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Papai Noel preto, uma crônica natalina

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yesterday

seo gerson beijou a esposa e a filha pequena, meteu uma nota amassada de dez pratas no bolso, fez o sinal da cruz e foi esperar o ônibus.

saltou do buzão e entrou no shopping.

oito da matina, só funcionários entrando. gerson já se sentia um deles, embora temporário.

falou com o segurança e ele apontou a sala. seo gerson entrou, deu bom dia e recebeu bom dia em troca.

o homem leu em voz alta o que vinha na folha A4: gerson de veras, 56 anos, pintor, eletricista…

“seo gerson, acho que há um engano aqui. a vaga é para papai noel”.

“sim, é isso mesmo”, disse o homem, sorridente e um pouco excitado.

atrás do balcão, o gravata foi mais incisivo:

“seo gerson, vamos esclarecer as coisas, o senhor é negro, o senhor já viu papai noel negro?”

desempregado e precisando muito daquele bico, gerson não titubeou:

“acho que as crianças que vêm a esse shopping também nunca viram um papai noel negro, isso pode atrair mais crianças”.

o gravata não gostou da bravata de gerson.

“seo gerson, o que atrai ou deixa de atrair gente ao shopping é função do departamento de marketing. não é comigo e nem com o senhor. eu sinto muito”, disse o jovem de pele clara devolvendo o curriculum de gerson.

“e por que o papai noel não pode ser negro?”, quis saber o desempregado, sério e visivelmente contrariado.

o gravata bufou, meio sem interesse em seguir com aquela conversa, mas respondeu:

“seo gerson, em todas as ilustrações que o senhor olhar verá que o........

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