e de proporção com a proletarização de vastas camadas médias urbanas e rurais) mudou, com a diminuição do tamanho e da força da classe operária clássica. A configuração da luta de classes para um proletariado difuso em trabalhos muitas vezes informais, sem que se organizem em grandes sindicatos ou trabalhem juntos num grande exército industrial organizado em gigantescas empresas, nos coloca a tarefa de reconstruir nossa práxis e reinventar o marxismo.

Não à toa, o socialismo mágico Peter Pan opera com mitologias. Os sujeitos revolucionários deixam de ser sujeitos históricos e se tornam seres dotados de poderes absolutos, assim a teoria se reduz a uma espécie de religião canônica ateia de Lênin, Trotsky ou Stálin, não mais no estudo da eficácia e pertinência de seus escritos frente à realidade. E aquilo que Gramsci chamava de messianismo proletário, que funciona em momentos de crise para fazer frente à apostasia e deserção da luta de classes, mas que pode descambar para um estéril rito de adoração que troca a análise dialética e materialista da realidade por confusos jargões que muito se assemelham aos que os neopentecostais fazem aplicando o Velho Testamento ao mundo moderno.

O capitalismo, como qualquer outro modo de produção não é eterno. O que mostra a atualidade do marxismo não são suas aporias, ou mesmo as transformações no mundo do trabalho que desarticularam os partidos socialistas e comunistas e que levaram muitos a cair no canto de sereia pós moderno do fim das Grandes Narrativas que, ao fim e ao cabo, é a ideia estúpida do fim da história, que parece ser ateia, mas recoloca um deus ex machina e capitalista de volta no cenário, para ter no gênesis criado a humanidade no barros da fábricas só para se reproduzirem como meros seres produtores de valor.

A atualidade do marxismo se concretiza na profecia de Marx sobre a crise estrutural e final do capitalismo (final no sentido de que o capitalismo pode até se reinventar, mas só sai das suas crises gerando crises ainda maiores), porque a incorporação crescente de trabalho morto à composição orgânica do Capital não se faz sem se condenar gigantescas massas da humanidade á miséria e ao desemprego estrutural permanente, gerando uma crise permanente de migrações, de guerras e ecológica, ameaçando de maneira real a humanidade com a extinção.

Nunca dantes o dístico de Rosa Luxemburgo, Socialismo ou barbárie, se mostrou tão realista.

Mas, voltando ao assunto principal deste artigo longo e bem tedioso, vamos voltando para a treta com a esquerda Peter Pan. Nossa esquerda mágica Peter Pan, que não quer crescer e parece fadada a disputar o poder apenas nos DCEs, opera com categorias eternas e antropomorfização deste conceito de classe operária que se situa no século XX e fora do Brasil. Do Brasil conhecem muito pouco, a grande maioria não consegue distinguir o ramal Gramacho do ramal Japeri (não sabem onde fica um e outro), falam para uma plateia radicalizada de classe média, num discurso acadêmico de classe média, que só pode ser digerido por ela.

Em lugar de estarem assustado com o fato de o fascismo brasileiro ter tido 49,5% dos votos válidos no segundo turno (bem mais do que Hitler teve para presidente na Alemanha, 37%), preferem fazer oposição sistemática ao governo de coalizão que derrotou (ainda que temporariamente o perigo fascista). Num discurso moralista e apolítico, cobram do governo Lula uma agenda e um programa que nem foi o que venceu a eleição nem é o que a frente vencedora sinalizou.

Se na Alemanha de Weimar os social democratas operavam com uma aliança com liberais e um Partido do Centro Católico, às vezes, até com conservadores, nós só nos salvamos do fascismo no Brasil por conta da lembrança feliz de que o pobre comeu no governo Lula. Nossa frente partidária, neste semiparlamentarismo que se tornou o Brasil, é frágil e refém deste agrupamento partidário que se convencionou chamar de Centrão, mas que é composto por um aglomerado de partidos conservadores e de direita que se especializou em viver da burocracia da coisa pública.

Temos 1/3 apenas da Câmara e 1/5 do senado, sequer temos maioria hoje para evitar um impeachment sozinhos, caso rompamos nossos compromissos de governo.

E qual é o discurso moralista da esquerda Peter Pan?

Que Lula tem que usar o programa máximo sempre. Que basicamente teria que governar por decretos, acabar com a autonomia do Banco Central com um tapa, dar um chute na bunda de Arthur Lira e Rodrigo Pacheco e, finalizando este programa profundo e bem calcado na realidade, “governar com o apoio do povo”.

Este discurso pode ganhar eleição de DCE, pode garantir uma boa transa numa chopada estudantil, pode granjear um milhão de seguidores para os chavosos da ultra-esquerda, mas não nos salva do perigo fascismo.

O negócio é o seguinte, cumpadi, papo reto, “em que mundo vocês vivem?”

