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A guerra da ética e a armadilha de 2026

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Não se trata de crime, mas de ética. Não é um caso isolado, mas uma operação política. Quem não compreender isso agora chegará a 2026 derrotado no terreno mais decisivo da guerra informacional: o moral.

A bomba semiótica já foi armada

Não se trata de um episódio isolado, de um ruído passageiro do noticiário ou de mais uma polêmica destinada ao esquecimento. O que está em curso é a ativação de uma bomba semiótica com horizonte temporal definido: 2026. Em guerras informacionais, o objetivo raramente é a explosão imediata. O que se busca é a manutenção prolongada de um estado de suspeição, capaz de corroer, pouco a pouco, a confiança pública nas instituições e nos atores que sustentam a ordem democrática.

A lógica é simples e brutalmente eficaz. Não é necessário provar crime, nem produzir condenações formais. Basta colonizar o imaginário social com a sensação difusa de que “há algo errado”. A política, nesse registro, deixa de operar no plano da evidência e passa a funcionar no plano da percepção. Aparência vira indício, indício vira culpa moral, e culpa moral, quando reiterada, transforma-se em senso comum. É assim que se constrói uma derrota antes mesmo da disputa eleitoral começar.

Esse tipo de operação não nasce do acaso nem da indignação espontânea. Ele emerge de um cálculo estratégico: identificar um ponto sensível do sistema político, inserir um elemento ambíguo e mantê-lo em circulação contínua. A ambiguidade é essencial, porque impede o fechamento do debate. Enquanto não há conclusão, o ruído permanece ativo. Enquanto o ruído permanece ativo, a bomba segue armada.

O erro recorrente do campo progressista, diante desse tipo de ofensiva, é tratar cada novo episódio como um fato desconectado, reagindo de forma fragmentada e defensiva. Essa postura ignora a dimensão estrutural do ataque. A extrema-direita, nacional e internacional, já demonstrou compreender que a disputa contemporânea não se decide apenas no campo programático ou econômico, mas sobretudo no terreno moral, onde a erosão simbólica precede a derrota política.

É precisamente por isso que o debate atual não pode ser lido como uma crise conjuntural. Ele faz parte de uma estratégia de longo curso, típica das guerras híbridas do século XXI, nas quais a informação, a ética e a confiança institucional são transformadas em armas. Quem não reconhece essa dinâmica corre o risco de disputar 2026 com o campo minado já armado sob os próprios pés.

Se o progressismo insistir em reagir apenas ao barulho do dia, sem compreender o desenho mais amplo da operação, chegará tarde demais ao momento decisivo. A bomba não precisa explodir. Basta continuar ali, silenciosa, moldando percepções, até que o dano esteja consumado.

O deslocamento do ataque: de Lula para o STF

Quando um projeto político mantém lastro social, estabilidade institucional e reconhecimento internacional, o ataque direto tende a perder eficácia. É exatamente esse o cenário do presente. Diante da dificuldade de atingir Lula frontalmente, a extrema-direita reorganiza sua ofensiva e desloca o foco para o Supremo Tribunal Federal, o principal eixo institucional de contenção do autoritarismo no Brasil contemporâneo.

Esse deslocamento não é improvisado. Ele responde a uma leitura correta do tabuleiro político. O STF não é apenas uma corte; é um pilar simbólico e material da ordem democrática. Enfraquecer sua legitimidade equivale a fragilizar todo o sistema de freios e contrapesos que impede a escalada golpista. Ao atacar o Supremo, ataca-se o governo sem citá-lo diretamente, cria-se instabilidade sem assumir o custo político de confrontar um presidente popular e prepara-se o terreno para a contestação futura do processo eleitoral.

A personalização do ataque em um ministro específico cumpre uma função instrumental. Ao reduzir o STF a um rosto, a um apelido, a uma caricatura, a extrema-direita simplifica o conflito e facilita sua circulação no imaginário social. O objetivo não é discutir decisões, fundamentos jurídicos ou o papel constitucional da Corte. O objetivo é transferir a desconfiança de um indivíduo para a instituição como um todo. Uma vez corroída a confiança no Supremo, qualquer decisão futura passa a ser percebida como suspeita, política ou ilegítima.

Essa operação é especialmente perigosa porque explora um paradoxo histórico do progressismo brasileiro. Ao longo das últimas décadas, setores democráticos passaram a defender o STF como última trincheira contra o autoritarismo. Essa defesa foi, em muitos momentos, necessária. Mas ela criou um terreno sensível: qualquer ataque ao Supremo tende a provocar uma reação defensiva automática, muitas vezes emocional e personalista. É exatamente essa reação que a extrema-direita espera provocar.

O deslocamento do ataque, portanto, não busca apenas enfraquecer o STF. Ele busca forçar o campo progressista a cometer erros estratégicos, empurrando-o para uma defesa acrítica que confunde instituição com indivíduo e princípio com blindagem. Quando isso acontece, a bomba semiótica se desloca novamente, agora para o colo do governo Lula e de sua base política, que passam a ser associados à ideia de conivência moral.

Do ponto de vista da guerra informacional, trata-se de uma manobra elegante. Ao invés de enfrentar Lula no campo econômico, social ou geopolítico, onde o governo ainda acumula vantagens, a extrema-direita escolhe o terreno da ética difusa, da suspeição permanente e da deslegitimação institucional. É um ataque indireto, mas profundamente eficaz, sobretudo em contextos pré-eleitorais.

Ignorar esse deslocamento é um erro grave. Respondê-lo de forma instintiva, sem método, é ainda pior. Compreender o movimento é o primeiro passo para neutralizá-lo. O segundo é recusar a armadilha da........

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