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Visitei o Centro de Ciências, Letras e Artes e o Dr. Alcides Ladislau Acosta, seu presidente, que vem fazendo um trabalho excepcional à frente da entidade; todos deveriam visitar o CCLA.

O CCLA, que fica ali na rua Bernadino de Campos, entre a rua Regente Feijó e a avenida Francisco Glicério é, creio, a mais antiga entidade cultural da cidade, fundada em 31 de outubro de 1901 por um grupo de cientistas, artistas e intelectuais que decidiram criar uma instituição em que pudessem se reunir para o estudo e a produção de atividades científicas e artísticas. Tenho especial carinho pelo CCLA, pois, dentre os grandes que o presidiram está meu tio Francisco Isolino de Siqueira, irmão de minha mãe.

Convidei um amigo para me acompanhar. Saímos do escritório e escolhi o seguinte caminho: depois de passar em frente ao Bar Voga, viramos à esquerda e na Thomaz Alves (avistamos o Largo das Andorinhas; quando eu era criança havia ali um espelho d’agua e o monumento das Andorinhas do Lelio Coluccini, foi ali que o meu primo Walter Giraldi mergulhou, involuntariamente); dobramos à esquerda na Francisco Glicério, novamente à esquerda na General Osório e, por fim, à esquerda (sempre à esquerda) na Barão de Jaguara.

Estacionamos na “rua Barão” e fomos ao “Regina” tomar um cafezinho; depois do curricular cafezinho, de contar algumas histórias pela enésima vez e de lembrar, com saudade, das finadas Padaria Orly e Livraria Papirus, seguimos para o CCLA.

Passear de carro ou a pé no centro da cidade revela um elevado nível de degradação da área, apesar dos esforços da administração municipal.

Nasci em Campinas, morei na Francisco Glicério, estudei no Carlos Gomes, participei de um sem-número de eventos no Largo do Rosário e no Largo da Catedral, caminhava pela 13 de maio, por isso, a degradação do centro é de cortar o coração; penso que, depois que o Fórum mudou de lugar e de nome (agora atende pela alcunha de “Cidade Judiciária”) a degradação tornou-se mais rápida e visível, apesar dos esforços da administração municipal, por essa razão o tema que trago à reflexão é a urgência da revitalização do centro da cidade e coloco o CCLA como vetor fundamental.

O que fazer?

A degradação de áreas urbanas centrais não é “privilégio” de Campinas, é um fenômeno comum em cidades grandes e médias. As áreas centrais são substituídas por outras regiões da cidade, que assumiram a função de centro de atração de investimentos e de consumo; como elas perdem a sua importância e aumenta o desinteresse do investidor privado.

A degradação do centro de Campinas impede às novas gerações a construção de memórias afetivas, levando-se em conta que o centro da cidade possui importância simbólica, lá está grande parcela do patrimônio histórico, artístico e arquitetônico da cidade.

O que é Campinas sem identidade e memória?

Intervenções são necessárias, tanto ações de embelezamento, assim como projetos de renovação urbana, desde que não alterem a nossa identidade, a tarefa é preservar a memória e a história, além de valorizar a cidadania; tais intervenções precisar humanizar os espaços coletivos, valorizar os marcos simbólicos e históricos existentes, incrementar o uso dos espaços para o lazer; implantar habitações de interesse social; considerar aspectos ecológicos e, evidentemente, fazer a comunidade participar da concepção e implantação de uma nova realidade.

Sem a participação dos interessados na solução a cidade seguirá refém da lógica “segurança pública” e da criminalização das pessoas que, por inúmeras razões vivem em situação de rua.

O governo municipal, sob as batutas do prefeito Dário e do vice Wanderley de Almeida, tem um projeto ambicioso, mas “vamos precisar de todo mundo” para dar efetividade a ele.

Feito o registro da urgência da revitalização e agora volto ao CCLA.