Não, não dá para Lula “governar com o povo”, porque ele não foi eleito na ascensão do movimento social, muito menos com um voto mais à esquerda, foi eleito numa composição de todos contra o fascismo. E olha que estou longe de ser aquele povo que justifica tudo que o PT faz com o discurso tosco de pragmatismo (mas isto é assunto para outra treta, um problema de cada vez), mas este papinho de que basta chamar o povo para ocupar Brasília é colóquio flácido para bovídeo dormitar.

Não conseguimos colocar povo na rua sequer para evitar o impeachment, e não evitamos Temer de tomar posse ou governar, não depusemos Bolsonaro com o povo na rua e não, o 8 de janeiro não chegou a um golpe fascista não por nossa resistência ou organização, mas sim pela vacilação e dúvidas do outro lado.

Temos minoria parlamentar expressa e estamos desorganizados. Menos de 10% dos trabalhadores formais está sindicalizados e menos de 50% da classe trabalhadora tem trabalho formal. Hoje não temos nenhum grande movimento urbano de massas e o PT, o maior partido político da América Latina é muito mais uma máquina eleitoral (o que é uma crítica, não um elogio) do que um partido social democrata clássico de expressão de movimento popular capaz de organizar grandes massas na rua. Não temos um Judiciário minimamente afável com nossas pautas (o mensalão e a lava jato são a prova viva disto, a virada legalista do Judiciário tem muito que ver com o medo de que os Ministros do STF também fossem vítimas de um golpe fascista), não temos maiorias nas forças armadas, muito menos na polícia.

Para os comunistas e socialistas das décadas de 20, 30 e 40, a revolução era uma arte e análise de correlação de força passava inclusive pela análise da força militar do movimento. Engels escreve um longo artigo sobre isto no fim do século XIX defendendo a organização não militar e elitoral do que viria a ser o Partido Operário Social Democrata Alemão e mostra como seria quase impossível uma revolta armada aberta diante da força dos exércitos burgueses organizados. Já para nossos amigos da esquerda Peter Pan revolução é uma palavra mágica para ser dita em lives ou nos bares para levar alguém para a cama. Não fazem nenhuma análise da força militar dos adversários e ouço, comumente, amigos, que se dizem marxistas, dizendo que deveríamos extinguir as forças armadas (assim podemos virar a Costa Rica e lotear todo o nosso litoral para milionários estadounidenses passar suas férias aqui, afinal, temos um litoral bem extenso).

Assim, não temos maioria nem nas forças armadas e nem nas policiais e, bem mais grave, para o povo que vive falando que temos que enfrentar o fascismo nas ruas, eles estão muito bem armados, tem mais de 3000 CACs e nós não temos nem atiradeira.

Uma das prioridades do governo Lula tem de ser EXTINGUIR TODA AS CACs, as CACs são os embriões das forças paramilitares fascistas. Não existe fascismo sem a conjugação de dois elementos, força eleitoral partidária (mesmo que não seja um partido centralizado como na Alemanha e na Itália) e isto já temos aqui, só olhar a votação de Bolsonaro, que simboliza este aparato nazista, em qualquer partido ou partidos em que ele contabilize seus votos; do outro lado uma força paramilitar de repressão e desordem que ele organizava no poder, debaixo de nossos narizes e que tem que ser desfeita, imediatamente.

Lula não é a continuação de Bolsonaro, Haddad não é a continuação de Paulo Guedes. Nossos socialistas mágicos Peter Pan operam com categorias absolutas e fora da realidade, nosso frágil governo, nascido de uma composição mais ampla do que gostaríamos, corresponde a uma tarefa fundamental atual da classe trabalhadora brasileira como um todo, neste momento, desmontar a estrutura fascista que está forte, gigantesca e que nos ameaça permanentemente.

O sucesso do governo Lula nestes 4 anos pode e tem que nos dar fôlego para um sufrágio eleitoral maior em 2026, com um Congresso que não seja tão conservador e reacionário, o que faz com que Lula esteja sempre no fio da navalha.

Os que fingem lutar pelo socialismo utilizando do programa máximo, só para desgastar o atual governo, só jogam água nas pás do moinho da reação. Não aprenderam nada com 2013. Primeiro pariram um golpe que resultou um governo semifascista, parecem empenhados agora para que tenhamos um governo fascista por inteiro.

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A esquerda Peter Pan, o socialismo mágico, e a tomada do Palácio de Inverno em ritmo de baile da Ilha Fiscal

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07.11.2023

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“Mundo mundo vasto mundo, se eu me chamasse Raimundo seria uma rima, não seria uma solução. Mundo mundo vasto mundo, mais vasto é meu coração. Eu não devia te dizer mas essa lua mas esse conhaque botam a gente comovido como o diabo.” (Poema de sete faces – Carlos Drummond de Andrade)

Não cito o bardo à toa, Drummond falava da inadequação do verso moderno, numa batalha entre rimas e versos brancos, de desconstruções e manifestos, diante de um processo de perda do elemento humano na literatura, que ao fim e ao cabo não é uma torre de cristal diante de um mundo que agoniza. Assim também a teoria, como em Asas do desejo, de Win Wenders, nós, reles anjos caídos, devemos ter a dimensão humano, o desejo, a delícia e a angústia de nossa dimensão efêmera e mortal.

