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Domingo à tarde a avenida Paulista assistiu a fundação da República Neopentecostal e Carismática do Brasil. Não fosse a vitória da Ponte contra o Corinthians à noite - o que nos encheu de alegria -, o domingo teria sido apenas um “show de horrores”, expressão que o grande radialista Carlos Batista usa para referir-se a situações trágicas, constrangedoras e patéticas.

A fundação da tal república teocrática ocorreu no exitoso ato convocado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro e, em tese, patrocinado pelo dízimo dos fiéis da Igreja Assembleia de Deus Vitória em Cristo, e tem como apoiadores ocultos o liberalismo. mercado financeiro e interesses diversos do Império.

O ato - que marcou a saída de cena dos militares, pelo menos por enquanto, agora substituídos pelo fanatismo neopentecostal -, representa a falência da política, o fim da possibilidade do debate cidadão, nega a necessidade da divergência e da pluralidade construtivas e proclama como “coisa de comunista” o movimento permanente da sociedade em direção a um futuro que se pretende justo e igual, fraterno e democrático; qualquer ponto de vista divergente do apresentado pelos oradores do ato é “coisa do demônio”, coisa de comunista esquerdalha, petralha e corrupto”, eles sentem-se autorizados a dizer essas barbaridades pois acreditam que são os escolhidos, homens e mulheres de Deus.

Mas não foram apenas os crentes que estavam histéricos, os chamados católicos fundamentalistas estavam presentes; católicos ultraconservadores que se opõem ao Concílio Vaticano II, creem que a cátedra de Pedro está vazia desde Pio XII, o último dos papas antes do Concílio, e que Francisco é um comunista ou um satanista.

Voltemos ao ato. Quando Michele Bolsonaro afirmou que “abençoada é a nação cujo rei é Deus”, ela está a dizer que quem deve governar são as igrejas e não a sociedade e que a democracia é desnecessária; ela afirmou ainda que a verdade da igreja evangélica é inquestionável, que igreja e política devem andar juntas, sendo que a política está subordinada à igreja e seus valores.

Além de Bolsonaro, foram oradores apenas os crentes: (i) Michele Bolsonaro, da Igreja Batista Atitude – que usou o microfone por mais tempo, numa espécie de pregação religiosa a fiéis -; (ii) o senador Magno Malta, que apresentou-se aparentemente embriagado e também é neopentecostal, mas não sei de que igreja – ; (iii) o deputado federal Nikolas Ferreira, da Igreja Batista da Lagoinha, um fanático caçador de likes e seguidores nas redes sociais, várias vezes condenado por transfobia; (iv) o pastor Malafaia da já citada Assembleia de Deus Vitória em Cristo; e, por fim o governador Tarcísio de Freitas, que entregou a área social e da mulher, durante a transição, para as lideranças evangélicas.

Estou a chamar a atenção para fato que me parece evidente: o neopentecostalismo vai apropriar-se do Estado e o fará em breve, pois eles vêm trabalhando seu projeto de poder faz quase meio século; em 1970 o Brasil tinha pouco mais de 5 milhões de “crentes”, como eram conhecidos os protestantes, contra mais de 90 milhões de católicos; hoje há no Brasil cerca de 30 milhões de crentes, contra 50 milhões de católicos e, segundo o IBGE, o Brasil terá mais crentes do que católicos a partir de 2030.

Não tenho competência ou cultura teológica para escrever sobre os “por quês” do aumento dos crentes, mas a lógica do “nós contra eles”, o “bem contra o mal”, do “sagrado contra o mal” dos crentes e dos conservadores católicos, vocalizada por Bolsonaro, substitui a teoria do “inimigo interno” e dá energia aos fanáticos, lunáticos, ignorantes e aos velhacos.Mercadores da fé, como Malafaia e Malta, usam o medo, a mentira e a fé, a “Teologia da Prosperidade” e a “Teologia da Dominação” para cooptar fiéis e concretizar um projeto de poder, tendo como vassalos os opositores do Concilio Vaticano II. Essas duas teologias são na realidade ideologias, que transmutadas em religião ditam o comportamento e as relações sociais, e são condicionadas por uma vida mediada pela mercadoria (o neopentecostalismo é perfeito para o sucesso do neoliberalismo, pois valoriza o sucesso material do indivíduo e não a fraternidade).

Caro leitor, sejamos cordatos, quando a religião ganha muita influência, como ocorre no Brasil com as igrejas evangélicas (apoiadas pelos católicos ultraconservadores), são manipuláveis os comportamentos e pode-se chegar à barbárie com nomes santos como: “guerra santa” ou “santa inquisição”; quando religião se vincula à política, o país se torna completamente vulnerável aos interesses de grupos, pois a democracia passa a ser condicionada ao que é ditado pelos líderes religiosos e seus interesses.

O medo, a moralidade e a promessa de prosperidade, são as principais ferramentas de dominação e cooptação de fieis, bem como para ocupar estruturas de poder, controlar corpos, condutas, vidas e, principalmente, a sexualidade; a fé manipulada, o esgarçamento das instituições e desencantamento com a democracia liberal são terreno fértil no qual surjam bolsonaros, que se apresentam como uma figuras messiânicas, uma espécie de “salvador da pátria”, que tem soluções simples para questões complexas, homens “de família”, religiosos, que falam a linguagem do povo, articulam ideias fáceis e simples que o senso comum anseia.

Compreender o caráter e a estrutura interna dessas concepções do contexto político e social atual através de uma ótica que relaciona a religião evangélica com a ascensão da extrema direita no Brasil, é fundamental para compreender o que está além da imagem, além da linguagem, além das narrativas.

Ou nós democratas voltamos a fazer política de verdade, ou em 2026, com ou sem Lula, a extrema-direita neopentecostal e carismática terá maioria em todas as câmaras de vereadores, assembleias legislativas, congresso nacional, prefeituras, governos estaduais e Lula sozinho não dará conta de resolver a tragédia.

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República neopentecostal e carismática do Brasil

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29.02.2024

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Domingo à tarde a avenida Paulista assistiu a fundação da República Neopentecostal e Carismática do Brasil. Não fosse a vitória da Ponte contra o Corinthians à noite - o que nos encheu de alegria -, o domingo teria sido apenas um “show de horrores”, expressão que o grande radialista Carlos Batista usa para referir-se a situações trágicas, constrangedoras e patéticas.

A fundação da tal república teocrática ocorreu no exitoso ato convocado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro e, em tese, patrocinado pelo dízimo dos fiéis da Igreja Assembleia de Deus Vitória em Cristo, e tem como apoiadores ocultos o liberalismo. mercado financeiro e interesses diversos do Império.

O ato - que marcou a saída de cena dos militares, pelo menos por enquanto, agora substituídos pelo fanatismo neopentecostal -, representa a falência da política, o fim da possibilidade do debate cidadão, nega a necessidade da divergência e da pluralidade construtivas e proclama como “coisa de comunista” o movimento permanente da sociedade em direção a um futuro que se pretende justo e igual, fraterno e democrático; qualquer ponto de vista divergente do apresentado pelos oradores do ato é “coisa do demônio”, coisa de comunista esquerdalha, petralha e corrupto”, eles sentem-se autorizados a dizer essas barbaridades pois acreditam que são os escolhidos, homens e mulheres de Deus.

Mas não foram apenas os crentes que estavam histéricos, os chamados católicos fundamentalistas estavam presentes; católicos........

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