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Quando cheguei à faculdade de Direito em 1982, o companheiro Eduardo Surian Matias e eu éramos os dois únicos militantes do Partido dos Trabalhadores, a partir do ano seguinte outros se apresentaram ao movimento estudantil.

Convivíamos com os militantes do PcdoB Ana Angélica Marinho, José Antônio Lemos, Caio Carneiro Campos, Miguel Valente Neto e outros tantos, o PcdoB era forte e organizado; personalidades como Aldo Rebelo e Sergio Benassi estavam sempre no Pateo dos Leões na PUCC central; haviam os democratas de esquerda como Nilson Roberto Lucilio, o meu querido amigo João Antônio Faccioli, Claudio Pedrassi, hoje desembargador do Tribunal de Justiça de São Paulo; os democratas de centro do PMDB também estavam por lá; todo esse pessoal, tendo o Caio como candidato a presidente do Diretório Acadêmico, uniu-se e venceu eleições para entidade naquele ano.

Me penitencio por não citar todos os nomes, mas, creiam, esse grupo de meninos e meninas ao lado de outros democratas, retirou a faculdade e depois a universidade, da lógica obsoleta, antiquada, conservadora, embolorada e completamente desconectada daquilo que o país vivia: o fim da ditadura e os novos aromas que a brisa alentadora da democracia trazia.

Aquele 1982 foi, para mim - um menino de dezoito anos, periférico, que trabalhava durante o dia e frequentava a faculdade à noite -, um ano mágico: as eleições para governador, prefeito, vereadores, deputados e senadores movimentou nossa militância, nossos corações e reforçou a certeza de que a nossa militância tinha de fato enorme significado e poderia mudar o mundo (a única nota negativa foi a derrota da seleção brasileira de futebol na Espanha, nem a derrota do Lula e do Jacó doeu tanto).

Dentre os vários encontros e congressos, sejam acadêmicos ou ligados ao movimento estudantil, o congresso da UNE em Piracicaba foi transformador, mesmo tendo a Libelu sido derrotada pelo PcdoB que elegeu a baiana Clara Araújo, a primeira presidente mulher da entidade. Naquele ano me aproximei da Liberdade e Luta, a Libelu (vendi muito jornal “O Trabalho”).

A Libelu, uma tendência do movimento estudantil, ligada ao trotskismo e à Organização Socialista Internacionalista, foi a primeira tendência política a defender a palavra de ordem "Abaixo a Ditadura" publicamente; participou ativamente da reconstrução da UNE, da UBES (ainda secundarista eu estive no congresso que trouxe a UBES de volta em 1981 em Curitiba; foi o Gualter, professor de física, que pagou a passagem de ônibus até lá).

A Libelu abrigava quadros espetaculares e que tornaram-se personalidades nacionais, posso citar os que conheci pessoalmente: Luiz Gushiken; Marcos Sokol, de quem Jacó Bittar sempre fala com enorme respeito; Antônio Palocci (que tornou-se um canalha “batizado”); Zé Américo; Cleusa Turra; Paulo Moreira Leite; Caio Tulio Costa; Matinas Suzuki; Mario Sergio Conti; Reinaldo Azevedo; Josimar Melo, em quem votei para deputado em 1982; José Arbex; Glauco Arbex; Celso Marcondes, que era o nosso líder em Campinas, ele foi vereador na cidade e diretor de África no Instituto Lula e, pasmem Demétrio Magnoli.

Sim, Demétrio Magnoli, o mesmo que ontem ouvi criticando duramente o programa de reindustrialização (“Nova Indústria Brasil”) apresentado por Lula e Alckmin, uma tristeza. Ele, antigo companheiro petista e da Libelu, tornou-se porta-voz do mercado financeiro, apenas mais um detrito com titulação acadêmica respeitável.Enquanto a CNI - Confederação Nacional da Indústria – comemora a “Nova Indústria Brasil” e a destaca como um passo positivo em direção à reindustrialização do país, a “faria lima” e seus vassalos, dentre ele o Demétrio, a criticam.

O programa federal destinará 300 bilhões de reais para financiamentos até 2026, com R$ 194 bilhões adicionais redirecionados para dar suporte às prioridades da Nova Indústria Brasil, tudo alinhado com o Plano de Retomada da Indústria proposto pela CNI no ano passado, que leva em conta áreas como agroindústria, saúde, infraestrutura, transformação digital, bioeconomia, e tecnologias de interesse nacional.

Ouvir opiniões como a do ex-companheiro Demétrio Magnoli indignante, pois ele não é ignorante ou desinformado, trata-se de mau-caratismo em estado puro; ele sabe que sem o cumprimento do disposto no artigo 174 da constituição da república não há desenvolvimento, foi assim em toda história do país e no mundo, desde as grandes navegações.

Demétrio sabe que a industrialização do Brasil é considerada um processo tardio, uma vez que teve início um século depois do surgimento das primeiras indústrias na Europa. As primeiras manufaturas foram abertas no território nacional durante o século XIX, mas foi somente a partir da década de 1930 que o processo ganhou força, graças aos investimentos do Estado e da participação do capital privado nacional e internacional.

Gostaria de perguntar ao Demétrio: não sobrou nada daquele “garoto que ia salvar o mundo”?

Essas são as reflexões.

Pedro Benedito Maciel Neto, advogado, 60 anos, sócio da www.macielneto.adv.brpedromaciel@macielneto.adv.br

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Demétrio, não sobrou nada daquele “garoto que ia salvar o mundo”?

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23.01.2024

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Quando cheguei à faculdade de Direito em 1982, o companheiro Eduardo Surian Matias e eu éramos os dois únicos militantes do Partido dos Trabalhadores, a partir do ano seguinte outros se apresentaram ao movimento estudantil.

Convivíamos com os militantes do PcdoB Ana Angélica Marinho, José Antônio Lemos, Caio Carneiro Campos, Miguel Valente Neto e outros tantos, o PcdoB era forte e organizado; personalidades como Aldo Rebelo e Sergio Benassi estavam sempre no Pateo dos Leões na PUCC central; haviam os democratas de esquerda como Nilson Roberto Lucilio, o meu querido amigo João Antônio Faccioli, Claudio Pedrassi, hoje desembargador do Tribunal de Justiça de São Paulo; os democratas de centro do PMDB também estavam por lá; todo esse pessoal, tendo o Caio como candidato a presidente do Diretório Acadêmico, uniu-se e venceu eleições para entidade naquele ano.

Me penitencio por não citar todos os nomes, mas, creiam, esse grupo de meninos e meninas ao lado de outros democratas, retirou a faculdade e depois a universidade, da lógica obsoleta, antiquada, conservadora, embolorada e completamente desconectada daquilo que o país vivia: o fim da ditadura e os novos aromas que a brisa alentadora da democracia trazia.

Aquele 1982 foi, para mim - um menino de dezoito anos, periférico, que........

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