Pode parecer um nariz de cera este introito, e também o é, mas no mundo em que parte do discurso político também virou um nariz de cera performático de lives portentosas na web, pelo menos me permitam um que seja poético e literário, sem pileques homéricos de revoluções imaginárias, que descambam para um fantástico mundo de Bob onde falta só um detalhe: o mundo real.

Nunca dantes na história deste país, e talvez e com certeza, pelas potencialidades narcisistas que a web dá, a esquerda brasileira foi tão triunfalista. Assusta o ar de certezas sobre tudo no mundo que os neo-especialistas da web, que podem falar de astrologia a gulags, das medidas do Haddad as nuanças do Afeganistão, com a mesma certeza e ar triunfal de especialistas que Rodrigo Hilbert nos anunciaria em uma receita de lagosta pescada por ele mesmo e feita num fogo a lenha que ele acabou de acender em largados e pelados.

Estamos na antessala do fascismo, enfrentando uma ameaça permanente e real, e, ao ouvir alguns queridos camaradas nossos na web, penso mesmo que é apenas falta de vontade, ou e a má vontade dos conciliadores Lula e Haddad, que não marchamos ao meio dia de Brasília, num sol de 40 graus do cerrado, em grossos de casacos russos da Sibéria, para tomar o Palácio de Inverno, agora sito no Palácio do Planalto, cantando Bella Ciao, comandados pelas reencarnações de Lênin, Trotsky e Stálin que nos mostram o verdadeiro caminho pelo qual a classe operária (última chamada) vá ao paraíso.

Mas, infelizmente, missivi, o buraco é bem mais embaixo nesta casa Noca que é nosso Pindorama.

Chamo de socialismo mágico, ou socialismo Peter Pan esta confusa mitologia de permanente programa máximo que parte da esquerda brasileira propõe, o tempo todo, para qualquer conjuntura. Assim, Lula é apenas e tão somente um conciliador barato que está propenso a fazer todo e qualquer tipo de acordo com a nossa elite ou nossa burguesia para evitar a revolução, que sairá de alguma reunião do DCE da UFF em que possam discutir aos brados os mais extremistas ideólogos do PSTU, do PCB ou da ultra-esquerda psolista.

A revolução é um ato mágico volitivo, questão de vontade e de direção e a realidade brasileira é apenas um detalha constrangedor que devemos evitar.

Assim, nos últimos meses (sem falar nas manadas de julho de 2013, da oposição histérica e sistemática aos 4 governos do PT, ao “fora todos”, que pariu Mateus, quer dizer Bolsonaro, e descambou no impeachment de Dilma) tenho escutado ser retomada a velha cantilena de que saímos do forno para cair na frigideira, que se era para conciliar tanto, talvez melhor fosse perder a eleição, ou mesmo a baboseira de que não há diferença entre Bolsonaro e Lula ou entre Paulo Guedes e Haddad e que, ao fim e ao cabo, Lula seria apenas um administrador melhor do capitalismo do que Bolsonaro.

O problema destas análises, o primeiro de todos, é uma antropomorfização dos sujeitos coletivos e um rebaixamento da análise política a uma análise maniqueísta, positivista e sem dialética e realidade.

O traço comum destas análises e que a dupla “classe operária” x “burguesia” (às vezes trocada por elite) é operada como um ser real, antropomorfizada, estático, como numa arena permanente de enfrentamento na qual só não chegamos a revolução pela traição permanente de líderes conciliadores que todo o tempo conspiram contra a revolução.

No socialismo mágico Peter Pan, no fundo, a revolução é um passe de mágica, um momento de transe no qual o caboclo Lênin baixará no terreiro, desde que cantemos o ponto de candomblé correto e não sejamos “conciliadores” ou “reformistas”. Categorias históricas que devem ser definidas concretamente no tempo, no espaço e na práxis real viram só xingamentos e apedrejamentos entre vários grupos.

Esta verborragia do programa máximo para toda e qualquer política (que, no fundo, esconde a falta de conhecimento da realidade e a falta de política real para toda e qualquer área) me faz lembrar a política do Partido Comunista Alemão às vésperas da subida de Hitler ao poder. A história se repete, a primeira vez como tragédia, mas, na farsa tupiniquim, a versão Bento Carneiro, vampiro brasileiro da falta de visão do KPD é uma ópera bufa escrita por Latino. Na Alemanha, às vésperas de tomada do poder pelos nazistas, o KPD considerava que o seu maior inimigo eram os social democratas, o SPD.

Com a retórica do “Social fascismo”, não concediam nenhuma diferença aos nazis e aos social democratas. Ressentidos (com razão)........

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