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“Governo não é trincheira ideológica; os governos devem zelar por todos os cidadãos, através das suas políticas públicas, quem deve fazer o debate e o embate ideológico são os partidos, é a sociedade” - Jacó Bittar

O professor de filosofia da Universidade de São Paulo Vladimir Safatle diz que a esquerda brasileira se tornou uma "constelação de progressismos". Para ele, a esquerda teria perdido a ambição de transformar a estrutura da sociedade nos dois pontos fundamentais desse espectro político: igualdade e soberania popular e que a vitória de Lula foi só um respiro, enquanto a extrema direita continua forte; a vitória em 2022 apenas esconde as dificuldades do nosso campo em encaminhar soluções para os desafios atuais. Ele disse também que “A esquerda brasileira morreu como esquerda" e que o existe agora é o que ele chama de "progressismo”, que seria incapaz de afirmar o que é fundamental para a esquerda: as ideias de igualdade radical e de soberania popular.

Concordo em quase tudo que ele falou, pois, a extrema direita é hoje a única força política real do país, porque é a força que tem capacidade de ruptura, tem estrutura e coesão ideológica, mas podemos voltar ao jogo se voltarmos a militar de verdade.

Tenho escrito mais ou menos isso faz muito tempo, em vários artigos e em vários contextos.

Acredito que a esquerda, pelo menos no Brasil, está quase perdendo o “bonde da história”, pois trocou a militância genuína por um exagerado institucionalismo; é um erro achar que governos municipais, estaduais ou o governo federal não espaços de luta política e ideológica. Aprendi com Jacó Bittar, no início dos anos 1990, que: “Governo não é trincheira ideológica; os governos devem zelar por todos os cidadãos, através das suas políticas públicas, quem deve fazer o debate e o embate ideológico são os partidos, é a sociedade”, pois, quem coloca o progresso social e político em marcha é a sociedade, são os partidos, é cada um de nós na nossa militância diária. Em quarenta e quatro anos de militância em partidos de esquerda conheci poucas pessoas como Jacó Bittar - cheio de defeitos, manias e erros, como todos nós -, um militante, um líder genial e capaz de formular e sintetizar questões complexas; acho que ele concordaria com o conceito de “progressismo” e nos convocaria para assumir nosso papel militante, afinal é o que somos: militantes de esquerda, militantes do progresso social e econômico, dos valores da justiça social, da igualdade, da fraternidade e da liberdade; defensores do Estado laico; da tributação justa e indutora do setor produtivo e da distribuição de renda; defensores de uma ruptura estrutural com vistas a construção de sua sociedade solidária.Enquanto passamos quase vinte anos em “berço expendido” de excessiva institucionalidade e abandono da militância pela esquerda, enquanto deixávamos tudo “para o governo” fazer (e quando criticávamos éramos colocados em praça pública como pecadores malditos):

(a) a direita se organizou;

(b) deu um golpe em 2016 (dizíamos com soberba “não vai ter golpe!”; teve golpe); (c) processou e prendeu Lula (Kalil, um ex-amigo meu, dizia com arrogância: “Celso Amorin está conversando com Washington, Lula não será preso”; Lula foi preso); (d) gritamos: “Fora Temer!”, mas ele governou e a passou a faixa presidencial a Bolsonaro; (e) gritamos nas redes sociais (porque as ruas não são efetivamente visitadas por nós faz tempo): “Ele não!”, mas ‘ele’ venceu as eleições em 2018;

(f) apresentamos 158 inúteis pedidos de impeachment contra Bolsonaro, mas ele governou até fugir para a Disney World;

E por que isso aconteceu?

Lula não é eterno e a esquerda segue desunida (nossos deputados e senadores estão tão preocupados quanto a direita em lacrar para as suas bolhas) e sem alternativa à sua liderança; muitos dos nossos “líderes” são apenas mais cultos que Valdemar da Costa Neto, mas, como ele, priorizam as próximas eleições (o que é uma tarefa, mas não é a única, nem a mais importante).

Podemos “culpar” as marchas de junho de 2013, a Lava Jato, Aécio, Cunha, Temer, Moro, os interesses das Big Oil e o liberalismo, mas foi a nossa militância que nos levou à vitória em 2002 e, a meu juízo, foi a falta dele que criou as condições para a instalação da extrema-direita.

Por isso, ou PSOL, PT, PSB, PcdoB, PDT, REDE, PV e os democratas autênticos do MDB, PSDB, PSD, dos sindicatos, das federações diversas de empregados e empresas, voltam a fazer política, voltam a militar e encontram um campo de atuação consensual, ou em 2030 a extrema direita vencerá as eleições e terá, como já escrevi aqui no 247, além da Presidência da República, a maioria em todas as câmaras de vereadores, assembleias legislativas, Congresso Nacional, prefeituras e governos de estados, pois Lula não pode fazer tudo sozinho.

Essas são as reflexões.

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Não cabe ao governo fazer o embate político, cabe a nós

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02.03.2024

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“Governo não é trincheira ideológica; os governos devem zelar por todos os cidadãos, através das suas políticas públicas, quem deve fazer o debate e o embate ideológico são os partidos, é a sociedade” - Jacó Bittar

O professor de filosofia da Universidade de São Paulo Vladimir Safatle diz que a esquerda brasileira se tornou uma "constelação de progressismos". Para ele, a esquerda teria perdido a ambição de transformar a estrutura da sociedade nos dois pontos fundamentais desse espectro político: igualdade e soberania popular e que a vitória de Lula foi só um respiro, enquanto a extrema direita continua forte; a vitória em 2022 apenas esconde as dificuldades do nosso campo em encaminhar soluções para os desafios atuais. Ele disse também que “A esquerda brasileira morreu como esquerda" e que o existe agora é o que ele chama de "progressismo”, que seria incapaz de afirmar o que é fundamental para a esquerda: as ideias de igualdade radical e de soberania popular.

Concordo em quase tudo que ele falou, pois, a extrema direita é hoje a única força política real do país, porque é a força que tem capacidade de ruptura, tem estrutura e coesão ideológica, mas podemos voltar ao jogo se voltarmos a militar........

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