No CCLA conversamos longamente com o Dr Alcides. Fazia tempo que eu não encontrava alguém tão educado e cuidadoso com as palavras, mas registro: toda sua polidez não conseguiu ocultar o entusiasmo e compromisso com a cultura. Ele nos lembrou que o CCLA está localizado a menos de cinquenta passos do local onde nasceu Carlos Gomes, na Regente Feijó, e a poucos metros do monumento-túmulo do maestro; que o centro possui uma biblioteca de 150.000 volumes, Pinacoteca e dois museus, dedicados ao Maestro Carlos Gomes e a Campos Sales, além de uma galeria de arte, Sala de Leitura, Vitrine Cultural e Auditório para 220 pessoas.

O CCLA é guardião de parte significativa da história da nossa cidade, por isso é, em si, um patrimônio cultural de valor incalculável, e capaz de ser vetor fundamental para a revitalização do centro da cidade.

Para se ter uma ideia da importância histórica do CCLA, o futurista Lasar Segall, nascido na Lituània, fez sua primeira exposição futurista fora de da capital de São Paulo, aqui em Campinas, no CCLA em 1913; as atividades do centro de ciências sempre foram referência, tanto que no aniversário dos seus sessenta anos ocorreram palestras num evento denominado “Panorama da Cultura no Brasil” e, vejam, participaram nomes como Antônio Cândido, Júlio de Mesquita Filho, Florestan Fernandes e Pietro Maria Bardi.

Será que sem a revitalização do centro Campinas poderá receber no centro da cidade personalidades como Lasar Segall e Florestan Fernandes novamente?

Enfim, todos que vivem em Campinas deveriam conhecer, participar e associar-se ao CCLA, bem como envolver-se com a revitalização do centro da cidade.

Essas são as reflexões.

e.t. se alguém me perguntasse qual foi a mais nefasta intervenção que uma administração municipal fez no centro da cidade eu diria: foi transformar a linda praça do Viaduto Miguel Vicente Cury em terminal de ônibus; a meu juízo a degradação começou com essa ação do poder público.

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Este artigo não representa a opinião do Brasil 247 e é de responsabilidade do colunista.

QOSHE - Lasar Segall e Florestan no centro de Centro de Ciências e Artes - Pedro Benedito Maciel Neto
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Lasar Segall e Florestan no centro de Centro de Ciências e Artes

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12.01.2024

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Visitei o Centro de Ciências, Letras e Artes e o Dr. Alcides Ladislau Acosta, seu presidente, que vem fazendo um trabalho excepcional à frente da entidade; todos deveriam visitar o CCLA.

O CCLA, que fica ali na rua Bernadino de Campos, entre a rua Regente Feijó e a avenida Francisco Glicério é, creio, a mais antiga entidade cultural da cidade, fundada em 31 de outubro de 1901 por um grupo de cientistas, artistas e intelectuais que decidiram criar uma instituição em que pudessem se reunir para o estudo e a produção de atividades científicas e artísticas. Tenho especial carinho pelo CCLA, pois, dentre os grandes que o presidiram está meu tio Francisco Isolino de Siqueira, irmão de minha mãe.

Convidei um amigo para me acompanhar. Saímos do escritório e escolhi o seguinte caminho: depois de passar em frente ao Bar Voga, viramos à esquerda e na Thomaz Alves (avistamos o Largo das Andorinhas; quando eu era criança havia ali um espelho d’agua e o monumento das Andorinhas do Lelio Coluccini, foi ali que o meu primo Walter Giraldi mergulhou, involuntariamente); dobramos à esquerda na Francisco Glicério, novamente à esquerda na General Osório e, por fim, à esquerda (sempre à esquerda) na Barão de Jaguara.

Estacionamos na “rua Barão” e fomos ao “Regina” tomar um cafezinho; depois do curricular cafezinho, de contar algumas histórias pela enésima vez e de lembrar, com saudade, das finadas Padaria Orly e Livraria Papirus, seguimos........

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