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Em outubro de 2016, o presidente da Assembleia Legislativa do Paraná, Ademar Traiano, abriu um encontro na sede do Legislativo para promover a campanha de Deltan Dallagnol batizada de "Dez Medidas contra a Corrupção".

Diante do então coordenador da Lava Jato, Deltan Dallagnol, e do então juiz Sergio Moro, Ademar fez um discurso contundente.

“O Brasil clama por mudanças que passem o país a limpo. A Assembleia vem tomando medidas para tornar a Casa mais transparente com medidas objetivas para que qualquer cidadão possa ser um fiscal do Legislativo”, destacou.

Neste fim de semana, a imprensa revelou que Ademar Traiano, na época presidente do PSDB do Paraná e também da Assembleia, recebeu propina para fechar contrato em nome do Legislativo, juntamente com o deputado Plauto Miró, na época filiado ao DEM.

E quem contou foi ele mesmo, num acordo com o Ministério Público do Estado do Paraná.

Segundo reportagem publicada no jornal Plural e também na Globo, Traiano confessou o crime e se comprometeu a devolver o valor, para não ser condenado.

O caso veio à tona depois que a confissão foi juntada pelos advogados do deputado Renato Freitas, do PT, num processo em que Traiano pede a cassação do colega parlamentar por ter sido chamado por ele de "corrupto". Renato Freitas recorre a um recurso juridicamente aceito, a exceção da verdade.

Isto é, Renato Freitas não caluniou nem difamou ou injuriou Traiano quando o chamou de corrupto, depois de ter seu direito de fala cassado pelo presidente da Assembleia, em setembro deste ano.

A revelação da confissão de Traiano é de interesse público, mas a juíza de plantão do Tribunal de Justiça do Paraná neste fim de semana, Giani Maria Moreschi, decidiu, numa ação movida por Traiano, censurar as reportagens do Plural e Globo, sob pena de pagamento de 50 mil reais de multa por dia.

"Por se tratar apenas de impossibilidade temporária de divulgação de informação contida em processo Judicial que tramita em segredo de Justiça, não há que se falar em censura ou violação à liberdade de imprensa, até porque referida informação foi divulgada ilicitamente e, inclusive, pelo que consta dos autos, está sendo, ou será, objeto de investigação, para fins de responsabilização", disse a juíza.

Os veículos retiraram as reportagens do ar, e devem recorrer. Segundo o que foi publicado, o contrato que gerou a propina de R$ 187 mil tinha o valor total de R$ 11,4 milhões.

No caso, o corruptor foi o empresário Vicente Malucelli, um dos responsáveis pela TV Icaraí, que pelo contrato passou a fazer o planejamento e produção de conteúdo para a TV Assembleia.

Apoiador da Lava Jato, Ademar Traiano já era suspeito de envolvimento em outros casos de corrupção, mas não há nesses casos, ainda, condenação ou confissão.

Por exemplo, o dono da Construtora Valor, Eduardo Lopes de Souza, afirmou em delação premiada firmada junto à Procuradoria Geral da República (PGR) que o deputado estadual Ademar Traiano foi beneficiado por dinheiro do esquema investigado pela Operação Quadro Negro, sobre desvios no governo de Beto Richa, no Paraná.

Em um dos pagamentos feitos ao político, o empresário relatou que Traiano, ao ver a mala com mais dinheiro do que tinha combinado de receber, teria reagido com a seguinte frase: “Não pode me dar mais?”

Traiano também foi investigado por um suposto esquema de rachadinha e contratação de funcionários fantasmas, que acabou sendo arquivado pelo Ministério Público do Paraná em fevereiro de 2023.

Em 2017, Ademar Traiano também foi mencionado em uma planilha da Odebrecht sob o apelido de “Praia”, de acordo com a qual ele teria recebido diretamente R$ 50 mil em caixa 2 em 2010. Apesar disso, a Lava Jato não abriu uma investigação sobre o atual presidente da Assembleia Legislativa

Numa denúncia apresentada em dezembro de 2019, o Ministério Público Federal apontou que o grupo Petrópolis (Itaipava) estava usando algumas de suas empresas para repassar dinheiro da empreiteira Odebrecht a vários políticos por meio de doações eleitorais fictícias. No total, foram registrados 321 pagamentos por parte deste grupo a políticos de vários estados, inclusive paranaenses. Um dos nomes mencionados era o de Ademar Traiano.

Certamente, Deltan Dallagnol e Sergio Moro não desconheciam essas informações, que constam dos arquivos da Lava Jato, quando, em novembro do ano passado, depois da eleição, se encontraram com Traiano na Assembleia Legislativa do Paraná. Não foi divulgado o que conversaram, mas o encontro, por si só, mostra a afinidade política entre eles.

Com a confissão de que recebeu propina, feita apenas para evitar a cadeia, Traiano entra na lista dos moralistas sem moral. Desfilava em público com cruzados do combate à corrupção, como Moro e Dallagnol – que, como se sabe, ficaram ricos depois da Lava Jato –, mas, em privado, recebia propina. Em um caso, como se viu, ele admite.

E Traiano continuará presidindo a Assembleia Legislativa do Paraná? E Renato Freitas, que mostrou o rei nu, será cassado?

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Traiano, que confessou receber propina, promovia as 10 medidas contra a corrupção com Dallagnol e Moro

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03.12.2023

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Em outubro de 2016, o presidente da Assembleia Legislativa do Paraná, Ademar Traiano, abriu um encontro na sede do Legislativo para promover a campanha de Deltan Dallagnol batizada de "Dez Medidas contra a Corrupção".

Diante do então coordenador da Lava Jato, Deltan Dallagnol, e do então juiz Sergio Moro, Ademar fez um discurso contundente.

“O Brasil clama por mudanças que passem o país a limpo. A Assembleia vem tomando medidas para tornar a Casa mais transparente com medidas objetivas para que qualquer cidadão possa ser um fiscal do Legislativo”, destacou.

Neste fim de semana, a imprensa revelou que Ademar Traiano, na época presidente do PSDB do Paraná e também da Assembleia, recebeu propina para fechar contrato em nome do Legislativo, juntamente com o deputado Plauto Miró, na época filiado ao DEM.

E quem contou foi ele mesmo, num acordo com o Ministério Público do Estado do Paraná.

Segundo reportagem publicada no jornal Plural e também na Globo, Traiano confessou o crime e se comprometeu a devolver o valor, para não ser condenado.

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