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Arquitetura da distração e fatos consumados: a expansão territorial de Israel

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21.12.2025

Enquanto a atenção global é capturada por crises cuidadosamente amplificadas, o mapa do Oriente Médio está sendo redesenhado no terreno. Este artigo revela como o diversionismo estratégico do Ocidente funciona como cobertura política e midiática para a consolidação silenciosa do projeto da Grande Israel.

Quando a atenção é desviada, o território é decidido

Há momentos na história em que a guerra não se anuncia pelo estrondo das armas, mas pelo deslocamento calculado da atenção. Não é o silêncio que engana, mas o excesso de ruído. Crises sucessivas, narrativas concorrentes e urgências fabricadas passam a organizar o campo visual do mundo, criando uma paisagem saturada em que tudo parece grave, imediato e incontornável. Nesse cenário, o essencial deixa de ser visto. E é exatamente aí que o território é decidido.

O poder contemporâneo não opera apenas pela força direta, mas pela gestão da agenda. Ao definir o que deve ser observado, debatido e temido, define-se também o que pode avançar fora dos holofotes. A distração não é um efeito colateral da política internacional; ela se tornou um de seus instrumentos mais eficazes. Enquanto a atenção global é capturada por crises amplificadas e disputas narrativas incessantes, processos materiais profundos seguem seu curso no terreno, produzindo fatos que, uma vez consolidados, passam a ser tratados como realidade irreversível.

O Oriente Médio vive hoje um desses momentos críticos. Enquanto o debate internacional se desloca de um palco a outro, o mapa é reconfigurado por decisões administrativas, atos burocráticos, intervenções espaciais e normalizações silenciosas. Não se trata de movimentos improvisados ou reativos, mas de um projeto político-territorial de longa duração, executado de forma fragmentada, progressiva e estratégica. Cada passo, isoladamente, parece técnico ou circunstancial. Observados em conjunto, revelam um desenho coerente.

Este artigo parte de uma premissa simples e incômoda: quando o mundo se distrai, o poder avança. A distração cria a janela necessária para que projetos de expansão territorial se consolidem sem enfrentamento proporcional, sob a cobertura de discursos de segurança, estabilidade ou excepcionalidade permanente. O que está em jogo não é apenas uma disputa regional, mas a normalização de um método de dominação que combina controle da narrativa global e transformação material do espaço.

Ler o presente exige romper com a lógica fragmentada das manchetes e recompor a totalidade do processo em curso. Porque, quando a atenção finalmente retorna ao território, o mapa já terá mudado — e o custo histórico dessa distração recairá sobre povos inteiros, privados de autodeterminação em nome de uma ordem que se impôs enquanto ninguém olhava.

A distração como método de poder

A política internacional contemporânea não se organiza apenas pela disputa entre interesses materiais imediatos, mas pela capacidade de definir o que será percebido como central e o que será relegado à periferia da atenção. O poder, hoje, não se exerce apenas sobre territórios, mercados ou exércitos, mas sobre a própria hierarquia do visível. Controlar a agenda é controlar o ritmo da história.

A multiplicação de crises simultâneas não é, por si só, sinal de um mundo mais caótico. Ela é também expressão de um sistema que aprendeu a operar por saturação informacional. Quando tudo parece urgente, nada consegue ser acompanhado com profundidade. O resultado é uma atenção fragmentada, incapaz de recompor processos históricos em curso. Nesse ambiente, decisões estruturais passam a ser tomadas longe do escrutínio público, protegidas pela sensação permanente de emergência em outros fronts.

Os Estados Unidos desempenham papel central nessa engrenagem. Não apenas por seu poder militar ou econômico, mas por sua posição como gestor da agenda internacional, capaz de deslocar o foco global conforme seus interesses estratégicos e os de seus aliados. Guerras, negociações de paz, crises diplomáticas, sanções e declarações espetaculares funcionam como polos de atração da atenção midiática e política. Não é necessário que sejam falsas; basta que sejam amplificadas, reiteradas e enquadradas de modo a ocupar o centro do debate.

Esse mecanismo não exige coordenação conspiratória nem controle absoluto. Ele opera por incentivos estruturais. Governos reagem ao que está nos holofotes. A mídia segue o fluxo das declarações oficiais e dos conflitos mais ruidosos. Organismos internacionais adaptam suas prioridades ao clima político dominante. O que não gera atrito imediato ou escândalo visível tende a ser tratado como assunto secundário, técnico ou inevitável.

É nesse intervalo, criado pela distração, que projetos de longo prazo avançam. O diversionismo não atua negando a realidade, mas reorganizando sua percepção. Ele não elimina o conflito; ele o redistribui no tempo e no espaço, permitindo que certas frentes avancem enquanto outras concentram a atenção pública. O método é simples: fragmentar o olhar para impedir a visão do conjunto.

A história........

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