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“Liberdade sem socialismo, de fato, liberdade não é. Socialismo sem liberdade, realmente socialismo não pode ser.”
João Mangabeira
O vice-presidente Geraldo Alckmin, filiado ao PSB, declarou que a sua candidata à prefeitura de São Paulo é a deputada federal Tabata Amaral e que ela representaria "a verdadeira mudança" e enfatizou o papel da jovem deputada como um novo e crucial elemento na política paulistana.
O ministro Márcio França, também do PSB, reforçou apoio à deputada.
Bastou essa declaração para início da demonização do PSB, do vice-presidente nas redes, além dos ataques à deputada.
Os críticos são uns bobões e as críticas não guardam relação com o que é o PSB, aliás, nem conhecem o PSB.
O XV Congresso do PSB, que ocorreu em abril de 2022, aprovou por unanimidade o novo Manifesto e o novo Programa do partido.
Foram mais de dois anos e meio de livres discussões, debates, apresentação de ideias e sugestões que foram publicadas em seis volumes sequenciais de cadernos e livros; foi uma construção coletiva cuidadosamente trabalhada.
O programa apresenta a visão dos socialistas sobre as reformas política, do Estado, tributária e fiscal, novo federalismo, além do renascimento criativo da indústria nacional e da economia criativa como eixo de um projeto nacional de desenvolvimento, economia verde, “Amazônia 4.0”, sociedade em rede, revolução criativa na Educação, cidades criativas, dentre outros importantes temas, que em síntese propõe o desenvolvimento soberano do Brasil, sem esquecer a sua grande missão: desenvolver e implantar políticas públicas que diminuam as grandes desigualdades sociais existentes.
Por isso, os comentários que li em reportagem do 247, não podem ser da lavra de verdadeiros “progressistas”, pois, nós os progressistas apresentamos críticas e propostas substantivas, não buscamos destruir reputações. Os comentários se parecem mais com o método Olavobolsonaristas da desqualificação do oponente: “Essa fulana é a típica pobre de direita que atingiu o "sucesso" devido à malfadada "meritocracia". Como tal, não está nem aí para os que dependem do Estado pois não tiveram as oportunidades que ela teve. (...); “se esta traidora dos trabalhadores brasileiros ganhar, podem escrever, no 2º dia entrega tudo aos privatistas”; “(...) só o fato de pessoas apoiarem o nome de ninguém (Tabata) pra algo só mostra o caráter da falsa esquerda”; “Alckimin não só começou a mostrar as unhas, mas também a marca da calcinha que ele usa!”; “A esquerda que o Lemann cria com Sucrilhos e suquinho de pera.”Sobrou até para o PSB, partido que apoia Lula desde as eleições presidenciais de 1989: “só mostra que o PSB é um partido de direita, ligado aos bilionários e que engana ser de centro-esquerda pra enganar a esquerda barbie”; (não sei o que é uma “esquerda Barbie”); “A esquerda que o famigerado mercado adora” (o sabichão esqueceu que na “Carta aos brasileiros de 2002” o PT e Lula foram obrigados a capitular ao capital, o que não retirou do partido sua natureza social-democrata).
O que esperavam, que dirigentes do PSB aderissem automaticamente à candidatura do PSOL?
Sejamos cordatos, o compromisso com o PSOL é do PT e não do PSB, e as eleições são oportunidade para os partidos ampliarem sua representação institucional. O que há de ilegítimo nisso?
As posições de Tabata, como deputada, algumas vezes nos deixaram negativamente surpresos e podem ser criticadas, mas as ofensas a ela na matéria do 247, têm componente misógino e machista.
Pessoalmente não acho que ela seja a melhor opção política para a capital paulista, contudo, quem vai decidir é o paulistano, assim é a democracia, mas, acredito que, de fato, Tabata Amaral representa uma certa mudança e traz consigo a sensibilidade e a garra das mulheres.
Não se pode ignorar que Tabata é da Vila Missionária, da periferia da capital, filha de uma diarista e de um cobrador de ônibus, dona Maria Remilda e senhor Olionaldo; que ela iniciou os estudos na Escola Estadual Prof. João Ernesto de Souza Campos e, no 6º ano, ingressou na Escola Estadual Prof. Isaltino de Melo, pela qual participou pela primeira vez da Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (OBMEP) em 2005, ela tinha 11 anos, e foi medalhista de prata na competição; que por conta do bom desempenho escolar, obteve uma bolsa de estudos no Colégio ETAPA; que em 2006, foi medalhista de ouro na OBMEP e nos anos seguintes representou o Brasil em olimpíadas internacionais de química, astronomia e astrofísica; que em 2012 foi aprovada em seis prestigiosas universidades estadunidenses, sendo ofertada bolsa integral para todas: Harvard, Yale, Columbia, Princeton, Pensilvania, Caltech, além de ter sido aprovada no vestibular da USP, a melhor universidade do Brasil.
Sua história demonstra que o povo brasileiro é muito melhor do que a elite nacional e que, cada um dos nossos jovens periféricos, tendo alguma oportunidade, pode conquistar o mundo.
Os comentários que me inquietaram não são da direção do PT, mas provavelmente de militantes petistas que esquecem que o PT detém a hegemonia da esquerda, mas que precisa conviver com avanços de outras siglas e que o PT ainda é o partido social-democrata mais importante do Brasil e do mundo e tem Lula, contudo, os tempos e movimentos políticos do Brasil exigem que a sua militância seja democrática e educada e que se articule com todas as siglas do campo progressista, além de respeitar as aspirações de cada uma delas.
Talvez hoje Boulos seja de fato a melhor representação política e ideológica do nosso campo no estado de São Paulo, mas será ele o quadro com mais chances de vencer as eleições na capital paulista, que em 2022 deu a vitória a Lula-Alckmin e a Haddad-Lucia França, considerando que Alckmin e Haddad estão à direita e Boulos?
Fica a questão.
Pedro Benedito Maciel Neto, 59, advogado e pontepretano, sócio da www.macielneto.adv.br – pedromaciel@macielneto.adv.br
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